Um “apartheid religoso” que está a dividir os estudantes universitários na Índia, que já levou ao aumento da violência e ao encerramento de faculdades. O motivo? A proibição do uso do hijab nas universidades. O assunto ganhou relevância em janeiro, quando a universidade pública de Udupi, no estado de Karnataka, informou as estudantes muçulmanas que ou tiravam o lenço, ou não podiam assistir mais às aulas. 

Seis alunas muçulmanas de Udupi manifestaram-se durante semanas após a decisão, mas não teve qualquer efeito prático, conta o The Guardian. Aliás, o que aconteceu foi que outras universidades de Karnataka seguiram o exemplo e proibiram o uso do hijab. E o próprio governo regional publicou uma norma, no sábado, em que pedia aos reitores universitários para assegurar que os estudantes não utilizavam “roupa que pudesse perturbar a igualdade, a integridade e a lei”, numa alusão ao lenço islâmico.

A reação não tardou e os alunos muçulmanos revoltaram-se, levando o assunto a um tribunal regional. Argumentam que estão a sofrer um “apartheid religioso”, uma vez que, em algumas universidades, as estudantes podem entrar com hijab, mas têm aulas numa sala à parte. Dizem ainda que o seu direito à liberdade de religião está a ser violado. 

Nas universidades do estado de Karnataka, vários estudantes muçulmanos partiram para protestos, alguns deles violentos, que obrigaram mesmo à intervenção da polícia. Na terça-feira, o governante estatal, Basavaraj S. Bommai, teve de suspender as aulas nas universidades para conseguir “manter a paz e harmonia”. 

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O partido de Basavaraj S. Bommai — Bharatiya Janata — tem um pendor hindu nacionalista e também governa o país. Dentro do partido, existe uma ala antimuçulmana, que incentiva a violência e o sentimento contra a minoria religiosa, que totaliza 12% da população indiana. Neste contexto, um alto dirigente do partido da região Karnataka apoia a não utilização do hijab, explicando que não queria que as salas de aulas se transformassem em lugares onde estão “talibãs”.

Em contrapartida, o líder da oposição do partido do Congresso Nacional, Rahul Gandhi, foi bastante crítico da situação. “Deixando o hijab de fora da educação, estamos a roubar o futuro das filhas da Índia”, afirmou, caracterizando como uma “violação dos direitos fundamentais” a proibição do lenço islâmico.

Também a vencedora de um prémio Nobel paquistanesa, Malala Yousafzai, descreveu a situação como “horripilante” e apelou ao fim da “marginzalização das mulheres indianas”.