Alguns dos casos de varíola dos macacos detetados em Portugal relacionados com a “presença em eventos específicos”, como saunas usadas para encontros sexuais; viagens para o Brasil, Reino Unido e Espanha durante o período de incubação do vírus; e contactos com estrangeiros. Mas “a maioria dos casos não fazia parte das cadeias de transmissão identificadas, nem estava vinculada a viagens ou contacto com pessoas sintomáticas ou com animais”.

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Estas são as conclusões que a Direção-Geral da Saúde (DGS) descreve num estudo em que traça pela primeira vez o percurso do vírus em Portugal. As informações foram publicadas na última quinta-feira no Europe’s Journal on Infectious Disease Surveillance, Epidemiology, Prevention and Control; e destacadas esta segunda-feira pelas autoridades de saúde. Os autores concentraram-se em 27 casos confirmados para agregar os resultados preliminares da investigação em Portugal, onde a doença não é endémica.

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um dos casos analisados pelas autoridades de saúde até 27 de maio confirmou que tinha contactado com alguém com sinais indicativos de uma infeção por monkeypox nos 21 dias anteriores ao início dos sintomas — todos os outros parecem ser casos independentes de infeção. Há ainda três pessoas que informaram ter tido contactos com animais três semanas antes de desenvolveram sintomas de varíola dos macacos; e quatro que viajaram para fora de Portugal. É desconhecida a origem dos outros casos.

Depois de entrevistar os casos confirmados entre 29 de abril e 23 de maio, as autoridades de saúde obtiveram informação pormenorizada de 27 casos — todos eles do sexo masculino. Quase metade (14) são pessoas com o sistema imunitário comprometido pelo facto de estarem infetadas pelo vírus da sida (VIH). A data mais precoce de início de sintomas apontada às autoridades de saúde é 29 de abril.

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A maioria dos casos foi registada em Lisboa e Vale do Tejo: apenas um deles reside no Norte e outro no Algarve. Três pessoas necessitaram de internamento hospitalar, mas nenhuma tinha um quadro clínico grave. Treze dos 27 casos têm entre 30 e 39 anos. Sete estão na faixa etária dos 20 anos, três têm 40 a 49 anos e uma está na casa dos 50 anos. Há ainda três pessoas cuja idade não foi possível apurar.

Os sintomas mais comuns entre os 27 casos são o desenvolvimento de manchas na pele (14 casos), inchaço dos gânglios linfáticos na zona genital (14 casos) e febre (13 casos). Outros sintomas incluem sensação de falta de energia, dores de cabeça, úlceras e vesículas nos genitais, dores musculares, inchaço dos gânglios linfáticos na cervical e nas axilas.

De acordo com o estudo, entre 5 e 27 de maio, houve 145 casos suspeitos (133 homens e 12 mulheres) de infeção. As amostras foram recolhidas em 23 estabelecimentos de saúde. Como a maioria destes indivíduos pertence à comunidade LGBTQI+, as autoridades de saúde pública dizem estar a envolver os líderes comunitários “na comunicação de risco e mobilização social”. Esse esforço está a ser efetuado “com uma consideração cuidadosa para garantir uma abordagem não estigmatizante”, asseguram os autores.

Segundo a DGS, o monkeypox estará a circular “abaixo da capacidade de deteção dos sistemas de vigilância” — ou seja, as autoridades de saúde acreditam estar a conseguir detetar em grande medida os casos de infeção pelo vírus monkeypox. Mas os autores do estudo admitem que “a falta de uma exposição identificada” em muitos casos “levanta questões sem resposta”.