“Do Planalto se Dobra a Montanha”, Maria Capelo
ZDB, Lisboa, até 9 de abril
Continuidade sólida no trabalho de Maria Capelo, esta exposição consagra nove óleos à extensa natureza, aquela paisagem densa, de tão carregada cromaticamente, onde a terra se esconde debaixo de uma vegetação agigantada pelo grande formato. A artista convida a uma viagem por caminhos não descodificados, mas onde o volume da montanha, qual corpo harmonizável, se molda a acidentes na paisagem que podem ser árvores, folhas, ervas, troncos, animais, vultos ou mesmo construções difusas. De resto, a sensação de difusão em vez de precisão no trabalho de Maria Capelo dá-lhe aquela capacidade máxima de tirar partido de sentidos múltiplos e tridimensionais com que alguma pintura consegue brincar. No início, um pequeno excerto do filme “Lumière d’Été”, de Jean Grémillon, já anunciara, com corneta e tudo, essa maleabilidade da paisagem, mas a artista força-a com os seus recortes de luz emanados de verdes e amarelos (muitos), laranjas e vermelhos (muito poucos), e também de céus espessos, consistentes como todo o corpo ferido no chão que esta terra alberga cada vez que se abre de violência, sem ser dramática, porém.
“Interior #2”, Patrícia Garrido
Giefarte, Lisboa, até fim de abril
Peça provocadora, apetecível, mas de acesso interdito, esta instalação de Patrícia Garrido apela a todos os sentidos e interpela o visitante de todos as maneiras e feitios. Esmagadora na sua capacidade de ocupação do espaço que (não) quer partilhar com quem a olha, a obra de 240x414x680cm constrói uma fronteira de várias camadas, formadas por traves metálicas de antigas prateleiras industriais, e proíbe assim que o seu interior seja desvirtuado. É como se enquanto nos abrisse a porta com uma mão, a mantivesse no trinco com a outra. Patrícia Garrido dá e tira a possibilidade de a entendermos no seu âmago, ou, melhor, diz-nos quem é e, a um só tempo, que nunca a conheceremos. Apontamentos de verde e vermelho, entre o cinzento e o castanho maioritários na peça, surgem como janelas de esperança nesta travessia impossível.
“Inquieta Ansiedade”: Obras da Coleção Rui Victorino
Museu Arpad Szenes-Vieira da Silva, Lisboa, até 8 de maio
Coleção abrangente, o acervo que aqui se apresenta permite uma viagem segura à arte portuguesa do século XX, nomeadamente e em larga escala, às décadas de 50, 60 e 70, salvo exceções mais raras, mas não menos saudadas, de incursões pelos modernistas Almada Negreiros e Amadeo de Souza-Cardoso, ou dos mais contemporâneos Ana Jotta, Cabrita e Rui Chafes. A aventura tem paragens obrigatórias em estações temáticas e formais que podemos designar de quatro formas: as geometrias, as geografias, as abstrações e as figurações. O nosso destaque vai para as primeiras e o olhar alonga-se em Jorge Pinheiro, Fernando Lanhas, Ângelo de Sousa, Joaquim Rodrigo, Nadir Afonso, com a entrada abençoada do alemão Josef Albers a deleitar ainda mais esse olhar. Notas para trabalhos como o óleo de 1971 de Menez, “Górgona”, de Paula Rego, 1965, ainda uma colagem e óleo sobre tela, “Nuages Mécaniques”, de Réne Bertholo, 1972, ou “Portrait de Milvia Magliani, de Lourdes Castro, 1966.