A deputada Patrícia Faro, vice-presidente da bancada do PS, tem na biografia do site do Parlamento que desempenhou as funções de “chefe de gabinete da secretária de Estado da Cidadania e Igualdade”, mas na verdade foi  “técnica especialista“. E apenas durante seis meses. A referência terá incomodado membros de gabinetes que trabalharam perto da agora deputada no Executivo, pois sabiam que a informação era falsa. Patrícia Faro, contactada pelo Observador, nega alguma vez ter escrito essa referência e acrescenta que seria “ridículo” mentir em algo que é público. No entanto, deputados de várias bancadas, incluindo do PS, confirmam ao Observador: “Só os deputados é que preenchem as suas biografias, mais ninguém interfere no processo”.

Começando pelo início da história, Patrícia Faro foi nomeada técnica especialista a 21 de abril de 2021 e foi exonerada a 30 de setembro do mesmo ano. Muitas vezes, outros membros do gabinete assumem as funções de chefe de gabinete, mas também não foi isso que aconteceu. A antiga secretária de Estado da Igualdade, Rosa Monteiro, confirmou ao Observador que Patrícia Faro nunca foi sua chefe de gabinete e que isso “só pode ser um equívoco”, já que teve como chefe de gabinete “primeiro Pedro Ruas e depois Sofia Borges Pereira” e que “mesmo em substituição, quem ocupou essas funções foi [o adjunto] Virech Maugi”.

Confrontada com esta informação falsa divulgada no site da Assembleia da República, Patrícia Faro diz que escreveu sempre a indicação de que era técnica especialista. Sobre a nota biográfica, admite que a escreveu “no primeiro dia” de Parlamento, quando estava “numa fila imensa”, num momento em que tirou “fotografias” e em que foi feito “esse registo”. A deputada do PS lembra assim que preencheu os dados, mas não que escreveu que foi chefe de gabinete. E insiste: “Não faria qualquer sentido. Se é algo que é público, eu não iria fazer uma troca propositada. Não sei o que é que aconteceu. Tenho de ver e tenho de perguntar”.

Questionada sobre se podiam ter sido os serviços, responde: “Não faço ideia”. Disse ainda que na página do grupo parlamentar do PS a biografia está correta. Quando o Observador se ofereceu para enviar o link onde estava a informação, a deputada foi taxativa: “Não quero que me envie nada“. Após insistência sobre se podia garantir nunca ter escrito tal informação na nota biográfica, a deputada acabou por terminar a chamada a repetir: “Obrigada, obrigada, obrigada”.

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Captura de ecrã do site do Parlamento no dia 3 de maio às 20h20

Apesar de a deputada alegar que no site do Grupo Parlamentar do PS a informação está correta (o que se pode verificar aqui), no site da Federação distrital do PS/Porto, Patrícia Faro volta a aparecer como tendo exercido o cargo de “chefe de gabinete da Secretaria de Estado Cidadania e Igualdade”.

Captura de ecrã do site da Federação PS/Porto no dia 3 de maio às 20h20

“São os próprios deputados que preenchem e que podem alterar. Mais ninguém mexe”

A nota biográfica dos deputados é, no fundo, a página de apresentação dos eleitos aos eleitores no site do Parlamento. Nessa nota biográfica estão informações como o “nome completo”, a “data de nascimento”, a “profissão”, bem como várias informações sobre habitações académicas e outras notas curriculares.

No dia 29 de março, dia da tomada de posse dos deputados, estes foram encaminhados para o “acolhimento”. Trata-se de um espaço em que os deputados tiram as fotografias oficiais e onde — acompanhados por um funcionário dos serviços da Assembleia da República — preenchem num computador a sua nota biográfica. No caso dos deputados que já o eram em legislaturas anteriores (que não é o caso de Patrícia Faro — que é estreante) algumas informações já vinham pré-preenchidas.

Apesar de um funcionário da AR estar presente no momento, um deputado do PS com a experiência de várias legislaturas confirma ao Observador que “são os próprios deputados que preenchem as informações e que, mais tarde, as podem alterar. Mais ninguém mexe”. Um outro deputado socialista explica ao Observador: “Não há dúvida. Só os deputados preenchem essa nota. O que acontece é que, quando o deputado pede para alterar uma informação, essa retificação fica a aguardar uma aprovação dos serviços. Aí é que os serviços intervêm. No resto, não. São os deputados que preenchem sozinhos”.

Outros três deputados do PSD — um deles estreante, outros dois com mais legislaturas — confirmam que é este o procedimento e que a nota é preenchida individualmente pelos deputados. “Mais ninguém está autorizado a preencher. Nós estamos no computador e o funcionário só nos ajuda a tirar dúvidas, os serviços não preenchem nada”.

Quem é Patrícia Faro?

Patrícia Faro é uma deputada eleita pelo círculo do Porto e, apesar de ser estreante no Parlamento, é uma das vice-presidentes do grupo parlamentar do PS. Licenciada em Serviço Social, a deputada tem ainda um mestrado em psicologia jurídica e, quando estava no Governo, frequentava um doutoramento em sociologia. Tem ainda, segundo o despacho de nomeação para técnica especialista, uma pós-graduação em “Problemas Jurídicos da Droga e Toxicodependência”.

A deputada foi ainda presidente da Comissão Administrativa da Delegação de Matosinhos da Cruz Vermelha Portuguesa, de 2018 até 22 março 2021 e diretora técnica da Casa de Abrigo para Mulheres Vítimas de Violência Doméstica na DL de Matosinhos da Cruz Vermelha Portuguesa de 2005 até 28 de março de 2021.

Nas legislativas de janeiro, Patrícia Faro era a 15.ª deputada da lista do Porto, distrito onde o PS elegeu 19 deputados. É ainda membro do Secretariado do PS-Porto. Foi também deputada municipal no Porto. Faz ainda parte da Estrutura Federativa das Mulheres Socialistas no Porto.