A posição do músico Roger Waters relativamente à guerra na Ucrânia continua a dar polémica. Este fim-de-semana, a já longa novela teve um novo episódio: reagindo a notícias que avançavam que teria cancelado dois concertos na Polónia (aliado próximo da Ucrânia) agendados para abril do próximo ano, o músico veio negar os cancelamentos e acusou um vereador da câmara municipal de Cracóvia de “censura draconiana”.

O artista britânico e antigo membro dos Pink Floyd, que já chamou “criminoso de guerra” a Joe Biden, que critica os EUA por não “encorajarem Zelensky a negociar” e que se opõe ao fornecimento de armas pelo Ocidente ao regime de Kiev, publicou uma carta aberta dirigida a dois jornalistas, Nadeem Badshah do jornal britânico The Guardian e Gazeta Krakowska, do polaco Gazeta Krakowska.

Caros Sr. e Sra., os vossos textos estão errados quando dizem que os concertos vindouros em Cracóvia foram cancelados ou por mim, ou pela minha equipa de gestão. Não os cancelámos”, garante Waters.

O músico vinca que “um vereador da cidade de Cracóvia, o senhor Lukasz Wantuch”, ameaçou “agendar uma reunião pedindo à autarquia” para o “declarar persona non grata“. Para Waters, tal aconteceu por causa dos seus “esforços públicos para encorajar todos os envolvidos na guerra desastrosa na Ucrânia, especialmente os governos dos EUA e da Rússia, a trabalharem rumo a uma paz negociada, em vez de escalarem as coisas até que se chegue a um fim amargo, que poderá ser uma guerra nuclear e o fim de toda a vida neste planeta”.

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Acusando este vereador polaco de não saber nada sobre a sua “história de trabalho” e sobre como dedicou “toda a vida, às vezes com custo pessoal, em serviço dos direitos humanos”, Waters indigna-se por Lukasz Wantuch ter feito um apelo num jornal local para a população de Cracóvia não comprar bilhetes para os espectáculos.

Se o senhor Lukasz Wantuch conseguir aquilo que pretende, e os meus concertos vindouros em Cracóvia forem cancelados, será uma perda triste para mim, porque a minha vontade é partilhar a minha mensagem de amor com as pessoas da Polónia, algo que tenho feito em muitas digressões ao longo da minha carreira, que dura há mais de 50 anos”, lê-se ainda.

Roger Waters, que vem a Portugal em março do próximo ano (mais exatamente à Altice Arena, em Lisboa, no dia 17 de março), tem por hábito aproveitar os seus concertos para transmitir várias mensagens políticas. Na sua última digressão mundial, os ecrãs colocadas nos locais dos concertos apontavam por exemplo a Donald Trump. Agora, é Biden que está na berlinda, descrito como um “criminoso de guerra”.

Questionado no mês passado pela CNN norte-americana sobre o porquê de chamar “criminoso de guerra” a Joe Biden, Roger Waters respondeu: “Bom, ele está a colocar lenha na fogueira na Ucrânia, para começar. Isso é um enorme crime. Porque é que os EUA não estavam a encorajar Zelensky a negociar?”

Roger Waters: Biden é “criminoso de guerra”. Ex-Pink Floyd responsabiliza EUA e NATO por guerra na Ucrânia

Em março de este ano, os históricos membros dos Pink Floyd David Gilmour e Nick Mason voltaram a juntar-se e, com o apoio do baixista Guy Pratt e do teclista Nitin Sawhney, gravaram uma canção chamada “Hey, Hey, Rise Up!”, manifestando o seu apoio à Ucrânia na sequência da invasão russa.

A canção foi revelada em abril, com as receitas a reverterem para um fundo de ajuda humanitária à Ucrânia. Roger Waters, claro, não participou na gravação do tema. Também este ano, os Pink Floyd retiraram parte do seu catálogo (discos e canções) dos serviços de streaming em território russo e bielorrusso. Porém, as canções e discos gravadas com Roger Waters permaneceram disponíveis nestes territórios, o que sugere que Waters pode ter-se oposto a esta iniciativa da banda.

Músico Roger Waters atua em Lisboa em março de 2023