Quando de repente começou a ouvir aquele barulho no carro que todos os pilotos mais temem, Charles Leclerc teve o instinto para fazer tudo o que alguém na sua posição faz de forma inconsciente: bateu com o pé no acelerador, procurou o que se podia estar a passar nos 1.001 botões do volante, falava aflito pelas comunicações com a equipa. “O que se passa? O que se passa?”, perguntava. De forma vagarosa lá levou o carro ainda até à box da Ferrari mas de lá não voltou a sair. O Grande Prémio de Espanha tinha escrito um vencedor mas acabou com outro, neste caso o outro do costume, Max Verstappen. E tudo mudou.

O vento mexeu com a corrida, um motor mudou o Mundial: Verstappen corrige erro, vence em Espanha e ultrapassa Leclerc na liderança

Leclerc ganhou no Bahrain, foi segundo na Arábia Saudita e voltou a vencer na Austrália, construindo uma vantagem confortável na frente do Mundial de Fórmula 1 aproveitando os problemas que os Red Bull iam apresentando. Em Emília-Romanha e em Miami, o avanço foi encurtado. Em Montmeló, houve mesmo uma troca de líder. Ainda assim, a reação do piloto da Ferrari impressionou: foi cumprimentar todos os elementos da equipa, encolheu os ombros pelo azar, quis esquecer nesse momento o que se tinha passado a focar atenções na próxima prova. A “sua” prova. E apostava tudo no Grande Prémio do Mónaco.

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Naquele sítio onde conhece os nomes das ruas e todos os seus cantos como se fosse a sua casa (que no fundo é), Leclerc foi o grande destaque das duas primeiras sessões de treinos livres. Os dois Ferrari foram os mais rápidos, os Red Bull não andaram longe, os McLaren estiveram globalmente melhores do que os Mercedes (sendo que Hamilton continua num mundo à parte que nada tem a ver com aquele onde chegou sete vezes a campeão mundial), os Alpine deram bons sinais, os Alfa Romeo eram uma incógnita. Todavia, esta manhã, Sergio Pérez conseguiu “abrir” as contas, sendo o mais rápido da terceira sessão de treinos livres à frente dos Ferrari e do companheiro Verstappen. Mais: Hamilton superou Russell.

Tudo isso aumentava a expetativa em relação ao que se poderia passar na qualificação a tarde deste sábado, algo que como se viu no ano passado não tem de de significar necessariamente um triunfo na corrida – após ser o mais rápido e ganhar a pole position no ano passado, Leclerc mal rodou devido aos problemas mecânicos que lhe estragaram a prova. Agora, saindo de novo à frente, quer esquecer tudo isso.

A Q1 decorreu dentro da normalidade, de novo com os Ferrari na frente, os Red Bull logo atrás até George Russell conseguir colocar-se à condição em terceiro e os McLaren a poderem ter uma surpresa inesperada depois de um toque de Tsunoda que furou o pneu, motivou bandeira vermelha e deixou a dupla da equipa britânica entre o 15.º e o 16.º lugares por momentos, antes de uma volta com um terceiro setor recorde que colocou Lando Norris em quarto. O primeiro corte, esse, não trouxe o que se esperava: Albon e Gasly andaram sempre a rodar na qualificação para caíram com Lance Stroll, Latifi e Guanyu Zhou. E o segundo também não, com apenas cinco equipas nos dez primeiros durante alguns minutos até Daniel Ricciardo cair para 14.º, caindo na Q2 com Tsunoda, Valtteri Bottas, Magnussen e Mick Schumacher.

O Aston Martin de Sebastian Vettel foi o intruso entre Ferrari, Red Bull, Mercedes, Alpine e Lando Norris, sendo também à partida o único que não teria uma palavra a dizer na Q3. E a lei do mais forte acabou por imperar, com um final de sessão atípico de bandeira vermelha a dois minutos do final do tempo: Sergio Pérez teve uma saída de pista perto da zona do túnel, Sainz ainda travou mas acabou por bater (ainda que de forma ligeira) no Red Bull cortando por completo a passagem e mais atrás também Alonso teve uma saída em frente. Na dianteira, com uma volta que podia baixar o tempo do 1.11, Leclerc garantiu a pole seguido de Sainz e dos Red Bull de Pérez (sempre o melhor da equipa) e Verstappen. Fecharam o top 10 das cinco primeiras linhas da grelha Lando Norris, Russell, Alonso, Hamilton, Vettel e Ocon.