A mão direita de Zelensky sobre o coração, o som do hino da Ucrânia a tocar bem alto nas colunas e uma câmara de filmar por perto. Uma fila de soldados próxima, uma bandeira amarela e azul a ser içada (subindo bem alto) e um aplauso final de aparentes habitantes da cidade, que assistiam à distância ao momento histórico.

Até há poucos dias, este era um desenrolar de imagens improvável na cidade de Kherson, no sul da Ucrânia, que foi tomada pelas forças russas a 3 de março e que, no entendimento do Kremlin (que não é subscrito pela maior parte dos países e instituições mundiais), até passou a fazer parte do território da Federação Russa depois de um referendo feito no final de setembro, gerido por operacionais do Kremlin em condições colocadas em causa por praticamente toda a comunidade internacional.

Esta segunda-feira, foi isto que se viu, durante uma visita surpresa (sem aviso prévio, por motivos óbvios de segurança) do Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky àquela localidade que esteve subjugada às forças russas durante nove longos meses.

O vídeo, publicado na rede social Twitter pelo chefe de gabinete do Presidente ucraniano (Andriy Yermak), é mais um momento marcante e simbólico a juntar aos muitos que têm vindo a retratar a alegria dos moradores de Kherson e dos seus arredores com a recuperação do controlo da cidade pela Ucrânia.

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A visita de Zelensky, feita esta segunda-feira, demorou perto de 30 minutos. E foi noticiada por meios de comunicação como a agência Reuters, que, citando uma testemunha que ali estava, indicou que Zelensky disse aos soldados ucranianos: “Estamos a avançar. Estamos prontos para a paz, para a paz em todo o nosso país”.

Na deslocação, o Presidente ucraniano, acompanhado pelos seus seguranças, terá ainda aproveitado para agradecer à NATO e aos aliados ocidentais pelo apoio dado a Kiev ao longo desta guerra com a Rússia. E manifestou (aqui citado pela estação britânica Sky News, também com recurso a uma testemunha no local) estar “mesmo contente” pela reação dos populares à sua chegada. Uma receção que, considerou, percebia-se com facilidade “não ser encenada”.

Zelensky terá ainda explicado que era importante visitar Kherson, na sequência do abandono das tropas russas, para mostrar que “erguemos mesmo a nossa bandeira” na região recuperada.

As pessoas estavam à espera do exército ucraniano, dos nossos soldados, de todos nós. Estamos mesmo a voltar”, terá ainda apontado o Presidente ucraniano, desvalorizando os riscos da visita: “Toda a gente se arrisca: as pessoas do Exército arriscam-se todos os dias, os jornalistas arriscam-se. Temos de falar aqui e temos de apoiar os residentes de Kherson, apoiar as pessoas. Quero ver emoções humanas e a energia das pessoas. Isso é motivador”

Antes e depois da visita, sons de explosões

No centro da cidade de Kherson, ouviram-se esta segunda-feira sons de explosões e de tiros “minutos antes” da chegada do Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e “depois de este ter acabado de falar” aos populares, noticiou a estação britânica Sky News.

O que também aconteceu depois de Zelensky visitar Kherson foi uma reação do Kremlin, ainda que curta e pouco palavrosa. Questionado esta segunda-feira por jornalistas sobre a visita do Presidente ucraniano à cidade, o porta-voz do regime russo Dmitry Peskov respondeu apenas (citado pela CNN): “Não fazemos comentários. É território russo”.

As autoridades russas têm insistido que apesar da anexação de Kherson nunca ter sido sequer reconhecida pela comunidade internacional, o território continua a fazer parte da Federação Russa mesmo depois de tropas de Moscovo terem abandonado a cidade, retirando-se da região.

As imagens captadas em Kherson têm vindo a mostrar um cenário de festa e celebração nas ruas, pela recuperação do controlo ucraniano da cidade.

“É nosso.” Ucranianos regressam a Kherson e a festa toma conta das ruas

Este domingo, os meios de comunicação voltaram a captar uma série de fotografias das celebrações. Estas são algumas das imagens desses momentos:

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