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"Dopesick". Ficção sobre um flagelo real em oito episódios

Este artigo tem mais de 2 anos

“Dopesick” (Disney+), ficcionaliza o papel da família Sackler na crise dos opioides nos EUA. Estivemos à conversa com o criador da série, Danny Strong, e com o ator Peter Saarsgard.

Michael Keaton é o protagonista de "Dopesick" e interpreta um médico que começa por prescrever OxyContin, para depois lutar contra a utilização do medicamento, o fabrico e a venda
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Michael Keaton é o protagonista de "Dopesick" e interpreta um médico que começa por prescrever OxyContin, para depois lutar contra a utilização do medicamento, o fabrico e a venda

Michael Keaton é o protagonista de "Dopesick" e interpreta um médico que começa por prescrever OxyContin, para depois lutar contra a utilização do medicamento, o fabrico e a venda

“As diversas dimensões temporais de ‘Dopesick” ajudam a perceber melhor o problema. Não é só uma história sobre os Sackler, mas também é muito sobre os Sackler.” Do outro lado do ecrã está Peter Sarsgaard, que interpreta Rick Mountcastle, uma das figuras do lado bom – coisa rara na carreira de Sarsgaard – da história de “Dopesick”, uma série criada por Danny Strong, que se estreou recentemente no Disney+. São oito episódios que acontecem em três linhas temporais diferentes, numa heroica tentativa de tornar claras as várias camadas da crise de opioides nos Estados Unidos.

Peter Sarsgaard é um entre muitos num ótimo elenco, que inclui Michael Keaton, Rosario Dawson, Michael Stuhlbarg, Will Poulter, Kaitlyn Dever ou Will Chase. Danny Strong, que também falou ao Observador, conta que “Andava à procura de algo explosivo. O John Goldwyn [produtor-executivo] veio ter comigo com esta ideia e eu comecei imediatamente a pesquisar. Fiquei horrorizado com os crimes da [farmacêutica] Purdue Pharma. Acreditei que se fizesse isto bem, poderia criar uma obra de entretenimento envolvente, com algo de importante para dizer. Agarrar neste projeto foi um home run para mim.”

Tal como pode ser visto no brilhante documentário deste ano “The Crime of the Century”, de Alex Gibney, não se pode contar a história da crise de opioides sem contar a da família Sackler, da Purdue Pharma e da criação do OxyContin, o medicamento para a dor, promovido (e vendido) durante anos com informação errada e com uma série de estratégias maquiavélicas que envolviam várias pessoas em diferentes níveis de um complexo processo. O que Danny Strong faz, de certa forma, é tornar ficção o documentário de Gibney, juntando pontos com personagens que tornam a perceção de todo os processos, e diferentes níveis de envolvimento, mais acessíveis.

[o trailer de “Dopesick”:]

Strong explica este súbito interessa na família Sackler graças a um artigo que saiu na New Yorker em 2017: “Desde que este artigo saiu que toda a gente tem mais interesse em saber mais sobre os Sackler. E eles andam muito mais presentes nas notícias. Já há cinco livros escritos sobre o assunto, foram feitos documentários, também, mas acredito que existirá mais gente interessada nesta história por causa de ‘Dopesick’. Juntámos um bom grupo de atores que irá ajudar esta história a ter mais impacto.”

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Vamos então a alguns níveis da história. De um lado há Richard Sackler (Michael Stuhlbarg), que surge em cena, recorrentemente, com planos maquiavélicos (tudo é inspirado na realidade) para a venda do seu produto. É difícil perceber o que o motiva, como Danny Strong diz: “Não pode ser só dinheiro, ele já era riquíssimo. Não consigo perceber o que o motiva, o que o puxa e o leva à criação de tantas mentiras para venderem o OxyContin.” Há também a equipa de delegados de propaganda médica (bem representados pela personagem de Will Poulter), que replicavam as mentiras sem necessariamente o saberem, motivados pelas promessas de bónus, que faziam chegar a informação aos médicos. Michael Keaton é o doutor de serviço em “Dopesick”, trabalha numa pequena comunidade, aceita o que lhe é dito, mas rapidamente começa a desconfiar. Este processo é gerado pela forma como a personagem de Kaitlyn Dever, uma jovem mineira que sofre um acidente, cria uma forte dependência de OxyContin.

Rosario Dawson e Peter Sarsgaard são dois dos atores que representam as autoridades e que, em diferentes linhas temporais, investigam, nas ruas e não só, o que o medicamento vendido pela Purdue Pharma está a causar. Os movimentos temporais em “Dopesick” são impercetíveis, contudo, a audiência sabe sempre onde se encontra a cada momento. Esta estratégia de Danny Strong é a grande ferramenta de “Dopesick”, pode ser visto como um facilitismo, ou como um truque para passar a mensagem: as diversas dimensões – temporais e não só – são uma oferta narrativa para quem vê, uma forma de aderir a uma história real entre o drama, o crime e o thriller, sem ceder ao cinzentismo de uma história real.

Peter Sarsgaard, Rosario Dawson e Kaitlyn Dever fazem parte do elenco de "Dopesick"

O OxyContin está bem presente na sociedade norte-americana, por isso o autor virou-se para outra mensagem, não tanto o problema em si, mas a respetiva origem: “Queria que o público entendesse os crimes, para isso teria de dramatizar as diversas investigações. Isso tinha de estar presente desde muito cedo na série, para se perceber que houve sempre algo de errado”, conta-nos Danny Strong. Peter Sarsgaard reforça a importância da mensagem criminal de “Dopesick”: “Para mim o maior – e inacreditável – problema está nos cientistas que foram contratados pela Purdue Pharma e deturparam informação. Fizeram isso de livre-vontade.”

Sarsgaard conhece de perto os problemas causados por OxyContin: “A primeira vez que me ofereceram OxyContin [longa pausa…] foi há uns quinze anos. Um colega meu, ator… sabes, as pessoas como eu, atores, têm muito tempo e muita ansiedade. São pessoas que têm coisas mal resolvidos, por isso é muito comum encontrares pessoas que tomam drogas, ou bebem demasiado, ou ambas. A primeira vez que soube da existência desta droga foi-me oferecida por um colega.”

Danny Strong absorveu bem a mensagem e soube passá-la para a ficção, desde a ingenuidade carregada por Will Poulter à surpresa de Rosario Dawson quando percebe o quão fácil é obter uma prescrição do medicamento. Talvez o maior pecado de “Dopesick” seja essa extrema vontade, quase utilitária, de passar várias mensagens (inclusive falar da problemática do vício), enquanto expõe, com base numa intensa investigação, os comportamentos e ideias de Richard Sackler. Mas isso nem é bem um problema, é só muita ambição para uma série de oito episódios.

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