Já está em Portugal a seleção portuguesa de futsal, que se tornou no domingo bicampeã da Europa, em Amesterdão. A equipa e respetiva comitiva chegaram esta manhã ao aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, onde foram recebidas por centenas de adeptos. Já no Palácio de Belém, ouviram elogios e um agradecimento de Marcelo Rebelo de Sousa, que vê o título como “um estímulo para o país”.

A seleção portuguesa revalidou o título de campeã europeia pela segunda vez no domingo, ao vencer a seleção russa por 4-2. A estes títulos europeus (Europeu de 2018 e agora de 2022) junta-se outro, de campeões no Mundial de 2021.

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À chegada ao aeroporto, no acesso ao autocarro, foi João Matos, capitão da seleção nacional que se tornou o jogador português com mais partidas em fases finais de campeonatos europeus na modalidade, quem transportou o troféu, entregando-o depois ao selecionador Jorge Braz, que, emocionado, não quis prestar logo comentários aos jornalistas, em imagens transmitidas pela CNN.

Cerca de uma centena de adeptos foram esperar a equipa ao aeroporto e alguns tiveram oportunidade de tirar selfies com alguns membros da seleção nacional.

“Provámos ao longo de todo o campeonato da Europa que éramos capazes e tínhamos ambição para isso”, disse João Matos, numa curta declaração à CNN Portugal. Pouco depois, já no autocarro em direção ao Palácio de Belém, e em declarações ao Canal 11, agradeceu ao selecionador nacional, que “acredita mais em nós do que nós próprios”. “Tem sempre uma palavra eficaz que nos faz dar aquele extra. É muito por ele também.”

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Marcelo recebe bicampeões e elogia Fernando Gomes: o que fez “não é muito português”

Num discurso perante os bicampeões europeus, já no Palácio de Belém, Marcelo Rebelo de Sousa deixou elogios à equipa, mas também ao selecionador, Jorge Braz, e em especial ao presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Fernando Gomes. Marcelo começou por salientar que Fernando Gomes “soube esperar e acreditar”, mesmo apesar de entre 2011 e 2018 Portugal ter ido “ganhando aos poucos”, mas “não chegavam os títulos”.

“Podia haver a tentação de o presidente dizer  [para Jorge Braz]: Você é ótimo, mas já lá vão muitos anos, vamos experimentar outro”. Mas, frisou, o presidente da FPF “soube esperar e acreditar” e isso “não é muito português”. “Em Portugal ao primeiro desaire qual é a ideia? É mudar se não tudo, aquilo que se pode. E aqui persistiu-se, insistiu-se e valeu a pena”.

Mas noutros pontos, a equipa mostrou como é ser-se português, defendeu. “Ser muito português é ser-se heroico nos momentos cruciais. Podemos estar a perder, damos a volta. Não quebramos. Eu tinha a certeza, na meia-final e na final, que íamos virar o jogo”, disse, acrescentando que a equipa é “um bom exemplo para o país”.

Já sobre Jorge Braz, salientou como o selecionador por vezes “parece distante, ausente”, mas “não perde um pormenor daquilo que se passa”. E elogiou como “sabe formar o espírito de equipa” e “alimentar esse espírito”. O Presidente da República sublinhou ainda todo o trabalho de preparação e treino: “Isto não cai do céu”.

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O Presidente da República aproveitou ainda a vitória no futsal para deixar avisos ao Governo sobre a execução dos fundos europeus, nomeadamente da chamada “bazuca”, o pacote de ajudas europeu para a recuperação da economia (a expressão não foi usada por Marcelo). Com o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, ao lado, afirmou que o título “é um estímulo para o país“, sobretudo numa altura em que Portugal entra numa fase “em que temos à nossa disposição — não propriamente aquilo que têm dito que é o paraíso ao virar da esquina — mas temos muitos fundos europeus”. E avisou: “É fundamental que sejam bem utilizados, a tempo, com rigor, com transparência, profissionalismo, eficiência, eficácia“.

Marcelo traçou vários paralelismos entre a vitória no futsal e os fundos comunitários que aí vêm — e frisou que esse aproveitamento dos fundos não deve acontecer “no último minuto”, mas “na segunda parte”. “Também aqui não temos além do apito final do termo de utilização dos fundos. Não temos mais fundos, ou ganhamos ou perdemos, como aconteceu convosco na final, ou ganhamos até ao termo do jogo ou perdemos.” A vitória “é uma boa inspiração para o período que estamos a entrar: temos de aproveitar até ao limite todos os fundos. Aqui não há descontos, não vai haver descontos, o que não for aproveitado dentro do prazo, já não é aproveitado”.

Para seguir a tradição, Marcelo tirou ainda uma selfie com todos os jogadores. Não sem antes assegurar que vai condecorar a seleção posteriormente — só não o fez agora porque “foi tudo depressa demais”.

