O Pitch at the Beach, evento onde startups têm a oportunidade de apresentar os seus negócios a investidores, vai expandir-se para lá do México pela primeira vez e a porta de entrada para a Europa é Portugal, mais especificamente Oeiras.

Considerado “o evento de investimentos mais importante e disruptivo da América”, o Pitch at the Beach quer quebrar “o paradigma” e mostrar que nem todas as reuniões de negócios têm de ser iguais. “Todas as salas onde se realizam as conferências são iguais. Quatro paredes, um palco no fundo, alguns oradores, som e luzes. E é isso. Podes estar em Lisboa, na Cidade do México ou em Nova Iorque… são todas iguais. Então pensei: ‘temos que fazer algo disruptivo'”, explica Israel Pons, cofundador do evento, em entrevista ao Observador por videochamada.

O local escolhido para os empresários e as startups fazerem negócios com os investidores foi a praia. O sítio onde, considera Israel, “somos mais humanos” e “onde estamos mais confortáveis”. No México, onde o evento já teve uma edição este ano, das 32 startups presentes, 28 conseguiram “fazer negócio”. Já em Portugal, entre 2 e 4 de julho, a Marina de Oeiras acolhe o Pitch at the Beach e o empresário mexicano acredita que o sucesso em termos de investimentos vai continuar. São esperadas entre 150 e 200 pessoas no local.

Esperamos isso [startups a fecharem negócio] em Portugal. Temos investidores da Europa, da América Latina e dos EUA a virem [ao evento]. Vão ver as startups e ter a oportunidade de apostar nelas”.

Para o evento em Oeiras está previsto que 30 startups apresentem os seus negócios a um grupo de investidores e de cinco jurados, em cinco minutos. Deste leque, que ainda não está fechado, fazem parte sete empresas portuguesas. Questionado pelo Observador sobre os nomes das empresas, Israel Pons afirma apenas que ainda “é surpresa”, mas que “serão anunciados em breve”.

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Os critérios para a escolha das startups que vão fazer o pitch — dentro do universo das 135 que se candidataram através do site do evento — são dois: se já “angariaram dinheiro de investidores, o que significa que convenceram pessoas a acreditarem no projeto e a darem-lhes dinheiro” ou se o “produto já está a ser vendido a um cliente, o que significa que convenceram o mercado sobre a ideia o suficiente para que este pagasse pelo serviço ou pelo produto”, têm possibilidade de ser escolhidas.

As empresas selecionadas para fazer a apresentação do negócio não terão de pagar para entrar no evento, mas terão de suportar as restantes despesas, desde custos de viagem a alojamento. “Todas as startups que viajam para um determinado local, viajam porque querem lá estar. Se não tiveres dinheiro para voar e para estar no Pitch at the Beach não deves ir. Não é o teu evento”, justifica Israel Pons.

Já as startups que têm a possibilidade de estar presentes no evento são de “múltiplas indústrias” — saúde, educação, biotecnologia ou agrotecnologia — , mas têm todas “um elemento tecnológico” no negócio. A tecnologia é, para o cofundador do evento, uma forma de “ajudar as empresas a chegar ao mercado mais rapidamente”.

O que levou o Pitch at the Beach a escolher Oeiras?

Uma escolha “natural” num país que tem “pessoas mais quentes e mais abertas” do que outros. É assim que Israel Pons justifica a escolha de Portugal para o primeiro Pitch at the Beach fora do México. A “qualidade de vida”, o “hub tecnológico” e o “acesso a inovação e tecnologia” presentes em Oeiras levaram a organização do evento a optar por essa vila.

Em resposta ao Observador sobre o investimento feito para ser possível que o evento chegue à Europa, o cofundador disse apenas que foi “uma quantia de dinheiro substancial”. Porém, relembra que as pessoas vêm a Portugal para “olhar para investimentos e startups“, mas “vão gastar dinheiro e ver Oeiras como um destino turístico quando regressarem” a casa.

As pessoas vêm e gastam dinheiro em serviços locais, em hotéis, em comida. Algumas pessoas vão ficar e aproveitam umas férias em Oeiras”, acrescenta para explicar os benefícios que acredita que o evento terá para Portugal.

