As questões de género estiveram praticamente ausentes das campanhas eleitorais em Timor-Leste, apesar da participação recorde de candidatas e eleitoras, que votaram mais do que os homens, disse a ONU Mulheres.

Dada a elevada participação de mulheres no dia da votação, na primeira volta das presidenciais timorenses, podem estar a perder-se oportunidades de destacar as questões de género no debate político, considerou a chefe da ONU Mulheres em Timor-Leste, Nishtha Satyam, numa nota enviada à Lusa.

“Tendo em conta que a maioria das campanhas, comícios e manifestos não visavam questões de género que impactam profundamente as mulheres e as suas vidas, estamos a perder a oportunidade de alcançar e converter aqueles que aparecem para alavancar a sua voz através do voto“, questionou, quando o país se prepara a segunda volta das presidenciais, marcada para 19 de abril.

A ONU Mulheres notou que a taxa de participação entre as mulheres foi de 77,91% contra 76,65% dos homens, com diferenças ainda maiores em alguns municípios, como Díli (mulheres 79,6%, homens 73,6%), Aileu (86,5% mulheres e 84,4% homens), Baucau (mulheres 75,2% e homens 73,6%), e Lautem (mulheres 77,8% e homens 76%).

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Também na diáspora foi registada uma diferença grande (mulheres 42,3%, homens 37,3%), acrescentou.

A responsável considerou que pode haver um ponto de viragem na questão da ação das mulheres na política, especialmente devido ao número recorde de candidatas, quatro em 16 candidatos.

“Esta é a primeira eleição presidencial onde um número significativo de mulheres se apresentaram como candidatas. E foi a segunda eleição presidencial em que uma candidata obteve apoio significativo, Armanda Berta dos Santos (KHUNTO) com 8,7% dos votos”, referiu.

Nishtha Satyam lembrou que, em 2007, a mais jovem candidata Lúcia Lobato (PSD) obteve 8,9% dos votos.

“Na primeira volta, em 2022, as quatro candidatas obtiveram 10,3% dos votos”, sublinhou.

A responsável salientou que Timor-Leste tem já “uma das maiores proporções de mulheres no parlamento a nível global e a mais alta na Ásia e no Pacífico”.

Ainda assim, e citando observadores da UE, notou que “as mulheres participaram em números mais baixos do que os homens em eventos de campanha, com poucas mulheres entre os intervenientes”.

“As mensagens de campanha raramente eram dirigidas a questões que afetam as mulheres. Os observadores da UE indicaram ainda que em mais de 120 eventos de campanha apenas três candidatos se manifestaram sobre a questão da violência doméstica contra as mulheres”, sublinhou.

A campanha da segunda volta, disputada entre José Ramos-Horta e Francisco Guterres Lú-Olo, termina nesta quarta-feira.