Era suposto demorar 40 minutos. No fim, demorou perto de quatro horas. O cortejo fúnebre que levou Pelé do relvado da Vila Belmiro, onde esteve em câmara ardente durante 24 horas, até ao Memorial Necrópole Ecumênica, onde foi sepultado, teve milhares de pessoas nas bermas das estradas ao longo de todo o percurso e ainda parou junto à casa da mãe do antigo jogador.

Depois de ter começado na manhã desta segunda-feira, o velório de Pelé terminou por volta da hora de almoço de terça-feira em Portugal, 10h no Brasil, e Lula da Silva foi uma das últimas pessoas a entrar no estádio do Santos. O presidente brasileiro, que tomou posse no passado domingo, aterrou de helicóptero no relvado da Portuguesa Santista, bem perto da Vila Belmiro, e deslocou-se para o velório de carro e sem prestar declarações à comunicação social.

Lula esteve poucos minutos na tenda reservada para a família e os amigos mais próximos de Pelé, assistindo à curta missa celebrada por dois padres de Santos que encerrou o velório. Embora não tenha falado à imprensa, o presidente do Brasil deixou uma declaração aos meios oficiais do Santos e lembrou que “ninguém é comparável” ao antigo jogador.

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“O Pelé simboliza tudo aquilo que é a ascensão da espécie humana. Tudo o que a gente pode perceber da ascensão do ser humano, a gente vê em Pelé. É um jogador que muito jovem ganhou um protagonismo extraordinário e o Pelé nunca ficou mascarado, nunca ficou de nariz empinado, sempre foi um cidadão humilde, sempre conversava de igual para igual com todo mundo. Não se deixava levar pelo brilhantismo, pela glória. Nos maiores momentos de glória, quando se encontrava com a Rainha da Inglaterra, era o mesmo que quando se encontrava com qualquer um na rua”, defendeu Lula da Silva.

Depois de mais de 230 mil pessoas passarem pela Vila Urbino, Pelé deixou o relvado num dos carrinhos utilizados pela equipa médica do Santos — conduzido por Seu Jorge, funcionário do clube há 27 anos e atual coordenador dos apanha-bolas que estava visivelmente emocionado. Lá fora, onde a multidão começou a aglomerar-se para um último adeus, a urna foi colocada num veículo do Corpo de Bombeiros de Santos e coberta com uma bandeira do clube e outra do Brasil.

Seguiu-se um cortejo fúnebre de 15 quilómetros, quatro horas e sempre em marcha lenta, já que os milhares de pessoas que se juntaram nas bermas das estradas não permitiram que o percurso fosse cumprido de forma mais acelerada. A meio, uma paragem: o carro parou em frente à casa de Celeste Arantes, a mãe de Pelé que cumpriu 100 no passado mês de novembro e que não apareceu nem na varanda nem junto às janelas. Ainda assim, surgiu Maria Lúcia, uma das irmãs do jogador, que aproveitou para dizer um último adeus ao irmão e agradecer a presença de centenas de pessoas nas imediações da residência.

Por volta das 17h em Portugal, 14h no Brasil, o cortejo fúnebre chegou finalmente ao destino. A urna foi retirada do carro ao som do hino do Santos, entoado por um trompetista, e seguiu-se um funeral de cerca de 25 minutos reservado a 140 elementos da família e amigos mais próximos. Edinho, o filho de Pelé, foi o último a deixar palavras sobre o Rei.

“Só queria aproveitar, em nome da minha família, para agradecer a todo mundo todo o amor, todo o carinho, todo o respeito. É agradecer. O sentimento maior de toda a família é gratidão, junto com a dor. Mas é gratidão. Muito obrigado a todos. É um momento difícil, todos sabem, mas é uma honra e um orgulho muito grande. Mais uma vez, obrigado. Agora ele vai descansar”, afirmou.