Fernando Gomes lembra derrotas antes das vitórias. “Com essa ambição conseguimos dar a volta”

Fernando Gomes, o primeiro a discursar, lembrou as sucessivas derrotas antes de 2018. “Esta seleção antes de 2018 perdeu muitas vezes. Eu diria que perdia quase sempre, mas com essas derrotas, com essa ambição, com esse saber conseguimos dar a volta e é esta ambição de representar Portugal que queremos manter.”

O presidente da FPF elogiou a “capacidade de organização e liderança” de Jorge Braz, “alicerçado pelo staff técnico”, que, em conjunto, conseguiram “sem sombra de dúvidas colocar o futsal português no patamar de excelência do panorama desportivo mundial”. Agora, há “outros desafios pela frente”, como o europeu feminino no próximo mês e o campeonato dos Sub-19. E disse esperar regressar a Belém em breve com o título do desporto feminino.

João Matos: “Tocámos o céu, subimos ao topo de uma montanha”

Já o capitão João Matos começou por dizer, perante o Presidente da República e a comunicação social, que “é bem mais fácil jogar uma final europeia do que falar neste microfone”. “Diz-se que as grandes batalhas são dadas a grandes guerreiros”, afirmou sobre a equipa, que “personifica muito o que é ser português, o talento, a união”. “Estivemos aqui há sensivelmente quatro anos pela primeira vez, há quatro, cinco meses voltámos aqui e não há duas sem três. Tocámos o céu, subimos ao topo de uma montanha e novamente chegámos lá“, acrescentou.

Deixou ainda uma palavra a Jorge Braz, agradecendo a “forma como nos conduz e prepara”, com um “lado amigo que tem uma palavra de incentivo e dedicação”. “Todos temos um carinho especial por este senhor”.

[Ouça aqui o momento em que Portugal se sagrou Bicampeão Europeu de futsal]

“Está feito!”. Ouça aqui o momento em que Portugal se sagrou Bicampeão Europeu de futsal

João Matos agradeceu ainda à FPF pela “forma como investe em jovens com enorme potencial”. E deixou um incentivo à seleção feminina de futsal, desejando que, em breve, a equipa esteja no mesmo lugar dos campeões europeus.

Jorge Braz já pensa no mundial, mas para já quer ajudar a preparar europeu feminino. “Amanhã já há trabalho. Siga”

Já na Cidade do Futebol, em Oeiras, para onde a comitiva seguiu para entregar o troféu, Jorge Braz foi questionado pelos jornalistas sobre se houve uma “mudança de mentalidade” dos jogadores entre a primeira e a segunda partes no jogo frente à Rússia. Braz recusa, mas reconhece que “no momento crucial, quando é preciso dar tudo, a alma portuguesa vem ao de cima“. No intervalo, revela que optou por “olhar para eles e não estorvar muito, e perceber que tinham de acreditar. Se fomos felizes tantos dias na preparação tinha de acabar bem.”

Lembrou as frases finais que a equipa não venceu com a sua liderança e apelou a que continue a ser feito um investimento na modalidade, para que a vitória não tenha sido uma questão “geracional”. “O segredo vem de trás, nem sempre temos a paciência, como o presidente teve. Não tenho problemas nenhuns em recordar as fases finais que não vencemos. Agora realmente crescer e sustentar isto… disse em 2018 que não podia ser uma questão geracional, agora eram quase os mesmos [jogadores de 2018], mas no futuro não pode ser uma questão geracional, tem de ser uma questão de trabalho e sustentabilidade“, defendeu.

Mas Jorge Braz quer já olhar em frente e diz que na terça-feira vai estar com a equipa técnica feminina. “Amanhã já há trabalho. Siga, é assim que temos de funcionar.” E já pensa no mundial? Sim, reconhece. “As primeiras palavras para o capitão foram: Olha, cuidado que ainda só revalidámos um, temos mais um para revalidar. E ele mandou-me dar uma volta, diz que agora tínhamos de descansar e desfrutar disto um bocadinho. Neste momento estamos virados para o europeu feminino e a qualificação dos Sub-19.”

Também na Cidade do Futebol, Pany Varela, que marcou na final, reconheceu que ainda “não caiu a ficha de ser campeão da Europa”. Mas acredita que a vitória fez ver as duas vitórias anteriores não foram “por acaso”. “Temos uma qualidade incrível, aliada à nossa competência, união e espírito de família”. Afonso Jesus também salientou que a vitória foi uma “prova viva que não foi por acaso Portugal ganhar”. E André Coelho, que vê o terceiro título na seleção, vincou como Jorge Braz “transmite toda a confiança”. “Confia em nós de olhos fechados.”