André Ventura vai apresentar uma moção de confiança à sua liderança, para que os militantes do Chega decidam se concordam com o rumo que o partido está a seguir e perceber qual é, afinal, o tamanho da “fação” que discorda da maneira como o Chega faz oposição.

Com a saída de Gabriel Mithá Ribeiro da vice-presidência do Chega e a hipótese de sair também do grupo parlamentar em cima da mesa, os problemas internos no partido ficam cada vez mais evidentes. E Ventura, que falava aos jornalistas no Algarve, diz que quer tirar as teimas e devolver a palavra aos militantes: “Por entender que em democracia são os militantes que escolhem, informei ontem o presidente da mesa do conselho nacional que pretendo apresentar uma moção de confiança para decidirem se é o caminho — o caminho que nos levou a terceira força política — que querem”.

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E, argumentando que não gosta de “fingir” que não há problemas no partido quando os há — “isto não é o PCP”, ironizou — Ventura especificou os motivos para as cisões no seio do Chega. “Não sou indiferente ao que foi dito [por Mithá Ribeiro], bem como a críticas dos autarcas do Chega. É evidente que há hoje no partido uma fação, que penso que é minoritária, que entende que o nosso estilo de oposição tem sido talvez agressivo e assertivo demais”.

Os problemas no grupo parlamentar também ficaram expostos com a saída de Mithá Ribeiro, uma vez que o vice demissionário já disse que não exclui a hipótese de ficar como deputado não-inscrito, e só dá por garantido que cumprirá mesmo o mandato até ao fim.

Com muitas críticas ao rumo do partido, Mithá deu esta semana uma conferência de imprensa em que frisou que o Chega está muito virado para dentro e para problemas “estéreis” e internos, sinalizou cisões entre o grupo de deputados e lamentou que Ventura não esteja a conseguir articular melhor o partido com a sociedade, abrindo-o a uma vertente mais intelectual e académica.

Pelos vistos, uma opinião que não é isolada no partido, mas que pode valer a Ventura, neste caso, a perda do primeiro deputado, depois de já ter perdido cinco vereadores desde as eleições autárquicas do ano passado.

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Ora Ventura diz acreditar que isto não acontecerá e estar a “fazer tudo” para que isso — a passagem a não-inscrito, que significaria a perda de um deputado para o Chega — não aconteça. Mas tentou passar uma mensagem de autoridade, avisando que não negoceia com “pré-condições”: “Um grupo tem de ter regras e liderança. Tal como uma equipa de futebol tem de ter um treinador, se não é cada um por si”. Ventura tenta agora controlar os problemas no balneário do Chega.