A polémica em torno do jogador cabo-verdiano Ivan Almeida teve início ainda antes do jogo 4 da final da Liga de basquetebol entre Benfica e FC Porto, no Dragão Arena, mas a proximidade do apito inicial daquele que poderia ser o encontro do título (como viria mesmo a ser) acabou por retirar algum impacto em relação a tudo aquilo que o extremo tinha escrito nas redes sociais, onde não poupou sequer o próprio clube.

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“Os que calaram perante isto, e já passaram isto por baixo do tapete como poeira, também contribuem para o racismo. Nem a Federação de Basquetebol nem o meu clube Benfica e nem o FC Porto se pronunciaram sobre o sucedido no Dragão Caixa (“Preto, macaco, volta para a tua terra.”). O silêncio também é racismo. E sei que vem para aqui muita gente dizer para mostrar dentro do campo, para não ligar, que as pessoas são estúpidas e que outras não sabem o que dizem. Outros vão dizer não há racismo em Portugal e que me estou a fazer de vítima. Digo-vos também que por baixo deste atleta profissional africano tem um ser humano como todos”, escreveu o jogador na sua conta oficial do Twitter na antecâmara do jogo 4.

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O encontro decorreu dentro da normalidade, apesar dos assobios sempre que Ivan Almeida tocava na bola, e o Benfica conseguiu mesmo a terceira vitória (e por números categóricos, 91-63) que valeu o título de campeão nacional cinco anos depois. Os jogadores cumprimentaram-se no final, imperou um espírito de grande fair-play, mas um gesto do cabo-verdiano a mandar calar os adeptos azuis e brancos quando toda a equipa estava mais perto do setor destinado aos visitantes no Dragão Arena acabou por incendiar um pouco os ânimos, com Max Landis a ser o mais inconformado e a ter mesmo de ser agarrado pelos companheiros no meio de muita confusão que só mesmo no final foi apanhada pelas câmaras televisivas.

“Quero pedir desculpa pelas minhas ações depois do jogo. Essa não é a pessoa que eu sou mas nunca vou permitir que alguém desrespeite os adeptos e o símbolo do FC Porto”, escreveu depois o base americano dos dragões, que mais tarde voltou a falar sobre o assunto. “Agora também sou racista… Algumas pessoas precisam mesmo de fazer uma pesquisa, a minha mãe é de Cuba e metade da minha família é cubana”, recordou. “Dito isto, nunca vou tolerar racismo seja de que forma for. Quem realmente me conhece sabe a pessoa que eu sou. E prometo que esta é a última vez que falo sobre o assunto”, acrescentou. Já Ivan Almeida, depois da festa, escreveu “Bem-vindos à minha selva. Racismo não, Benfica campeão”.

O caso parecia ter ficado pelo jogo 4 que decidiu o Campeonato a favor do Benfica mas uma entrevista de Afonso Barros, diretor geral do basquetebol dos azuis e brancos, trouxe de novo o tema à baila.

“O Ivan Almeida fez uma encenação e uma palhaçada. Eu não precisaria, nem o FC Porto, de defender a ação isolada de um adepto mas não houve racismo. O basquetebol é o desporto de maior diversidade e inclusão, na nossa equipa temos gente de todas as cores e credos religiosos. Ele fez uma encenação à volta de algo que nunca existiu, por querer provocar alguma animosidade. Infelizmente, isso não funcionou a favor de ninguém. Ele é um grande jogador, não precisava disto. Dei os parabéns a todos no Benfica, porque há que saber perder e ganhar. Se alguns dos nossos jogadores não reagiram bem, foi porque não se pode tratar os nossos adeptos assim”, comentou o responsável dos portistas ao jornal O Jogo.

“Palhaçada lol. O meu diretor desportivo também deve ser um palhaço porque ouviu os mesmos insultos. A melhor forma de salvar a pele é encontrar um bode expiatório. A palhaçada foi levar 30 pontos de nós no último jogo. Usar os media para esconder o racismo que se passou é deplorável”, respondeu agora o jogador, numa fase em que os jogadores encarnados regressaram aos trabalhos na Luz antes das férias.