Começar de novo, desde logo nas redes, onde todo um velho feed ficou pelo caminho para se encetar uma nova página, que ilustra a mais recente imagem da casa. Na centenária história da Burberry, a direção criativa segue agora nas mão de Daniel Lee. Aos 37 anos, o inglês que tornou a Bottega Veneta altamente instagramável, segura as rédeas, chega a galope, e resgata ainda o lema em latim “Prorsum”, que é como quem diz sigamos em frente, tentando liderar a corrida no segmento do luxo — até contamos com um marcador de serviço, Raheem Sterling, ele mesmo, um dos nomes que se junta à campanha revelada esta terça-feira. E, sim, se dúvidas houvesse, o cavalo e respetivo cavaleiro, instituídos no começo do século passado, e eliminados em 2018, estão de volta.

A quinze dias de apresentar a sua primeira coleção na semana da Moda londrina, a 20 de fevereiro, a Burberry de Lee, que foi nomeado diretor criativo em setembro do ano passado, poucos dias depois do antecessor Riccardo Tisci apresentar a sua derradeira coleção, aposta ainda em nomes tão diversos como a atriz Vanessa Redgrave, a cantora Shygirl, o MC Skepta, a manequim Liberty Ross, ou o músico e manequim Lennon Gallagher. O resultado é uma campanha com um ar tão espontâneo quanto fiel ao ADN britânico, acompanhada por um filme e uma banda sonora original de John Glacier, que também aparece. De resto, as peças usadas nas imagens são clássicos para a chuva, produtos já disponíveis e anteriores ao consulado de Lee, que só em outubro passado se juntou à marca.

Marcos da capital britânica, como Trafalgar Square ou Albert Bridge, servem de cenário às imagens captadas por Tyrone Lebon, e já terão assistido às várias vidas da Burberry, que, recorde-se, já foi Burberrys (com “s” no final), até 1999. Em 1968, por exemplo, o texto ganhou vantagem sobre a imagem do cavalo, reduzido a uma miniatura, e a Burberry passou a ser “De Londres”. Burberry Prorsum foi a designação usada para as coleções de passerelle da marca até ao ano de 2015, quando Christopher Bailey afastou o nome de cena, tentando uniformizar as linhas da casa, que passavam ainda pela London e Brit.

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Três anos mais tarde, nova revolução, agora com o designer gráfico Peter Saville a unir forças como o então diretor criativo Riccardo Tisci — desta feita, para introduzir um novo logo, e a desenvolver um monograma a partir das iniciais de Thomas Burberry, o homem que fundou o emblema em 1856, com 21 anos. Para além da recuperação da imagem equestre, cuja introdução, em 1901 resultou de um concurso aberto ao público, também o lettering das iniciais foi agora suavizado, uma alteração que bebe, segundo a marca, citada pela WWD, dos arquivos da casa também dos primórdios do século XX.

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Daniel Lee, o novo diretor criativo da Burberry © Getty Images

Corria novembro de 2022 quando o CEO da Burberry, Jonathan Akeroyd, anunciou ao mundo, no âmbito da sua primeira apresentação estratégica, que a nova estética do emblema começaria a ser revelada no início de 2023. Uma marca que seja “desejada” e que ao mesmo tempo as pessoas se possam “identificar”, serão os eixos da mais recente encarnação. Akeroyd destacava então o “raro talento” de Lee, e a sua capacidade de criar best sellers. Segundo o responsável, o foco estará na produção de leather goods icónicos, cujo ciclo de vida em loja seja superior ao habitual — e provavelmente apelar a um público semelhante ao que foi fisgado durante a sua permanência ao leme da Bottega.

É que se ao longo de quatro anos, Tisci foi decisivo no rebranding da Burberry, com a clássica marca a render-se ao street wear, aos chunky sneakers, aos bombers e aos caracteres Helvetica (gerando um aumento de receita na ordem dos 21%, segundo a GQ), Lee abriu a Veneta ao hype do mundo inteiro, de Rihanna a Kendall Jenner.