Vamos ao extra futebol que mexe com o futebol, para depois seguirmos para o jogo entre Vizela e FC Porto, a contar para os quartos de final da Taça de Portugal, com o possível vencedor a estar destinado ao Sporting nas meias finais da prova rainha do futebol português. Sim, Covid-19. Foi a sensivelmente a 24 horas do encontro frente aos dragões que se ficaram a conhecer mais dez casos positivos de Covid nos minhotos, depois dos dois anunciados antes da derrota frente ao Moreirense no último encontro da I Liga. Advinham estes resultados de uma ronda de autotestes, pelo que havia que esperar pelos resultados dos PCR, o que colocava algumas questões, talvez não na realização do jogo, mas na capacidade em que o Vizela se apresentaria.

Depois de muitas notícias já durante esta quarta-feira, e depois de logo na terça-feira o Vizela ter pedido formalmente o adiamento do encontro, o Vizela viria a informar que, mesmo com 16 jogadores indisponíveis, iria, claro, a jogo. E fê-lo em comunicado: “Tendo o FC Vizela número suficiente de jogadores disponíveis para cumprir os regulamentos, entre jogadores da equipa principal, sub-23 e sub-19, o jogo desta noite [hoje] vai realizar-se, ainda que com as limitações inerentes a todo este processo e às baixas acumuladas”.

Acrescentam, ainda os vizelenses que a sua SAD contactou “a autoridade de saúde local” na terça-feira e solicitou o tal adiamento, recusado pelo FC Porto ainda no mesmo dia, enquanto eram “aguardados os resultados dos testes PCR”. Explica ainda o clube que desses testes foram confirmados os resultados positivos anteriores e ainda mais 11 inconclusivos, que na manhã desta quarta-feira se tornariam em negativos. Foram enviados para isolamento “todos os positivos”, assim como os “coabitantes”, não sendo decretada outra medida de isolamento aos “restantes contactos”, diz ainda o clube. Com treino cancelado já na manhã do dia do jogo, Álvaro Pacheco, técnico da equipa, reuniu “os jogadores” com os quais poderia contar para o “estágio possível”. Para o clube, o importante era que este se apresentasse “com a alma e a ambição de sempre”.

“A nível regulamentar, o Vizela tem o número mínimo de jogadores para ir a jogo”

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Por falar em ambição de sempre, do outro lado estava uma dessas equipas: o FC Porto de Sérgio Conceição que vinha de uma grande reviravolta (de 0-2 para 3-2 em apenas 45 minutos) no terreno do Estoril, na passada jornada da I Liga. Conceição esperava, ainda antes de saber do que iria acontecer a nível de Covid-19 à equipa do Vizela, um jogo com “dificuldades” frente a uma “equipa positiva que está a fazer um campeonato razoável”.

“Espera-nos um jogo difícil, também pelo momento que estamos a viver, com vários jogadores lesionados”, frisou o timoneiro portista, que alertou para o facto de a Taça de Portugal ter sempre o seu quê de especial, o cheiro a surpresa, o “tudo pode acontecer”. “É um jogo a eliminar e tudo pode acontecer. Daí o meu alerta sobre o jogo de amanhã [quarta-feira]. Se tivermos ao nosso nível as coisas podem ir ao encontro do que queremos, que é a passagem à fase seguinte”, acrescentou, revelando que a equipa até ter trabalhado para um depois dos 90′.  “O Vizela tem alma e uma identidade muito própria, com adeptos apaixonados pelo clube. O nosso trabalho foi o de sempre, percebendo que a história vai ser diferente da do campeonato [vitória por 4-0]. Até preparámos os penáltis, porque podem acontecer. Estamos alertados e prova disso é o facto de termos trabalhado um possível prolongamento e penáltis. Respeito máximo pelo Vizela, mas queremos muito passar”, frisou o técnico, que pelo FC Porto chegou sempre, pelo menos, às meias-finais da Taça de Portugal.

A arrancar o jogo confirmaram-se várias coisas.

Primeiro, que Sérgio Conceição não facilita na Taça de Portugal, sendo que dos habituais titulares apenas trocou a baliza, tirando Diogo Costa e colocando Marchesín. Do lado do Vizela, as ausências confirmaram-se, até de jogadores muito importantes como Kiko Bondoso, Samu ou o Marcos Paulo. No banco, Álvaro Pacheco apenas tinha jogadores dos sub-23 e sub-19, com a defesa a quatro a ser composta por três defesas esquerdos. Era o possível, ia ter de dar.

