É mais uma acha para a fogueira e que aumenta as críticas domésticas na Rússia às decisões do regime de Vladimir Putin. No fim de semana, o Kremlin avançou que 600 soldados ucranianos morreram num ataque a Kramatorsk, ofensiva que surgia em resposta ao ataque de Makiivka, onde centenas de russos terão morrido (Moscovo só confirma 89 mortes). O problema é que tudo aponta para que os números oficiais sejam falsos, o que criou mal-estar entre os bloggers de guerra russos (milbloggers).

“As tentativas do Ministério da Defesa russo de reivindicar que as forças russas responderam ao ataque ucraniano de 31 de dezembro contra as posições russas em Makiivka estão a gerar mais descontentamento no espaço de informação russo”, escreve o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW).

“Esta alegação é falsa — um repórter finlandês visitou o local do ataque em Kramatorsk, em 8 de janeiro, dando nota de que foi atingida uma escola vazia”, acrescentam os analistas do relatório diário daquele instituto. Assim, “vários milbloggers russos responderam negativamente” às afirmações oficiais, argumentando que o ministério “frequentemente apresenta reivindicações fraudulentas”.

Os mesmos milbloggers também criticaram a decisão oficial de fabricar uma história para “retaliar” o ataque de Makiivka, em vez de se procurar entre a liderança militar o responsável pela perda de vidas de soldados russos.

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“Vamos falar sobre fraude”

No Viyskovy informator (Informador Militar, em português), as críticas são duras: “Em vez de destruição real do inimigo, o que teria sido uma resposta à altura, há uma operação de retaliação fictícia inventada para os media.

Logo no início da publicação na rede social Telegram, o milblogger começa por escrever: “Vamos falar sobre fraude.” Assim, acusa as autoridades russas de, nos últimos meses, apresentar “relatórios falsos, relatórios pintados em todos os níveis, relatórios sem sentido e impunidade para aqueles que realizam essas atividades”. Por exemplo, diz que na Rússia já estão habituados a que nos briefings do general Igor Konashenkov, o porta-voz do Ministério da Defesa, sejam “destruídas mais instalações HIMARS do que as que foram entregues à Ucrânia”.

“Não está claro para nós quem e por que motivo decidiu que 600 soldados ucranianos morreram lá dentro, se o prédio não foi realmente atingido (até a luz permaneceu acesa)”, escreve o milblogger que publica fotos dos locais atingidos.

Imagens divulgadas no Telegram

Já o Grey Zone, outro milblogger russo, ironiza a situação. “Seiscentos! Vocês sabem contar? Um, dois, três, quatro, cinco, seis! Seiscentos! Trezentos nazis ucranianos foram destruídos por cacos de vidro”, escreve na publicação. “Cerca de cem morreram no hospital de insuficiência cardíaca depois de ver os relatórios de Konashenkov durante uma reunião do Ministério da Defesa da Federação Russa.”