Um dia antes de esfaquear o escritor Salman Rushdie, Hadi Matar apanhou um autocarro para a cidade de Buffalo e, de lá, seguiu de carro até à Instituição Chautauqua — um “sítio porreiro”. “Andei por ali. Sem fazer nada de especial, apenas a andar de um lado para o outro”, contou o jovem libanês de 24 anos ao New York Post. A noite de quinta-feira foi passada a dormir num banco de jardim. No dia seguinte, subiu ao palco onde o escritor se preparava para discursar e esfaqueou-o pelo menos dez vezes no pescoço e abdómen.

Em entrevista a partir da prisão do condado de Chautauqua, no estado norte-americano de Nova Iorque, o suspeito já acusado de tentativa de homicídio admitiu que não achava que o autor de 75 anos sobreviveria. “Quando soube que ele tinha sobrevivido, fiquei surpreendido, acho eu”, afirmou.

Quem é Salman Rushdie, o escritor que vive há 30 anos a fugir a ameaças de morte

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Mas o que o levou a esfaquear o escritor? O jovem libanês não foi claro sobre as suas motivações, nem esclareceu se a sua inspiração tinha sido o aiatolá Ruhollah Khomeini que, em 1989, emitiu uma fátua a apelar à morte de Salman Rushdie, depois de ter banido o seu livro “Versículos Satânicos”.

Eu respeito o aiatolá. Acho que ele é uma excelente pessoa. Isto é o máximo que posso dizer“, afirmou apenas.

O jovem de 24 anos contou até que apenas leu “algumas páginas” do livro, que aborda a vida de dois emigrantes indianos em Inglaterra que sobrevivem miraculosamente a um ataque aéreo perpetrado por extremistas — um porque se transformou magicamente no arcanjo Gabriel, outro porque se metamorfoseou no Demónio. O título é uma referência a versos que Maomé retirou do Alcorão porque lhe terão sido apresentados por forças pagãs e satânicas como se fossem uma revelação divina. “Eu li algumas páginas. Eu não li a coisa toda de capa a capa”, acrescentou.

Hadi Matar acusou Salman Rushdie de ser “alguém que atacou o Islão” e “as suas crenças”. “Eu não gosto da pessoa. Não acho que ele seja uma pessoa boa”, disse, reforçando: “Não gosto nada dele”.

Segundo a acusação, o ataque foi premeditado e Salman Rushdie acabou esfaqueado entre 10 e 15 vezes, momentos antes de iniciar uma intervenção num discurso em Nova Iorque. Enquanto o escritor era acudido, um polícia imobilizou o atacante, que foi imediatamente detido e retirado do anfiteatro. Depois do ataque, o jovem americano de origem libanesa foi presente a um juiz do Estado de Nova Iorque, perante o qual se declarou “inocente” de “tentativa de homicídio” do escritor e irá comparecer novamente em tribunal em 19 de agosto.

Quem é Salman Rushdie, o escritor que vive há 30 anos a fugir a ameaças de morte