O primeiro-ministro pediu esta sexta-feira desculpa por ter ficado “irritado” com uma questão sobre se tinha ligado ao presidente da Câmara na noite das cheias em Lisboa. Em Bruxelas, na conferência de imprensa desta manhã, António Costa tinha tido um aparte sobre isso dizendo que Carlos Moedas também não lhe ligou por causa das inundações na sua casa. “Estava cheio de sono, fiz um aparte irritado e peço desculpa”, justificou esta tarde.

Na noite desta quinta-feira, ainda em Bruxelas foi questionado sobre não ter ligado a Carlos Moedas durante as cheias e ficou irritado com a jornalista, a quem se dirigiu no fim da conferência de imprensa, atirando: “Eu posso-lhe perguntar porque é que ele não me telefonou a mim quando tive a minha casa inundada.”

“Pergunte-lhe porque é que ele não me contactou, que tive a casa inundada”. O recado de Costa para Moedas

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Esta sexta, quando questionado pelos jornalistas sobre outra expressão que usou, em entrevista à Visão, sobre os deputados da Iniciativa Liberal — que apelidou de “queques”, acusando-os de “tentar guinchar” no Parlamento — Costa disse que essa tinha sido uma “expressão coloquial”. E aproveitou para ele mesmo falar do tema da noite anterior: “Se quer uma expressão infeliz, tive ontem uma à noite depois de várias horas de reunião, estava cheio de sono, fiz um aparte irritado e peço desculpa”.

“Foi impróprio”, disse ainda, referindo que Carlos Moedas também já deu este assunto por encerrado. Ainda sobre a presença no terreno em Lisboa, Costa disse que o Governo “é uma equipa” e que as ministras da Coesão e da Presidência do Conselho de Ministros têm estado junto da população a apurar estragos. “Nem sempre posso estar, não tenho o dom da ubiquidade”. Garantiu que “os danos estão a ser identificados e a proteção civil respondeu de modo adequado”.

Já sobre os deputados da IL manteve a sua apreciação na entrevista publicada esta quinta-feira e diz que se tratou de uma resposta à oposição. “A ideia de que um primeiro-ministro é uma espécie de boneco de feira a quem atiram bola e tem de apanhar e engolir não é assim.” Diz que se tratou de uma resposta e que “até era um elogio a João Cotrim Figueiredo”, já que este vai sair da liderança do partido.

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Novo apoio “não é uma prenda”

Também à margem da cerimónia de apresentação da Adenda ao Compromisso de Cooperação para o Setor Social e Solidário, o primeiro-ministro falou do novo apoio extraordinário de 240 euros que vai começar a ser pago a partir de 23 de dezembro. “Não é uma prenda, é corresponder a uma necessidade efetiva das famílias mais vulneráveis”, já que o valor do IAS para este ano não cobria a inflação que se verificou — também disse que o cálculo para o próximo ano já faz essa cobertura.

Garante que “o défice é mais baixo do que o previsto e ainda bem, mas fruto essencialmente de um maior crescimento da economia”. E que este novo apoio acaba por dar a resposta prometida pelo Governo. “Tínhamos assumido um compromisso que era devolver às famílias e às empresas a receita extra que tínhamos por via da inflação e isso é o que resulta da receita do IVA”, afirmou ainda.

Costa recusa chamar “almofada” à receita extra que o Estado está a arrecadar por via do crescimento da economia e prefere antes que seja vista também como “fruto da boa gestão das finanças públicas”. E é nesta lógica que tenta acautelar as críticas sobre a manutenção de um défice abaixo das previsões numa época de crise generalizada , exemplificando mesmo com o novo apoio: “Se tivéssemos gasto tudo quando a guerra começou, não tínhamos condições para apoiar com 25o euros. Estamos em condições de o fazer porque ao longo do ano gerimos com prudência” os gastos públicos.

Quanto ao futuro, o primeiro-ministro diz que o fenómeno da inflação se tem revelado “mais prolongado” do que o inicialmente previsto , mas que “já se prevê uma desaceleração no próximo ano”.

Ainda falou do PRR e dos avisos do Presidente da República sobre a execução destes fundos específicos criados como resposta à crise pandémica. “O PRR é diferente dos outros fundos. Nos outros há uma verba global e isso é transferido para o Estado e vamos gastando. No PRR temos marcos e metas e à medida que vamos cumprindo a UE vai dando luz verde para transferir verbas”. “O que a Comissão Europeia hoje confirmou foi que os marcos e metas que deviam estar a ser cumpridos estão a ser cumpridos”, disse sobre a aprovação do segundo pedido de desembolso a Portugal, que será no valor de 1,8 mil milhões de euros.

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Artigo atualizado com mais declarações do primeiro-ministro