A polémica em torno do jogador cabo-verdiano Ivan Almeida teve início ainda antes do jogo 4 da final da Liga de basquetebol entre Benfica e FC Porto, no Dragão Arena, mas a proximidade do apito inicial daquele que poderia ser o encontro do título (como viria mesmo a ser) acabou por retirar algum impacto em relação a tudo aquilo que o extremo tinha escrito nas redes sociais, onde não poupou sequer o próprio clube.
“Os que calaram perante isto, e já passaram isto por baixo do tapete como poeira, também contribuem para o racismo. Nem a Federação de Basquetebol nem o meu clube Benfica e nem o FC Porto se pronunciaram sobre o sucedido no Dragão Caixa (“Preto, macaco, volta para a tua terra.”). O silêncio também é racismo. E sei que vem para aqui muita gente dizer para mostrar dentro do campo, para não ligar, que as pessoas são estúpidas e que outras não sabem o que dizem. Outros vão dizer não há racismo em Portugal e que me estou a fazer de vítima. Digo-vos também que por baixo deste atleta profissional africano tem um ser humano como todos”, escreveu o jogador na sua conta oficial do Twitter na antecâmara do jogo 4.
Silêncio também é racismo… ✊????✊????✊????✊????✊????❤️@fpbasquetebol @SLBenfica @FCPorto @rtppt pic.twitter.com/wKVLOA4AgG
— Ivan Almeida elCONDOR ☯️ (@ifalmeida) June 11, 2022
O encontro decorreu dentro da normalidade, apesar dos assobios sempre que Ivan Almeida tocava na bola, e o Benfica conseguiu mesmo a terceira vitória (e por números categóricos, 91-63) que valeu o título de campeão nacional cinco anos depois. Os jogadores cumprimentaram-se no final, imperou um espírito de grande fair-play, mas um gesto do cabo-verdiano a mandar calar os adeptos azuis e brancos quando toda a equipa estava mais perto do setor destinado aos visitantes no Dragão Arena acabou por incendiar um pouco os ânimos, com Max Landis a ser o mais inconformado e a ter mesmo de ser agarrado pelos companheiros no meio de muita confusão que só mesmo no final foi apanhada pelas câmaras televisivas.
I want to say sorry for my actions after the game. That is not who I am as a person but I will never let someone disrespect our fans and the @FCPorto logo.
— Max Landis (@MaxLandis) June 11, 2022
“Quero pedir desculpa pelas minhas ações depois do jogo. Essa não é a pessoa que eu sou mas nunca vou permitir que alguém desrespeite os adeptos e o símbolo do FC Porto”, escreveu depois o base americano dos dragões, que mais tarde voltou a falar sobre o assunto. “Agora também sou racista… Algumas pessoas precisam mesmo de fazer uma pesquisa, a minha mãe é de Cuba e metade da minha família é cubana”, recordou. “Dito isto, nunca vou tolerar racismo seja de que forma for. Quem realmente me conhece sabe a pessoa que eu sou. E prometo que esta é a última vez que falo sobre o assunto”, acrescentou. Já Ivan Almeida, depois da festa, escreveu “Bem-vindos à minha selva. Racismo não, Benfica campeão”.
Welcome to my JUNGLE ????
NO RACISM ????????@SLBenfica CHAMPIONS 2022 ????⚪️????❤️ pic.twitter.com/smOZfc7cnT— Ivan Almeida elCONDOR ☯️ (@ifalmeida) June 11, 2022
O caso parecia ter ficado pelo jogo 4 que decidiu o Campeonato a favor do Benfica mas uma entrevista de Afonso Barros, diretor geral do basquetebol dos azuis e brancos, trouxe de novo o tema à baila.
“O Ivan Almeida fez uma encenação e uma palhaçada. Eu não precisaria, nem o FC Porto, de defender a ação isolada de um adepto mas não houve racismo. O basquetebol é o desporto de maior diversidade e inclusão, na nossa equipa temos gente de todas as cores e credos religiosos. Ele fez uma encenação à volta de algo que nunca existiu, por querer provocar alguma animosidade. Infelizmente, isso não funcionou a favor de ninguém. Ele é um grande jogador, não precisava disto. Dei os parabéns a todos no Benfica, porque há que saber perder e ganhar. Se alguns dos nossos jogadores não reagiram bem, foi porque não se pode tratar os nossos adeptos assim”, comentou o responsável dos portistas ao jornal O Jogo.
Palhaçada lol o meu Diretor Desportivo também deve ser um palhaço porque ouviu os mesmos insultos. A melhor forma de salvar a pele é encontrar um bode expiatório. A palhaçada foi levar 30pts de nós no último jogo. Usar a mídia para esconder o racismo que passou é deplorável ✌????????????
— Ivan Almeida elCONDOR ☯️ (@ifalmeida) June 14, 2022
“Palhaçada lol. O meu diretor desportivo também deve ser um palhaço porque ouviu os mesmos insultos. A melhor forma de salvar a pele é encontrar um bode expiatório. A palhaçada foi levar 30 pontos de nós no último jogo. Usar os media para esconder o racismo que se passou é deplorável”, respondeu agora o jogador, numa fase em que os jogadores encarnados regressaram aos trabalhos na Luz antes das férias.