O empresário mexicano não especificou se a organização do evento implicou alguma contrapartida financeira, limitando-se a dizer que a autarquia de Oeiras ajuda a “espalhar a mensagem” e dá “certas facilidades”, como a possibilidade de escolher a Marina de Oeiras para receber o evento. “Oportunidade de negócio, inovação, boa qualidade de vida, bom cenário, muitos angel investors. Portugal foi o ideal [para o primeiro evento na Europa] e depois o fator mais importante: encontrámos um parceiro incrível — Eduardo Baptista Correia”, conta Israel Pons.

Eduardo Baptista Correia é CEO do Taguspark, e deixa elogios ao empresário mexicano. Acredita que o evento pretende trazer “para junto do Taguspark e do Oeiras Valley um conjunto de talentos que vai promover as suas startups, as suas ideias e os seus negócios” a investidores provenientes “de várias geografias do mundo”.

O espírito deste encontro é procurar unicórnios. Por isso é que é tão importante este contexto de internacionalização, porque o mercado português é tão pequenino que dificilmente uma empresa atuando exclusivamente em Portugal consegue ascender à categoria de unicórnio [empresas com uma avaliação superior a mil milhões de dólares]”, afirma Eduardo Baptista Correia em declarações ao Observador.

Apesar da internacionalização do evento com oradores e investidores internacionais, o CEO revela que existe também a preocupação de promover uma “portugalidade muito interessante” e as “marcas e conceitos” do país através, por exemplo, de uma noite de poesia ou de uma aula à volta das mil e uma formas de cozinhar bacaulhau — momentos que fazem parte do programa do evento.

Os oradores confirmados e os parceiros em Portugal

Zev Siegl, cofundador do Starbucks, e Swati Mandela, ativista e neta de Nelson Mandela, são dois dos nomes dos oradores já confirmados pela organização do evento. “O Zev Siegl está contigo três dias, podes falar com ele na praia, podes falar com ele quando formos ler poesia numa noite no Parque dos Poetas… isso é interessante”, afirma Israel Pons. Entre os nomes portugueses destacam-se o CEO do Taguspark, Eduardo Baptista Correia, Ana Figueiredo, CEO da Altice Portugal, ou Paulo Pereira, account director da Huawei em Portugal.

Israel Pons confirma, em declarações ao Observador, que todos os oradores estarão em Oeiras e que nenhum fará a sua intervenção por videochamada.”Vão estar connosco durante três dias. Para as startups é incrível porque às vezes não conseguem falar com estas pessoas. É muito difícil chegar até elas e ter uma reunião. Este é uma grande oportunidade para isso”.

Para conseguir trazer o evento para Portugal, o Pitch at the Beach aliou-se não só ao Taguspark como também à Altice Portugal, Huawei Portugal e o Oeiras Valley. Estes patrocinadores têm a responsabilidade de organizar o evento: “Nós ajudamos com recursos humanos e financeiros para que o evento aconteça”, garante Eduardo Baptista Correia.

O “monstro” que é a Web Summit

Ao longo dos anos, o número de eventos que quer dar a conhecer às pessoas empresas inovadoras aumentou. A Web Summit continua a destacar-se como um dos maiores. Um “monstro” com “milhares de pessoas”, como lhe chama Israel Pons, que rejeita comparações entre o Pitch at the Beach e esta feira.

Todos os eventos que são monstruosos tens ao redor do mundo. Já estive nestes sítios, sei como é. E é fantástico se só quiseres olhar à tua volta, ouvir um ou dois oradores…no Pitch at the Beach as pessoas vêm e conectam-se. Em grandes eventos é muito difícil fazer isso”, frisa.

Mas, no entender do empresário mexicano, não é só isso. A pegada ecológica “mínima” em eventos “mais pequenos, muito diretos e muito conectados”, leva o empresário a garantir que “não tem sentido” fazer uma feira com “20 mil pessoas”, que tem um “impacto muito pequeno” nos negócios e uma “pegada ecológica que não é boa para o planeta”.

Na perspetiva do CEO do Taguspark é possível comparar os dois eventos, mas também destaca as diferenças entre ambos. “A Web Summit é um macro, macro evento. É essencialmente um evento que promove a cidade de Lisboa do ponto de vista turístico. Passam milhares de pessoas pela Web Summit. O Pitch at the Beach é um evento muito exclusivo, onde as pessoas estão juntas sem distrações adicionais.”

Israel Pons e Eduardo Baptista Correia aguardam o impacto do primeiro Pitch at the Beach em Portugal para perceber se existe a possibilidade do evento regressar nos próximos anos — questão que será discutida “no dia imediatamente a seguir ao Pitch at the Beach ter terminado em Oeiras”.