O espetáculo intitulado “O Campo de Chão Bom”, focado na reabertura do Tarrafal e na história dos nacionalistas africanos ali encarcerados, estreia-se, em fevereiro, em Grândola (Setúbal), numa abordagem multidisciplinar sobre este campo de trabalho.

O texto, inspirado no livro “O Diabo foi meu Padeiro”, do escritor, músico e ex-ministro da Cultura de Cabo Verde Mário Lúcio, que vai ter uma participação especial na peça, conta a história dos nacionalistas africanos encarcerados no Campo do Tarrafal, na Ilha de Santiago, em Cabo Verde, por se oporem ao regime colonialista do ditadura do Estado Novo.

O espetáculo foca-se na segunda fase da história do Campo do Tarrafal, que voltou a abrir, em 1961, para “enclausurar nacionalistas africanos que lutavam pela independência” de Cabo Verde, explicou à agência Lusa a jornalista e autora da peça, Paula Torres de Carvalho.

“Quando o campo do Tarrafal reabriu, por ordem do ministro do Ultramar da altura, Adriano Moreira, para enclausurar os nacionalistas africanos, ficou com o nome de Campo de Trabalho de Chão Bom, que é uma localidade do norte da ilha de Santiago, em Cabo Verde”, referiu.

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Em palco, os vários géneros artísticos vão expressar “o sofrimento e a resistência dos presos africanos que se opuseram ao regime do Estado Novo e que foram deportados para o Tarrafal”, explicou, em comunicado, o município de Grândola.

“A narrativa deste espetáculo multidisciplinar, que reúne em palco vários géneros artísticos, desde a música ao vivo, à dança, teatro, poesia, artes circenses e vídeo, regista memórias da época anterior, entre 1936 e 1962, quando ali estiveram detidos antifascistas portugueses”, sublinhou a autarquia.

O elenco é composto por um “grupo intergeracional” de artistas profissionais e amadores de “ilustres cabo-verdianos, guineenses, angolanos e portugueses”, indicou a autora, acrescentando que o Ministério da Cultura “já reconheceu o manifesto interesse cultural” do espetáculo.

“Isto faz parte da memória histórica de Cabo Verde e de Portugal naquilo que respeitou a luta contra a ditadura, e é um dever de memória relativamente a todos aqueles que estiveram presos e morreram no Tarrafal”, antiga colónia penal portuguesa.

Para o trabalho de pesquisa, a criadora contou também com “o contributo” de um ex-prisioneiro do Tarrafal, Jaime Schofield, que forneceu “o seu testemunho na recolha de informação”.

A produção conta igualmente com a participação de “um grupo de dançarinos, um grupo de teatro, um grupo de músicos que vão tocar ao vivo e do coro Voz Terra”, dirigido por Heloísa Monteiro, estando previsto “cerca de 40 pessoas em palco”.

Com texto de Paula Torres de Carvalho, direção artística de Pascoal Furtado, professor do Chapitô, e direção musical do violinista António Barbosa, esta “viagem” às histórias do também designado “campo da morte lenta”, conta com a voz principal da cantora Sofia Carvalho, sobrinha neta do conhecido poeta cabo-verdiano Ovídio Martins.

O espetáculo, que é apresentado no dia 12 de fevereiro, às 21:00, na sala multiusos do Parque de Feiras e Exposições de Grândola, tem o apoio da Câmara Municipal de Grândola e da Direção Regional de Cultura do Alentejo.

A peça será também apresentada, no dia 09 de abril, no Centro Cultural de Carnide, em Lisboa.