O ator Chetan Kumar foi preso no estado de Karnataka (Índia) por criticar o juíz Krishna Dixit, que está a decidir sobre a proibição do hijab nas universidades do país.
Na publicação do Twitter, feita a 16 de fevereiro, Kumar relembrou os “comentários perturbadores” de Dixit quando colocou em causa o comportamento de uma mulher depois de alegadamente ter sido violada: “Ela estava cansada e adormeceu”, atitude que, disse o juíz, “é imprópria para uma mulher indiana”, de acordo com o screenshot de 2020 que acompanhou o post.
This is a tweet I wrote nearly two years ago regarding a Karnataka High Court decision
Justice Krishna Dixit made such disturbing comments in a rape case
Now this same judge is determining whether #hijabs are acceptable or not in govt schools
Does he have the clarity required? pic.twitter.com/Vg8VRXmJTW
— Chetan Kumar Ahimsa / ಚೇತನ್ ಅಹಿಂಸಾ (@ChetanAhimsa) February 16, 2022
Agora esse mesmo juíz está a determinar se os hijabs são aceitáveis ou não nas escolas do governo. Ele tem a clareza necessária?”, questiona na publicação que o levou para trás das grades.
A polícia de Bangalore acusou Kumar de “intenção de incitar uma classe ou comunidade a cometer ofensas” e “de provocar a rutura da paz”, segundo o The News Minute, acrescentando que ele será presente a um magistrado judicial, sem especificar quando.
Por sua vez, a mulher de Kumar, Megha, admitiu nos comentários de um direto do Facebook que o marido “desapareceu de casa”. “Ninguém nos informou [sobre a prisão], o telemóvel está desligado, assim como o do nosso atirador [segurança]”, alegou.
Este episódio despertou a zanga entre os cibernautas, tais como a do jornalista Dilip Mandal que não compreende a razão da punição por um mero comentário.
कन्नड़ फ़िल्मों के एक्टर @ChetanAhimsa ने जज दीक्षित की इस बात का विरोध करते क्या ग़लत कर दिया कि आज उन्हें गिरफ़्तार कर लिया गया? दीक्षित ने अपने फ़ैसले में लिखा था कि – “रेप के बाद सो जाना भारतीय महिलाओं को शोभा नहीं देता!” #Jaibhim_ChetanAhimsa pic.twitter.com/k50GW2fEuv
— Dilip Mandal (@Profdilipmandal) February 22, 2022
Outro utilizador descreveu o ato da polícia como “ultrajante”, escrevendo também que com isto o país “chegou ao fundo do poço”.
Arresting @ChetanAhimsa for calling out misogynistic remarks by a High court judge clearly shows that we have hit rock bottom. This is outrageous and must be condemned strongly and widely. #jaibhim_ChetanAhimsa
— Shaileshwar Yadav (@Shaileshwar21) February 22, 2022
Conhecido ativista dos direitos dalits (os que estão na base do sistema de castas na Índia), Kumar enfrenta ainda duas queixas policiais por comentários contra a comunidade brâmane, a que está no topo da hierarquia.
Na Índia, as críticas contra o poder judiciário são muitas vezes sinónimo de aprisionamento. Em 2021, por exemplo, a principal agência de investigação do país, a CBI, prendeu cinco pessoas por supostamente fazerem publicações depreciativas nas redes sociais contra a justiça vigente no país. Um ano antes, em 2020, o advogado indiano e ativista dos direitos civis Prashant Bhushan foi considerado culpado de desrespeito ao tribunal depois do Supremo Tribunal julgar dois dos seus tweets ofensivos.