Um 53.º lugar na primeira etapa realizada em Madinat Zayed que valia a 55.ª posição na geral individual, um 34.º lugar na segunda tirada entre Al Hudayriat Island e Abu Dhabi Breakwater que dava uma subida à 40.ª posição com diferenças mínimas de 16 segundos para a camisola amarela que resultavam das bonificações. Os dois primeiros dias da Volta aos Emirados Árabes Unidos, ganhas por Jasper Philipsen e pelo inevitável Mark Cavendish, não trouxeram propriamente grandes motivos de interesse a não ser as chegadas ao sprint, com os portugueses em prova, João Almeida e Rúben Guerreiro, a terem sobretudo a preocupação de terminar sem problemas e a fugir ao vento que podia causar quedas. Agora começava a ser diferente.

Apanhou dois sustos mas fez história: João Almeida consegue primeiro pódio da carreira numa corrida do World Tour

Apesar de ser o contrarrelógio muito curto, ainda para mais numa prova de apenas uma semana com pouco mais de 1.000 quilómetros, os 9.000 metros da terceira etapa em Ajman prometiam já promover algumas mudanças na classificação geral antes da primeira chegada a subir desta quarta-feira, em Jebel Jais. E se para Rúben Guerreiro, da EF Education, a prioridade passava por perceber as sensações do início de temporada antes da Strade Bianchi e da Tirreno-Adriático, João Almeida, na primeira prova da equipa da “casa”, a Team Emirates, encontrava uma oportunidade inicial para se começar a mostrar dentro do pelotão.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Uma coisa é o João, outra é o João em corrida. Não diria que fico uma besta mas ligo o race mode e é desafiar o corpo até ao limite”

“Estou entusiasmado por começar a competir. Este ultimo estágio, na Serra Nevada, integrou-me completamente na equipa, por isso resta-me corresponder à expectativa criada em meu redor. Acredito que tudo irá correr bem, embora algumas coisas precisem de tempo. Em relação a esta primeira prova, o percurso é muito idêntico ao do ano passado, em que fui terceiro da geral”, tinha comentado antes da prova ao jornal A Bola o corredor português de 23 anos, que tinha como líder da equipa na competição o bicampeão do Tour, Tadej Pogacar, que sofreu um ligeiro atraso na preparação após contrair Covid-19.  “Confio que vou liderar a equipa mas também sabemos quão bom pode ser o João Almeida. Temos treinado muito juntos ultimamente e entendemo-nos bem. Se ele estiver forte para ganhar também ficarei feliz”, referira o esloveno, vencedor em 2021 à frente de Adam Yates (Ineos) e de… João Almeida (Deceuninck).

João Almeida tentava defender um número fabuloso nos últimos anos: tinha acabado no top 10 de 87% dos contrarrelógios feitos. E conseguiu

Era nesse contexto que chegava esse primeiro (curto) momento para brilhar do corredor de A-dos-Francos, que em 2021 conseguiu nos Emirados o seu primeiro pódio em corridas do World Tour. E com um número impressionante que era apresentado pela organização da prova quando o português estava na estrada: em 87% dos contrarrelógios que disputou desde 2019, João Almeida tinha feito top 10. Este foi mais um. E com um dos melhores tempos que ficariam acima dos dez minutos, uma barreira que apenas Stefan Bissegger, o grande corredor do dia (9.43), e Filippo Ganna (9.50) conseguiram bater até sair Tadej Pogacar.

Com Rúben Guerreiro a terminar com um tempo esperado para quem não é especialista e tinha o foco já na montanha desta quarta-feira (10.28), faltava apenas conhecer o tempo do esloveno, tendo em conta que Adam Yates só num dia completamente atípico poderia entrar nesta luta (embora tenha feito uma grande etapa). Quando Pogacar saiu, Almeida era o terceiro melhor com 10.05, a 22 segundos de Bissegger e 15 do campeão mundial Ganna, à frente de outros candidatos à geral individual que são também fortes no contrarrelógio como Aleksandr Vlasov, que logo no início da temporada ganhou a Remco Evenpoel a Volta à Comunidade Valenciana. O esloveno acabou em terceiro, com 10.01, ganhando apenas por quatro segundos ao português mas sem conseguir baixar também da fasquia dos dez minutos. Faltava apenas Tom Dumoulin entre os principais especialistas e o neerlandês da Jumbo fez mesmo o terceiro tempo (9.57), colocando João Almeida como quinto melhor da etapa e em boa posição individual e coletiva para Jebel Jais.

Na classificação geral, Stefan Bissegger ficou com a camisola amarela, tendo sete segundos de vantagem do italiano Filippo Ganna. Jasper Philipsen, anterior líder, baixou para a terceira posição a 12 segundos, seguido de Tom Dumoulin (14s), Tadej Pogacar (18s) e João Almeida (22s), atual sexto classificado. Stefan de Bod (24s), Aleksandr Vlasov (25s), Neilson Powless (28s) e Adam Yates (29s) fecham o top 10 antes da etapa rainha, o que significa que, além da dupla da Team Emirates, há ainda mais dois corredores da EF Education, dois da Ineos e os líderes da Astana, da Jumbo, da Alpecin e da Bora para uma tirada que promete.