“Foram 33 anos de carreira. Privei-me desde a juventude de muitas coisas normais da vida de qualquer ser humano, lutei contra a minha natureza fisiológica com total dedicação e empenho, dei tudo de mim em busca da excelência. Aguentei sobre mim próprio, no meu silêncio, as críticas, as difamações, as provocações. Acima de tudo, quis sempre ser o mais justo possível, falhei muitas vezes mas nunca o fiz de forma premeditada.”
Foi assim, num texto publicado nas redes sociais em maio do ano passado, que Bruno Paixão anunciou que ia deixar a arbitragem em definitivo. Depois de ter deixado de ser árbitro principal no final da época 2017/18, o árbitro natural de Setúbal ainda desempenhou as funções de VAR, passando mais tarde a observador, cargo que ocupava quando decidiu terminar a carreira desportiva. Agora, nove meses depois dessa decisão, a CNN Portugal e a TVI revelam que Bruno Paixão estará a ser investigado por ter recebido milhares de euros por parte do Benfica, num caso que visa uma alegada prática de corrupção desportiva e que pode culminar na descida de divisão dos encarnados.
Mas esta não é a primeira vez que Paixão, agora com 47 anos e com 239 jogos na Primeira Liga, se vê envolvido em polémicas ligadas à verdade desportiva. O árbitro, que em 2004 recebeu as insígnias da FIFA e tornou-se internacional, foi vetado pelo Sporting após um polémico encontro em Barcelos com o Gil Vicente, em 2011/12, e esteve quatro anos sem arbitrar uma partida dos leões. Na altura, os gilistas derrotaram o Sporting por 2-0, sendo que o árbitro assinalou duas grandes penalidades a favor do Gil Vicente no mesmo minuto e ainda expulsou Schaars, médio neerlandês dos leões, por acumulação de cartões amarelos. Na sequência do episódio, Bruno Paixão deixou de ser internacional.
“É muito triste preparar um jogo durante a semana e chegar ao final de semana e sermos arbitrados por um árbitro incompetente, que não devia estar no futebol nacional e não devia arbitrar seja um jogo do Sporting ou outro qualquer. É um indivíduo que devia ser irradiado do futebol português. O mais grave é sentirmos que estamos num desporto em que devemos pugnar pela verdade desportiva e aquilo que verificamos é que não há uma atitude isenta e de qualidade. Não estou a falar em dolo, em roubo, em corrupção; estou a falar de qualidade, que não existe neste interveniente para arbitrar seja que jogo for deste Campeonato”, disse, na altura, Godinho Lopes, então presidente do Sporting. Depois desse episódio, Bruno Paixão só voltou a arbitrar um jogo dos leões em fevereiro de 2016, contra o Nacional da Madeira.
Também em 2012, o FC Porto procurou vetar Bruno Paixão e também Duarte Gomes. Na altura, de acordo com o noticiado pelo Correio da Manhã, Antero Henrique deslocou-se a Lisboa para reunir com Vítor Pereira, então presidente do Conselho de Arbitragem, o vice Antonino Silva e ainda o vogal Lucílio Baptista com o objetivo de exigir que os dois árbitros não fossem nomeados para jogos dos dragões. Os caminhos do FC Porto e de Bruno Paixão voltaram a colidir já em 2017, quando Francisco J. Marques, diretor de comunicação dos dragões, acusou o árbitro de ter ligações ao Benfica, alegadamente através da intermediação de Nuno Cabral, antigo delegado da Liga.
“No dia 9 de março de 2014, às 20h47, o Nuno Cabral, conhecido como Eva Mendes e na altura delegado da Liga, envia um email ao Paulo Gonçalves que diz assim: ‘Caro doutor’, e anexa um print screen de Facebook em que consta uma conversa com Miguel Duarte. Bruno Miguel Duarte Paixão, mais conhecido por Bruno Paixão. Porque é que o árbitro Bruno Paixão tinha um Facebook no qual se chamava Miguel Duarte para falar com Nuno Cabral?”, disse Francisco J. Marques no Porto Canal, sendo que a conta pessoal de Bruno Paixão no Facebook é precisamente esta, onde utiliza os dois nomes do meio.
Paixão, numa resposta também publicada na mesma rede social, citou Jesus Cristo para reagir às acusações. “Ame os seus inimigos, faça o bem para aqueles que te odeiam, abençoe aqueles que te amaldiçoam, rezai por aqueles que te maltratam”, escreveu o antigo árbitro.
A “relação” com os portistas já vinha da temporada 1999/00, num Campomaiorense-FC Porto que terminou com o triunfo dos alentejanos por 1-0 com um golo de Laelson. Nesse encontro, José Soares usou todas as formas possíveis para tentar travar Mário Jardel, a grande figura dos azuis e brancos, mas entre faltas e possíveis grandes penalidades por marcar o central viu apenas um cartão amarelo e aos 90′.