Dez mil litros de água por dia e por cada estádio. Apesar de se situar numa região com muito pouco acesso natural a água fresca, é esta a quantidade que o Qatar irá gastar no próximo Mundial de futebol, segundo o The Guardian.

Ou seja, o país árabe necessitará de 80 mil litros de água diários só para os estádios do Mundial. O que significa que terá de se virar para métodos poluentes para conseguir garantir a água necessária.

Se o Qatar já tem um clima muito particular e pouco acesso a água para consumo da população, os desafios do Mundial serão ainda mais específicos: com o clima árido do Qatar vai ser preciso “imitar o clima de inverno”, escreve o The Guardian, arrefecendo o ar por cima da relva dos estúdios e humedecendo o campo regularmente.

Como conta o jornal, a solução, frequente naquela região, passará pela dessalinização de água salgada, para permitir que passe a ser potável. Problema: os combustíveis fósseis usados no processo e os efeitos sobre o ambiente marinho, graças aos químicos nocivos colocados na água, representam problemas ambientais sérios, que só vão piorar com a passagem do maior evento de futebol mundial pelo país.

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Mundial do Qatar vai ser um problema para a FIFA

Segundo o jornal britânico, 43% da capacidade de dessalinização do mundo vem precisamente de países que integram o Conselho de Cooperação do Golfo, e que são dos maiores consumidores de água do mundo — nos Emirados Árabes Unidos, as pessoas consomem em média 500 litros de água por dia, 50% mais do que a média mundial.

Não é só consumo individual: estes países usam muitas vezes a água para fins decorativos ou de lazer. Veja-se os parques aquáticos, por exemplo, ou o famoso espetáculo de água nas fontes do Dubai — pelas contas do Guardian, só nesse espetáculo são usados mais de 83 mil litros de água a cada meia hora.

Mais: no jornal do Qatar The Peninsula adianta-se que uma das atrações à volta do Mundial será precisamente um “espetáculo de efeitos especiais com água” que acontecerá todos os dias, do arranque do evento, a 20 de novembro, até ao final, a 18 de dezembro. E várias vezes por dia: haverá seis espetáculos por tarde, com intervalos de meia hora entre eles, e um grande espetáculo final todas as noites.

Uma reportagem publicada pela Reuters dá também conta de que já em setembro, num jogo da Super Taça Lusail (o estádio Lusail é o maior dos que o Qatar construiu para receber o Mundial deste ano) se notava a falta de água nas bancas que rodeavam o estádio, apesar das altas temperaturas que se viviam no país.

Agora, garantir água será um dos maiores desafios que o Qatar, primeiro país da região a organizar um evento desta dimensão, terá pela frente — e com um pesado custo ambiental, dada a aridez da região.

Como conta o Guardian, os países do Golfo contam com mais de 300 plantas de dessalinização (a maior parte situadas na Arábia Saudita, nos Emirados Árabes Unidos, no Kuwait e no Bahrain). A maior parte funciona com base em petróleo ou gás, apesar de haver planos para começar a apostar na energia solar, tentando limitar os efeitos do processo.