E nos primeiros minutos até deu. Não houve autocarro, nem linhas defensivas a cinco, por exemplo. 4x3x3 a variar para 4x5x1, nada que surpreendesse nesta medida, com a equipa a tentar jogar subida, personalizada e como tinha referido até Sérgio Conceição, de forma “positiva”. Infelizmente para os vizelenses, logo aos 8′ o FC Porto fez golo. Canto da esquerda, Fábio Cardoso divide com Pedro Silva, a bola ainda vai a Evanilson mas sobra finalmente para Uribe, que de primeira e com uma bomba colocou a bola na baliza e abriu cedo o marcador.

Para uma equipa que até então não tinha colocado muita velocidade no jogo, 1-0 antes dos 10′ era ótimo. Para o Vizela, com os tais remendos, tendo em conta as opções habituais e não a possível qualidade dos jogadores, a coisa podia tornar-se mais complicada.

A questão é que os dragões, que até fizeram a dada altura uma bola pingar na trave contrária, não só viram Guzzo não fazer golo num lance parecido com o de Uribe, como viram mesmo Schettine ganhar no corpo a corpo a Mbemba aos 24′, passar a bola a Cassiano que bateu Fábio Cardoso e picou a bola à saída de Marchesín. Estava feito o empate e os centrais do FC Porto a ficarem menos bem na fotografia.

Do lado azul e branco, à semelhança do que tinha acontecido no último encontro, a equipa encontrou mais uma página de um livro que começou a ler no Estoril: adversário compacto no meio a tentar evitar que Vitinha pegasse no jogo ou Otávio fizesse movimentos interiores. Havia ainda outra surpresa, de certo modo, que era o facto de Luis Díaz estar pouco em jogo. Quando conseguiu estar, surgiram os melhores lances dos dragões. O intervalo acabaria por chegar seis minutos depois da hora, um período bem dado pelo árbitro João Pinheiro após uma primeira parte algo acidentada em termos de entrada das equipas médicas em campo. Por essa altura o FC Porto apertava o cerco, mas sem consequências práticas.

À semelhança do que tinha acontecido no Estoril, a velocidade do FC Porto no arranque da segunda parte foi completamente diferente. Completamente. Guzzo esteve novamente perto do golo após boa defesa de Marchesín (58′), é verdade, mas os dragões já tinham estado perto do golo por duas vezes, com Evanilson a acertar no poste aos 48′ e Fábio Vieira, dois minutos depois a rematar ao lado. Vieira foi, aliás, o grande dinamizador da equipa neste período, visto ter dado mais hipóteses à equipa de jogar entre linhas, espalhando o jogo por toda a zona atacante. Aos 64′, foi Zag que cortou um cruzamento de Fábio Vieira com o braço dentro da área e deu penálti. Chamado a converter, Fábio Vieira enganou Pedro Silva e fez o 1-2.

Aos 70′, Schettine, que assistiu para o golo de Cassiano, saiu lesionado, tal como havia saído também o próprio marcador do golo ao intervalo. Com isto, o Vizela, que nunca desarmou na vontade, perdia duas peças bastante valiosas para a sua manobra. Mesmo assim, Igor Julião apareceu em zona de golo pela direita da área, mas Marchesín negou. Atento o guarda-redes argentino na segunda parte e sem culpa no golo do Vizela no primeiro tempo…

Já mesmo em cima do final do encontro, aos 89′, o homem golo do FC Porto na Taça de Portugal, Evanilson, marcou de cabeça na sequência de um pontapé de canto e fez o 1-3. Estava resolvido de vez quem iria defrontar o Sporting nas meias-finais, através do brasileiro que já leva seis golos na competição. Já em modo gestão, houve um aumentar de vantagem, mas é já o segundo jogo em que o FC Porto não se mostra rápido na primeira parte. No Estoril a segunda parte deu vitória e esta quarta-feira também foi o pós-intervalo a decidir o encontro frente a um Vizela cuja exibição merece apenas ser realçada dado o contexto. Até porque vem aí o Sporting para o campeonato para a equipa de Álvaro Pacheco. E é o Sporting também que se segue ao FC Porto, mas nas meias-finais da Taça de Portugal. Escaldante o acesso ao Jamor, para a final mais desejada da época futebolística em Portugal.