Marta Temido, cabeça de lista do Partido Socialista às eleições Europeias, afirmou que não abandonará o Parlamento Europeu para uma eventual vida autárquica, nomeadamente para uma possível candidatura à presidência da Câmara de Lisboa nas próximas eleições.

Questionada, durante uma entrevista à CNN Portugal, acerca das declarações que fez ao Expresso em outubro do ano passado, em que admitia que gostava de ser autarca, a também ex-ministra da Saúde mostrou não admitir deixar o cargo de eurodeputada pela liderança de uma autarquia: “Isso não acontecerá (…) O meu compromisso, agora, é com este projeto [europeu].”

De seguida, confrontada diretamente sobre se rejeita a hipótese de ser autarca, de Lisboa ou outra autarquia, no futuro próximo, reforçou que sim, “com toda a tranquilidade”. Quanto ao desafio deixado por Sebastião Bugalho, cabeça de lista da Aliança Democrática, para que os candidatos deixassem claro que vão cumprir o mandato até ao fim, Temido respondeu da seguinte forma: “Tanto quanto aquilo que são os imponderáveis da vida e estou a referir-me, obviamente, a circunstâncias que não controlamos, de vida e de morte, me permitem dizer que sim, obviamente que sim”.

Por outro lado, Marta Temido rejeitou que seja uma “falta de respeito pelos eleitores” a pretensão de partir para uma aventura política na Europa poucos meses depois de ter sido eleita deputada da Assembleia da República. “Aquilo que vamos defender é o mesmo, apenas noutro local (…) se mudássemos o que vamos defender seria uma traição. Não será o caso”, defendeu, referindo-se a si e a Francisco Assis, que assumiria o cargo de Presidente da Assembleia da República na segunda metade da legislatura.

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A cabeça de lista do PS às Europeias garantiu que vai lutar por uma vitória, durante a campanha eleitoral e no dia 9 de junho, mas não só. “Vamos bater-nos por todos os meios para que tenhamos uma vitória, mas para que as forças democráticas consigam arredar o mais possível aquilo que, na nossa perspetiva, são respostas que não representam a democracia“, afirmou, ao ser questionada acerca de uma possível repetição dos resultadas das Legislativas, com destaque para o facto de o Chega ter reforçado a posição de terceira força política do país.

Serviço militar obrigatório “provavelmente não é o melhor caminho”

Após ter reconhecido que a guerra na Ucrânia é “um dos exemplos do muito que está em causa nas eleições para o Parlamento Europeu” e ter considerado que a posição de Moscovo “constitui uma ameaça” ao projeto de paz no espaço europeu, a ex-ministra da Saúde respondeu a questões acerca do regresso do serviço militar obrigatório, possibilidade que tem estado a gerar debate.

A candidata socialista às Europeias lembrou que “é evidente que quem estuda mais profundamente estes dossiês entende que poderá ser um caminho, mas provavelmente não é o melhor caminho”. “Sabemos, em várias áreas, que a obrigatoriedade, a imposição, não é necessariamente a melhor estratégia para garantir a adesão das pessoas”, notou.

Reiterando que existem “vários modelos” que podem ser debatidos, a antiga ministra da Saúde defendeu que “o da obrigatoriedade é provavelmente o menos aconselhável”. “Poderemos ter de recorrer a ele? Poderemos. Esperamos não ter de chegar a uma situação desse tipo? Esperamos”, apontou, antes de salientar que o serviço militar obrigatório é, para si, “a última opção”.

Quanto à atualidade política nacional, Marta Temido considerou que a ação criminal que o Chega vai avançar contra Marcelo Rebelo de Sousa por traição à pátria, após declarações em que sugeriu “reparações” aos países colonizados, “não tem pés nem cabeça”. 

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Temido diz que não falou com Lacerda Sales durante processo de ajuda às gémeas luso-brasileiras

Durante a entrevista à CNN Portugal, Marta Temido falou também acerca do caso das gémeas luso-brasileiras com atrofia muscular espinal que receberam o Zolgensma, um dos medicamentos mais caros do mundo, em Portugal em 2020, quando ainda era ministra da Saúde. A antiga governante garantiu que, enquanto decorria o processo para receberem tratamento, não falou com Lacerda Sales, à época seu secretário de Estado.

“Não, nunca houve essa conversa, porque o caso não era tema”, afirmou a ex-ministra da Saúde que adiantou — sem dar mais detalhes — que, entretanto, a conversa já aconteceu. Marta Temido considerou que “evidentemente” o caso das gémeas luso-brasileiras não está bem explicado e, por isso, “prossegue, tanto quanto sabemos, por aquilo que são as notícias”, em sede judicial.

Questionada sobre se mantinha as declarações em que disse que na altura em que decorria o processo — que alegadamente terá sido “incorreto” e com possíveis favorecimentos — não sabia de nada, a ex-governante reiterou que não. “Não mantenho, é a verdade [que não sabia].”

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