As exportações portuguesas de metalurgia e metalomecânica atingiram em 2021 um novo recorde de 19.886 milhões de euros, mais 16,2% face a 2020 e 1,5% acima de 2019, demonstrando “resiliência” num ano de “enormes constrangimentos”, salienta a AIMMAP.

“A indústria da metalurgia e metalomecânica volta a mostrar que é a mais dinâmica do país. Num ano com enormes constrangimentos, como as restrições causadas pela pandemia, a falta de recursos humanos, a escassez e o aumento brutal dos preços das matérias-primas, a subida dos custos da energia e dos combustíveis e as dificuldades na logística, ainda assim, as empresas conseguiram ultrapassar as dificuldades e demonstrar uma enorme resiliência”, afirma o vice-presidente da Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal (AIMMAP) em entrevista à agência Lusa.

Segundo destaca Rafael Campos Pereira, estes números são “substancialmente superiores” aos 17.109 milhões de euros registados em 2020 e ultrapassam o anterior recorde de 19.589 milhões de euros de 2019.

“Apesar de tudo, conseguimos não só manter clientes, como conquistar novos clientes e diversificar destinos, num grande sinal da qualidade e da reputação que o Metal Portugal — um setor heterogéneo, que fabrica desde gruas a agulhas – já tem nos mercados mais sofisticados”, enfatizou.

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O novo máximo atingido em 2021 culmina uma série de recordes mensais registados durante o ano, em que o mês de novembro foi “o melhor de sempre” para o setor, com cerca de 1.964 milhões de euros em exportações. Já os meses de março, abril, julho e outubro figuram também no top-10 dos melhores meses de sempre do setor, todos eles com valores superiores a 1.700 milhões de euros.

No ano passado, Espanha, França e Alemanha mantiveram-se como os principais destinos das exportações do Metal Portugal, com um valor de 5.454 milhões, 3.179 milhões e 2.852 milhões de euros, respetivamente, correspondentes a quotas de 27%, 16% e 14%.

Fora da União Europeia (UE), o destaque vai para os EUA – que, com 494 milhões de euros, foi o sexto principal destino das exportações portuguesas e demonstra “um enorme potencial” -, e Marrocos, em oitavo lugar, com 421 milhões de euros.

A AIMMAP aponta ainda o “enorme crescimento” em alguns mercados fora da UE, como o Japão, a Austrália, Taiwan e a Coreia do Sul, precisando que, em conjunto, responderam já por perto de 500 milhões de euros de exportações no ano passado.

A associação destaca, aliás, o impulso dado às exportações pelos mercados extracomunitários, cujas vendas cresceram 7% no ano passado.

Atualmente, o mercado da UE representa 75% das exportações do setor metalúrgico e metalomecânico português, sendo o objetivo “a curto prazo” evoluir para uma distribuição 70%/30% entre os mercados intra e extra-UE.

À Lusa, o vice-presidente da AIMMAP assinalou que, entre 2011 e 2021, o setor — que é o que mais contribui para o Produto Interno Bruto (PIB) português – “mais do que duplicou as exportações em valor”, tendo o peso dos mercados externos passado de menos de 50% para os atuais “cerca de dois terços”, representativos de 33% das exportações totais da indústria transformadora portuguesa.

O dirigente associativo destaca que estes números recorde “são o resultado de toda a experiência acumulada e ‘know-how’ das empresas do Metal Portugal, com o apoio da AIMMAP e das entidades de suporte ao setor – como o CATIM [Centro de Apoio Tecnológico à Indústria Metalomecânica], o CENFIM [Centro de Formação Profissional da Indústria Metalúrgica e Metalomecânica] ou o polo de competitividade Produtech – na execução e desenvolvimento de estratégias focadas na inovação, na qualificação dos recursos humanos e na internacionalização das empresas”.

No total, o setor metalúrgico e metalomecânico português abrange 15.000 empresas e 250 mil trabalhadores em subsetores como as tecnologias de produção, peças técnicas, componentes automóveis e aeronáuticos, louça metálica e cutelarias ou estruturas metálicas.

Convicto de que o sucesso do Metal Portugal passa pelas “apostas conjuntas das empresas, com o apoio das entidades de suporte, na conceção e implementação de estratégias diferenciadoras”, Rafael Campos Pereira lembra que o setor vive “há muitos anos” num contexto concorrencial, sem a proteção de quaisquer acordos de comércio internacionais.

Como tal, “há já 20 anos enveredou por uma estratégia de diferenciação, a apostar em certificação, propriedade industrial, no reforço da qualificação dos recursos humanos, na responsabilidade social, no ‘design’, na inovação e na investigação e desenvolvimento”.

“A partir daí, as empresas ganharam músculo para enfrentar mercados mais difíceis e exigentes e começámos a vender cada vez mais. E, quando Portugal entrou em crise, em 2008/2009, as nossas empresas deram um salto muito grande, porque o mercado português definhou e nós tivemos de olhar para o mundo como a nossa vocação”, recordou.

Para 2022, as perspetivas são “continuar a crescer, particularmente nos mercados alemão e francês (que tem vindo a crescer substancialmente) e nos Estados Unidos, que é um mercado muito apetecível para um número crescente de empresas”.

“E não estamos a falar só das médias ou grandes, estamos a falar também das pequenas e das microempresas, que olham para os Estados Unidos como um mercado muito apetecível”, disse.

“Para além disso — acrescentou o dirigente associativo – queremos continuar a crescer no norte de África (Marrocos, particularmente), no Médio Oriente (onde a qualidade portuguesa é uma referência e o ‘made in’ Portugal tem um valor muitíssimo grande) e, também, no Extremo Oriente, com o Japão, a Coreia e Taiwan como referências”.

No radar do setor está também a América Latina, onde, por exemplo, no México estão já instaladas e a produzir “dezenas de empresas do Metal Portugal”.

“O objetivo — assume Rafael Campos Pereira – é claramente [que 2022 seja] um ano recorde e ultrapassar, seguramente, os 20.000 milhões de euros”, desejavelmente “com folga”.

Neste sentido, o programa de internacionalização do setor prevê este ano a presença coletiva de mais de 100 empresas na maior feira mundial de peças técnicas de alto valor acrescentado (Global Industrie/Midest, em Paris, onde Portugal terá novamente a principal delegação estrangeira) e a participação de 120 empresas na maior feira mundial de indústria e tecnologia — a Hannover Messe – na qual Portugal irá ser o país parceiro.