“É uma notícia muito triste e uma perda que nos choca a todos”. Foi assim que o Presidente da República, em declarações à CMTV, confirmou a morte do piloto de um avião anfíbio de combate a incêndios cujo aparelho caiu, cerca das 20h00 desta sexta-feira, em Castelo Melhor, concelho de Foz Côa, na Guarda.

Na manhã deste sábado, o corpo foi retirado do local do acidente e as equipas de peritagem estão no terreno  a investigar as causas do acidente.

A informação da queda do FireBoss tinha sido confirmada na conferência de imprensa diária da Proteção Civil. Na altura, o comandante nacional da Proteção Civil, André Fernandes, revelou que caíra um avião anfíbio que transportava um único tripulante — e que ainda não havia “detalhes sobre a ocorrência”.  Para o local tinham sido enviados um helicóptero do Instituto Nacional de Emergência Médica, meios de busca e salvamento da Força Aérea, meios dos bombeiros dos distritos da Guarda e de Bragança, elementos da Polícia Marítima, além de um helicóptero de coordenação da Proteção Civil.

Foi então que, cerca de uma hora depois da conferência de imprensa — e após o CDOS da Guarda, contactado pela Rádio Observador, ter dito não poder avançar com dados sobre acidente pois os meios de socorro ainda não tinha chegado ao local da queda do avião —, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, confirmou o óbito em declarações à CMTV.

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“É um notícia muito triste. Alguém relativamente jovem… É uma perda que choca a todos”, declarou, apresentando as condolências à família. Tal como avançou Marcelo na ocasião, a vítima mortal era um antigo piloto da Força Aérea. Depois, foi revelado tratar-se de André Serra, de 30 anos, e natural do Barreiro.

“O foco é um só: salvar vidas”

Estudou na Escola Secundária Alfredo Silva, segundo as informações públicas disponíveis na sua página de Facebook, e entrou na Esquadra 502 – Elefantes da Força Aérea em 2009. Num vídeo publicado no site da Força Aérea, em outubro de 2018, André “Banzai” Serra resumia a sua tarefa como piloto de uma C-295 M, que realizava operações de busca e salvamento em Portugal Continental, Açores e Madeira. “O foco é um só: salvar vidas. É para isso que nós treinamos, que estamos aqui diariamente. É essa a nossa missão”, ouve-se o piloto dizer, antes de concluir:  “Quando trazemos para casa uma vida salva, é muito recompensador para todos os que participam na missão.”

Em 2014, casou com uma enfermeira obstetra, de Lisboa, com quem tinha uma filha de cinco anos.  Nas últimas atualizações públicas que fez na sua página no Facebook (a 8 de maio de 2021), André Serra colocou como foto de capa exatamente o modelo do avião anfíbio FireBoss em que se despenhou. Já a mulher escreveu uma homenagem a bombeiros e pilotos dos fogos, esta quarta-feira, chamada “O Aviador”.

“Em dias como hoje impossível não pensar nos bravos bombeiros que combatem os fogos florestais e nos pilotos dos meios aéreos que os apoiam. No mundo da aviação, não conheço atividade mais difícil e perigosa. Aqui deixo o testemunho da minha imensa admiração e respeito. Bem hajam”, lê-se.

Avião anfíbio completamente destruído

O FireBoss, do Centro de Meios Aéreos de Viseu, afeto ao Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais, caiu quando a “aeronave teve de ir abastecer ao rio Douro, na zona de Foz Côa”. O acidente aconteceu numa vinha da Quinta do Crasto e, segundo o presidente da câmara local, João Paulo Sousa, “o óbito foi decretado no local pela equipa médica do helicóptero do Instituto Nacional de Emergência Médica. O corpo do piloto ficou carbonizado e o avião anfíbio complemente destruído.”

Em declarações aos jornalistas, prestou condolências à família e confessou: “Assisti a uma imagem a que não terei gosto de assistir no resto da minha vida”.

À CMTV, uma testemunha do acidente – e que garantiu ter sido ele a dar o alerta ao INEM pouco antes das 20h00 – contou ter ouvido a “explosão” do avião e uma “bola de fogo” depois de ter visto a aeronave recolher água do Douro “sem qualquer problema. “Foi uma coisa maluca”, contou.

O Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários, segundo informação veiculada pela Lusa, vai mobilizar equipa de investigação de maneira a estar no local ao nascer do dia de amanhã.

“Os pilotos não morrem”

O acidente que vitimou André Serra, esta sexta-feira, foi o 11.º desde 2009. Poucos minutos depois de Marcelo confirmar o óbito, também António Costa manifestou o seu pesar, numa mensagem publicada na rede social Twitter.

“Foi com grande consternação que tomei conhecimento do falecimento do piloto que operava uma aeronave que caiu esta tarde no combate ao incêndio em Torre de Moncorvo. Endereço as mais sentidas condolências à família e amigos”, escreveu o primeiro-ministro.

A esta reação seguiram-se muitas outras como o Presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, o presidente do PSD, Luís Montenegro, e o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro. Uma das mais sentidas homenagens foi partilhada no Twitter por Patrícia Gaspar, atual secretária de Estado da Administração Interna e ex-segunda comandante nacional da Proteção Civil. “Os pilotos não morrem…. Voltam ao céu com as suas próprias asas. Obrigada, André!”, despediu-se.