O ministro dos Negócios Estrangeiros é um dos sócios maioritários de uma empresa que partilha com um sócio que já foi condenado por fraude fiscal e que foi fundada por um outro que esteve envolvido no maior negócio imobiliário feito em Portugal nos últimos anos (e o segundo maior da Península Ibérica) — e que acabou com o fundo de resolução do Novo Banco (NB) a ser lesado em 260 milhões de euros.

Confrontado pela CNN Portugal, que este domingo à noite publicou a notícia, João Gomes Cravinho, que deverá ser ouvido em breve no Parlamento no âmbito da Operação “Tempestade Perfeita”, garantiu que “não tinha conhecimento dos problemas judiciais dos sócios”.

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De acordo com o canal, o ministro dos Negócios Estrangeiros é, desde novembro de 2020, detentor de uma quota de mil euros da Eurolocarno – Sociedade Imobiliária Lda, com sede em Lisboa, na Rua na Palmeira — e declarou isso mesmo quer ao Parlamento quer ao Tribunal Constitucional.

Ao todo, revela a CNN Portugal, são sete os sócios da Eurolocarno. Um deles, António João Barata da Silva Barão, que em julho de 2014 fundou a empresa, esteve envolvido num negócio que lesou o Fundo de Resolução do Novo Banco (NB) em 260 milhões de euros e que foi revelado no verão de 2020 por uma investigação do Público.

Em 2018, o NB vendeu 13 mil imóveis a um hedge fund registado nas Ilhas Caimão: avaliadas em 613 milhões de euros, as casas foram vendidas por  364 milhões, e com a ajuda de um empréstimo feito pelo próprio Novo Banco, que acabou a receber centenas de milhões do Fundo de Resolução, para cobrir as perdas.

Segundo a CNN Portugal, foi bastante antes disto, em maio de 2015, que Silva Barão saiu da gerência da Eurolocarno, altura em que foi substituído por Marcos de Almeida Lagoa.

Por sua vez, Almeida Lagoa, que hoje também continua a ser sócio de João Gomes Cravinho na sociedade imobiliária, com uma quota de 500 euros, foi, em 2012, um dos 11 arguidos no chamado Processo dos CTT, que causou 13,5 milhões de euros de prejuízo aos Correios.

Em causa estavam os negócios da venda de dois edifício dos CTT. Um deles, em Coimbra, foi vendido por 14,8 milhões de euros a um fundo de investimento imobiliário — que no mesmo dia o revendeu por 20 milhões. Marcos de Almeida Lagoa, responsável pelo fundo e suspeito de ter recebido uma comissão por parte dos gestores da então empresa pública, foi condenado por fraude fiscal e a pagar 20 mil euros ao Estado.