Onde anda Rúben Amorim? Nos instantes iniciais da festa do Sporting no relvado do Municipal de Leiria após a vitória na final da Taça da Liga frente ao Benfica, o treinador acabava por ser a grande “ausência”, depois de ter desaparecido do radar de todos. Mais tarde voltou, teve o habitual “atirar ao ar” por parte dos jogadores, festejou com jogadores e elementos da equipa técnica e acabou com o filho ao colo, já a dar uns toques numa bola. “Tudo é melhor com o meu filho. Se já gosto de estar ali, com ele ali é melhor. O outro não quis vir. Começou num clube, estão a fazer uma pressão enorme para ir para outro clube, a mãe não concorda e eu não me meto… Quero lembrar-me destes momentos com o meu filho”, explicou.

Pedro, um jóquer que faz com que todas as cartadas sejam apostas ganhas (a crónica da final da Taça da Liga)

Com menos de dois anos no comando do Sporting, o treinador já entrou para a história. Do clube, pelos quatro títulos conquistados apenas em 12 meses que o colocam apenas atrás do mítico Joseph Szabo, e da própria Taça da Liga, uma prova onde soma por vitórias os nove encontros que disputou e alcançou já o terceiro troféu consecutivo, sendo que o primeiro foi ainda como técnico do Sp. Braga. Depois de duas derrotas em três partidas do Campeonato, os leões conseguiram mais uma reviravolta (quinta da época, segunda consecutiva na Final Four da competição) e averbaram a quarta Taça da Liga em cinco anos.

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Melhor era quase impossível numa carreira que tem pouco mais de dois anos de primeiro escalão. Qual é o segredo? “É alguma sorte, hoje não tanto. Não é só estrelinha, é o trabalho de toda a gente que está aqui”, começou por dizer no estúdio da SportTV onde se deslocou com toda a equipa técnica. “Sempre tive bons jogadores desde que iniciei a minha carreira. A forma como encarámos o jogo, mesmo com duas derrotas na Liga, notou-se muito bem a identidade da equipa. Hoje demos uma grande resposta. Quanto ao sucesso na Taça da Liga, é continuar…”, acrescentou ainda a esse propósito Rúben Amorim, antes de falar de vários temas numa conversa mais normal do que é habitual também pelo contexto em que decorreu.

“A força do Sporting é uma questão mental e nesse aspeto tivemos tempo para treinar. Em vez de ser um metro mais atrás e ser à frente, temos de ter tempo para treinar e faz a diferença. Quando estamos confortáveis no jogo não se nota tanto a forma física, a parte mental é muito mais difícil. Noto bastante em jogadores como o Inácio. É difícil manter-se a concentração em todos os jogos. Eles vão habituar-se a isto. Já jogámos muito pior do que com o Santa Clara e com o Sp. Braga e ganhámos o jogo. Entrada do Porro? Sabíamos que o Porro não podia jogar muito, o Ricardo Esgaio muitas vezes apanhava o Everton nas transições. O Esgaio já jogou naquela posição, são dinâmicas que já tivemos noutros jogos”, referiu.

Estamos bem mas não sabemos o dia de amanhã. O futebol muda muito e tivemos agora, recentemente, essa prova. Gostamos do projeto. Temos uma ideia muito clara. A envolvência é sentida nos jogadores e é muito forte”, comentou sobre o futuro no Sporting.

“Obviamente que os resultados ajudam, poderia ter a mesma forma de trabalhar, dizer as mesmas palavras, mas não tendo resultados as pessoas iriam perceber de outra forma. Nós sabemos disso, é uma grande vantagem nossa, não temos ilusões. Estas conquistas são importantes para manter o nosso dia a dia. Melhorei muito este ano no banco. Tenho muito a crescer. Fico feliz por ser um exemplo para muita gente. Sigo o exemplo de outros. A forma como planeámos a época passada foi um pouco de ‘O Mourinho fez um bocadinho assim’. Procuramos copiar o que podemos. É assim que seguimos dia a dia, sabendo que os resultados ditam tudo. Sentimos as duas derrotas. Sabemos que tudo muda se a bola entra ou não. O som do estádio é diferente, a envolvência é diferente”, prosseguiu o técnico leonino.

“A primeira coisa é que temos de conhecer bem as pessoas, daí o papel do Gonçalo [Álvaro]. Às vezes custa chegar ao gabinete e dizer-lhes as coisas assim de repente. Eles sabem que as coisas mudam. O sistema é irrelevante. Que tipo de jogadores precisamos de ter lá na frente, que tipo de defesa… Depois o projeto que seguimos. Não é uma coisa forçada. Tentamos que não seja, nem para aparências. Sabemos do momento do clube, que temos de apostar na formação. Nem eu pensava que o Ugarte pudesse ter este rendimento, nem eu que me fartei de ver os jogos dele. Pote, Matheus Nunes, Matheus Reis, que foi a custo zero. Já falámos do Porro… É do nosso scouting. Mas depois, as vitórias ajudam. Quando se ganha, tudo passa ao lado, quando se ganha discutimos por coisas insignificantes”, salientou.

“Forma de comunicar que não muda? Exemplo? Ainda não perdemos assim tantas vezes. Já tivemos uma fase má quando aqui chegámos e ficámos em quarto lugar. Acho que é notório, que quando eu vou para a conferência para o Sp. Braga que é muito claro que me estou a segurar, que eu quero sair dali o mais rapidamente. Há dias que eu não me vou expressar com tanta fluidez. Vou mudando um pouco, se não não seríamos tão competitivos. Quem ganha, normalmente fala de forma mais fluente e mais simpática para os jornalistas. Tentámos seguir os valores do Sporting”, frisou ainda antes de falar das influências.

“Jorge Jesus foi o treinador com quem passei mais tempo. Houve coisas que ficaram comigo, os três centrais não [risos]. A exigência ficou. O facto de crescer com ele, a exigência ficou, mas lembro-me como alguns jogadores ficavam, era difícil. Alguns não conseguiram. O Plata é um jogador que me dá pena, mas a forma de eu encarar o treino para ele é difícil. Às vezes é difícil. Lembro-me disso do mister, desses pequenos pormenores táticos. Acho que uma coisa boa nossa é que não temos assim grandes fixações, estamos abertos a tudo. Temos de acreditar muito para os jogadores comprarem a ideia”, concluiu.