Era uma “bomba” sobre o futebol nacional que estava prometida para as 20h desta segunda-feira pela TVI e pela CNN Portugal mas acabou por rebentar um pouco antes: Bruno Paixão, hoje antigo árbitro, estará a ser investigado por ter recebido milhares de euros (o valor não é quantificado) por parte do Benfica.

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De acordo com os canais, as autoridades chegaram a esta suspeita através das perícias feita pela Polícia Judiciária e pelo Ministério Público ao alegado “saco azul” que tinha sido montado através de uma empresa informática à qual o clube da Luz teria pago um total de 1,9 milhões de euros por serviços de consultoria fictícios. Terá sido daí que saíram os fundos para o árbitro, o que faz com que também o Benfica esteja a ser investigado por alegada prática de corrupção desportiva, crime que pode levar à descida de divisão.

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A investigação terá concluído inicialmente que a “Best for Business”, do empresário José Bernardes, não teria uma dimensão suficiente para receber tamanho montante. “A coberto de uma suposta prestação de serviços de consultoria informática, realizaram várias transferências bancárias para uma conta titulada por uma outra sociedade, num valor total de 1.896.660,00€, montantes esses que acabavam depois por ser levantados em numerário. Esta última sociedade terá sido utilizada com o único propósito de retirar dinheiro das contas do Benfica”, referiu a Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa em 2018 num processo que levou a “três mandados de busca domiciliária e cinco não domiciliárias, de entre estes, dois às sociedades Benfica SAD e Benfica Estádio Construção Gestão Estádios, SA” e que levou à constituição de seis arguidos, três pessoas singulares e três pessoas coletivas entre os quais Benfica SAD, Benfica Estádio e os então administradores Luís Filipe Vieira (na altura presidente), Domingos Soares de Oliveira e Miguel Moreira.

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Terá sido através destes fundos que Bruno Paixão, que como árbitro, observador e VAR esteve ligado até à última temporada às ligas profissionais, recebeu milhares de euros. O próprio assume à TVI e CNN Portugal que foi de facto pago mas por um “um serviço de controlo de qualidade” à empresa mas que tudo o resto se trata de uma mera coincidência, sobretudo o facto de na altura ser árbitro profissional. “Conheço José Bernardes, e, aqui há uns anos, durante alguns meses, tentei implementar um sistema de controlo de qualidade, o ISO 9001, na empresa Best for Business”, assegurou o antigo juiz da Associação de Setúbal.

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Bruno Paixão trabalha agora com o Casa Pia no âmbito da arbitragem, o que levou a que Rui Pinto, pirata informático envolvido no processo do Football Leaks, tenha ironizado com a situação. “Estará em causa novamente uma ‘mera coincidência’. Porventura a mesma coincidência que levou Bruno Paixão, Paulo Gonçalves e Rui Costa a Pina Manique”, referiu na sua conta oficial no Twitter. Toda essa informação terá sido depois passada para um outro processo já conhecido também em termos públicos sobre uma alegada corrupção desportiva pelo Benfica, que junta todo o caso dos emails com o caso dos vouchers e o caso do Mala Ciao. Falta apenas o despacho final do Ministério Público.

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“O processo vulgarmente designado por ‘Saco Azul’ tramita sob o NUIPC 461/17.9TELSB, desde há já vários anos, no DIAP de Lisboa, tendo sido já inclusivamente objeto de um pedido de aceleração processual por parte da Benfica SAD. Tanto quanto é do conhecimento da Benfica SAD, no processo em causa as diligências de inquérito foram já concluídas, aguardando o processo apenas o despacho final que põe termo ao inquérito”, advogou um comunicado emitido pela sociedade encarnada assinado pelos três advogados que têm acompanhado todo este processo, Rui Patrício, Paulo Saragoça da Matta e João Medeiros.

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“No que respeita à factualidade objeto de investigação no referido processo, os representantes legais da Benfica SAD foram, nos termos da lei, confrontados exclusivamente por factos respeitantes a indícios de fraude fiscal, tendo o Ministério Público abandonado a tese inicial de branqueamento de capitais. Mais esclarecemos que no âmbito do referido processo nunca a Benfica SAD ou os seus representantes legais foram confrontados com quaisquer factos que envolvessem o nome do Senhor Bruno Paixão e/ou quaisquer acusações de corrupção desportiva”, acrescentou o mesmo texto divulgado pela Benfica SAD.