O governador do Banco de Portugal disse esta segunda-feira que a principal preocupação dos banqueiros centrais é se o aumento da inflação gera efeitos de segunda ordem sobre os salários, o que, assinala, ainda não acontece na zona euro.

“Todos os indicadores de expectativas de inflação estão próximo de 2%, o que nos devia deixar satisfeitos. Foi exatamente para isso que desenhámos a estratégia de política monetária ao longo de todo este tempo”, disse esta sexta-feira Mário Centeno durante uma intervenção por meios telemáticos numa aula aberta de economia monetária e financeira, no âmbito do lançamento do livro “Economia Monetária e Financeira”, no ISEG, em Lisboa.

O governador do Banco de Portugal (BdP) defendeu que “não há muita razão para ficar particularmente perturbado pelo facto de termos sucesso”, assinalando que “a grande preocupação dos banqueiros centrais é, na verdade, outra: se gera efeitos de segunda ordem sobre os salários”.

O responsável do banco central português sublinhou que a preocupação é se ocorrem “mecanismos de contágio”, que possam gerar “o pesadelo maior de qualquer governador de um banco central”.

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“Na Europa, felizmente este mecanismo não está neste momento observável”, vincou, sublinhando que o mercado de trabalho na União Europeia funciona de forma muito distinta do norte-americano.

Mário Centeno disse ainda que toda a discussão em torno da política monetária na Europa gira em torno de “três palavras”: proporcionalidade, opcionalidade e flexibilidade, explicando ainda que atualmente assistimos a “um choque que é essencialmente de oferta“, quer na dimensão energética, quer nos constrangimentos das cadeias de distribuição global.

“A política monetária não está particularmente desenhada para responder a choques de oferta. Esse é o grande risco”, acrescentou.