“Miss Perfeita” era uma espécie de última alcunha para condensar todas os outros nomes elogiosos que se iam esgotando sempre que Kamila Valieva vinha à baila. Mais: aos 15 anos, era o início. O início de uma carreira de total domínio na patinagem artística, o início de uma legião de seguidores que apesar da sua idade tinha já 230.000 fãs no Instagram, o início de uma longa lista de apoios e patrocinadores que tinham vontade de se associar a uma imagem de sucesso. Nada disso está definitivamente em risco, nada disso teve o seu final. No entanto, um episódio com apenas 15 anos poderá ser marcante no resto do percurso.

Um salto quádruplo para a história: a “Miss Perfeita” de 15 anos que arriscou e conseguiu o impossível nos Jogos Olímpicos

Ao contrário do que estava agendado, e nos Jogos Olímpicos de Inverno tudo o que tem a ver com questões protocolares é cumprido à risca, os membros dos Atletas Olímpicos da Rússia que ganharam a prova por equipas na patinagem artística não subiram ao pódio para receberem a medalha de ouro. Razão? O ato foi “suspenso”. E um alegado teste anti-doping positivo da jovem prodígio está na origem do caso.

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A primeira informação foi avançada pelo Inside the Games: a cerimónia de entrega das medalhas para a competição por equipas da patinagem artística tinha sido “adiada por uma questão legal que foi entretanto levantada”. Mais: esse caso estava ligado ao Comité Olímpico da Rússia, composto por Kamila Valieva, Mark Kondratiuk, Anastasia Mishina, Aleksandr Galliamov, Victoria Sinitsina e Nikita Katsalapov, sendo que Kamila Valieva tinha sido uma das atletas a falhar o treino marcado para esta quarta-feira. “Foi uma questão que apareceu de repente na véspera e que necessita de consulta legal com o Comité Olímpico Internacional”, confirmou uma fonte. “É um assunto urgente”, revelou um porta-voz do COI.

Mais tarde, ainda que sem confirmações oficiais, os jornais russos RBC e Kommersant noticiaram que tinha sido Kamila Valieva a registar o teste positivo, em dezembro, e que estava em causa uma substância que faz parte da lista de proibições, a trimetazidina, normalmente utilizada para tratar de dores no peito e que ajuda também na circulação do sangue até ao coração. Ainda não existem mais dados sobre a situação da atleta e sobre a necessidade de tomar a substância, sendo que os mesmos meios russos reforçavam que o uso da trimetazidina não terá qualquer vantagem em termos de performance competitiva.

Há ainda uma outra situação paralela neste caso: à luz das regras do Código Mundial Anti-Dopagem, a atleta russa é considerada uma “Pessoa protegida” por ter menos de 16 anos. Ou seja, por ter apenas 15, não poderá ser identificada como culpada em caso de violação das regras. Terá sido essa parte mais complexa que levou a que a organização suspendesse a cerimónia de medalhas para obter esclarecimentos.