O Joelho de Ahed

Um realizador israelita cuja mãe está a morrer de cancro vai mostrar o seu novo filme na biblioteca pública de uma vila do interior do país, e é confrontado com os constrangimentos impostos pelo governo. “O Joelho de Ahed” é um filme menos desbragadamente irado (pelo menos, do ponto de vista estilístico), do que o anterior de Nadav Lapid, “Sinónimos”, cujo protagonista queria abdicar a todo o custo do seu judaísmo, mas esta autoficção repleta de fel continua a labutar na execração da natureza do estado de Israel, das políticas do seu governo, do seu desprezo para com a cultura e os artistas e das tentativas para lhes reduzir a liberdade de expressão, e Lapid não poupa nem a personagem principal, que quase destrói a vida da jovem bibliotecária que o recebe e o admira. Amargo e desesperado até à revolta, “O Joelho de Ahed” é sintomaticamente revelador do ponto de vista hipercrítico e pesadamente negativo de um sector das elites israelitas sobre a situação e o futuro do país.

Tralala

Arnaud e Jean-Marie Larrieu (“Pintar ou Fazer Amor”, “O Amor é um Crime Perfeito”) assinam este musical “naturalista” sobre um músico ambulante parisense (Mathieu Amalric) que vai para Lourdes em busca de uma misteriosa rapariga, e uma vez lá chegado, é confundido por uma idosa pelo seu filho há muito desaparecido. Assume então a identidade deste e fica a conhecer a família dele, bem como todos os seus problemas e segredos. O formato desengravatado e desconchavado escolhido pelos Larrieu em “Tralala” pouco tem de original em termos de musical (um género que nunca foi o forte dos franceses), a história é extravagante sem ser particularmente apelativa, os atores ou cantam pouco, ou mal (Amalric, então, é pavoroso) e a maioria das canções não acrescenta nada à excelente reputação da “chanson” francesa. Qualquer comparação com os filmes de Jacques Demy é um equívoco.

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Nope

O novo filme de Jordan Peele passa-se num vale isolado nos arredores de Los Angeles, onde o lacónico e ensimesmado OJ Haywood (Daniel Kaluya) e o pai Otis (o veterano Keith David) têm um rancho onde criam e treinam cavalos para filmes e séries de televisão, o único do género propriedade de negros, como dizem orgulhosamente, vizinho de um parque temático de “cowboys”, propriedade de Ricky “Jupe” Park (Steven Yuen) e da mulher. Depois de se dar um insólito acontecimento que causou a morte do pai (uma chuva de moedas, chaves e outros objetos quotidianos), OJ e a irmã Em (Keke Palmer), uma fala-barato que também tem parte no negócio da família, descobrem uma presença alienígena que se esconde numa nuvem do céu na região. “Nope” foi escolhido como filme da semana pelo Observador.