Um tribunal de Moscovo decretou esta quarta-feira a prisão preventiva para Ilya Yashin, um dos últimos opositores do Kremlin que ainda se mantém na Rússia e que foi acusado, como outros, por criticar a “ofensiva militar” russa na Ucrânia.

Ilya Yashin, de 39 anos, vai continuar detido pelo menos até 12 de setembro, anunciou o tribunal, que atendeu ao pedido do procurador.

O Comité de Investigação da Rússia, responsável pelas principais averiguações judiciais, abriu um inquérito criminal contra o opositor por este ter divulgado alegadas “informações falsas” sobre o Exército russo, informou na terça-feira o advogado do ativista, Vadim Prokhorov, numa mensagem publicada na rede social Facebook, que indicou também ter sido contactado por um investigador.

Rússia abre inquérito judicial contra o opositor Ilya Yashin

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No passado dia 28 de junho, Ilya Yashin tinha sido condenado a 15 dias de prisão por alegada “desobediência à polícia”, acusação que o ativista considera não ter qualquer fundamento.

Agora, Yashin enfrenta uma pena de prisão pesada, noticiou a agência France-Presse (AFP).

A “divulgação de informações falsas” sobre os militares russos é um novo crime punível com até 15 anos de prisão, uma medida introduzida na Rússia após o início da invasão da Ucrânia.

Não tenham medo destes patifes, a Rússia será livre!“, gritou o opositor à presidência russa no tribunal, após o anúncio de sua prisão preventiva.

Algumas dezenas de pessoas reuniram-se do lado de fora do tribunal em apoio ao político, segundo noticiou a AFP.

Desde o início da ofensiva, em 24 de fevereiro, as autoridades russas têm intensificado a repressão contra as vozes críticas da invasão, afastando muitos deles para o exílio e detendo ou processando judicialmente outros.

Rússia endurece penas de prisão para quem se oponha ao regime

Ilya Yashin, um reconhecido opositor do Presidente russo Vladimir Putin, optou por ficar no país, apesar de condenar abertamente a intervenção militar na Ucrânia.

“As verdadeiras razões da minha detenção são obviamente políticas. Sou um opositor, um deputado independente (municipal), um crítico do Presidente Putin e um opositor da guerra na Ucrânia”, disse o ativista, quando foi detido no final de junho.

Yashin tem sido uma figura muito ativa na oposição liberal contra o regime russo desde os anos 2000, tendo participado num grande movimento de mobilização contra Putin, em 2011-2012.

É igualmente aliado do ativista anticorrupção Alexei Navalny, reconhecido por ser o principal opositor de Putin.

Navalny está a cumprir uma pena de nove anos de prisão em “regime severo” numa cadeia de alta segurança a norte de Moscovo, após ter sido julgado por “fraude” e “desobediência ao tribunal“.

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Outro opositor proeminente, Vladimir Kara-Mourza, está em prisão preventiva desde abril por acusações semelhantes às de Yashin.

Opositor russo que condenou ofensiva militar detido em Moscovo

Já o representante municipal de Moscovo Alexei Gorinov, foi condenado em 08 de julho a sete anos de prisão por ter denunciado o ataque russo à Ucrânia.

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Outro exemplo, Alexandra Skotchilenko, uma artista de São Petersburgo presa desde abril, aguarda julgamento por colar autocolantes pacifistas num supermercado.

A Rússia, que já há muitos anos reprime as vozes críticas ao Kremlin, endureceu esta política desde o início da invasão russa da Ucrânia e, na semana passada, o Parlamento votou uma série de textos que preveem penas de prisão pesadas para reprimir pedidos para agir contra a segurança nacional ou a cooperação “confidencial” com estrangeiros.

Desde fevereiro, a Rússia também bloqueou vários meios de comunicação russos e estrangeiros no seu território, bem como algumas das maiores redes sociais, como o Twitter, Facebook e Instagram.