O polémico sistema de votação online que foi usado para algumas regiões nas últimas eleições russas vai ser estendido a todo o país. É essa a consequência de uma lei já aprovada no Parlamento russo e assinada por Vladimir Putin esta segunda-feira.

Como a Reuters noticia, isto significa que o sistema, que tinha sido parcialmente implementado nas eleições do ano passado, vai assim poder ser usado em eleições e referendos a nível local e nacional na Rússia — as próximas presidenciais estão marcadas para 2024.

Este é o mesmo sistema que foi duramente criticado por opositores e observadores independentes nas últimas eleições por, diziam os críticos, ser uma “caixa negra” e até um sistema “cruel” (palavras do analista independente Sergey Shpilkin, citado no ano passado pelo Washington Post).

Uma coligação de candidatos que se opunham a Putin nessas eleições parlamentares de setembro de 2021 (que o partido do Presidente voltou a ganhar com maioria absoluta) tentou, aliás, anular os resultados, através de processos em tribunal e pressão pública.

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Como contava o Washington Post nessa altura, Putin respondia então que o sistema era o futuro e que não poderia ser “parado”, atribuindo as críticas aos que “não gostaram do resultado”.

Mas as críticas não partiram apenas dos seus opositores políticos. Analistas de dados e especialistas em estatística, citava então o jornal, questionavam certos picos de votação — em horários específicos, resultavam em grandes votações para o partido de Putin mesmo em zonas onde a oposição teria mais apoio –, assim como a possibilidade de se mudar de voto (dos 1,9 milhões de votantes em Moscovo, 300 mil mudaram os votos, sem se saber qual foi o resultado ou a tendência da mudança).

Além disso, os resultados apontavam apenas quantos votos em cada candidato tinham sido contados, e não quais os resultados por região, o que torna o escrutínio mais complicado.

Se do lado pró-Putin se criticava a “desinformação” promovida pelos críticos e se assegurava que os resultados eram explicados pela maior inclinação dos apoiantes do Presidente a usar o sistema de votação online, entre os críticos a opinião era bem mais cética: o sistema facilitaria a “falsificação” de resultados sem escrutínio possível. É esse sistema que se aplicará agora à Rússia inteira, em todas as eleições.