Uma criança que começa a andar de bicicleta é motivada, durante o processo de aprendizagem, pela adrenalina de estar no controlo de um veículo que lhe permite deslocar-se mais rápido do que deixam as pernas que aguardam por crescer. No início do caminho, dominar o volante é mais intuitivo do que garantir o equilíbrio no assento. Quando se avança para a fase em que se deixam as rodas de apoio, a felicidade justificada pela independência transforma-se em arrependimento quando a primeira queda deixa em forma de rasgão na roupa um registo de dor que não se espera que se repita.

Por maiores que sejam os incentivos a que o jovem volte para cima da bicicleta, o trauma alerta para uma eventual repetição do acidente. Com receio de voltar a um lugar onde tombou, o Benfica estava perante um adversário que lhe tinha causado o único erro de percurso até ao momento. A única derrota averbada pelos encarnados esta temporada aconteceu frente ao Sp. Braga, na Pedreira, na jornada 14 do campeonato por 3-0. Desta vez, o jogo contava para os quarto de final da Taça de Portugal e, apesar do empate a um ao final de 120 minutos, a desilusão foi tão grande ou maior.

O treinador do Benfica, Roger Schmidt, à semelhança de quem cai, se levanta e não tem vontade de de colocar de novo numa situação de risco, voltava ao Minho em sobreaviso. “É uma competição diferente, é um jogo diferente. Eles mereceram ganhar no campeonato. É uma nova oportunidade para mostrarmos que podemos vencer em Braga”, referiu o técnico antes da partida.

O técnico do Sp. Braga, Artur Jorge, contrapôs. “Temos que ser muito melhores do que fomos no primeiro jogo. Vamos ter muito trabalho em campo. A felicidade dá trabalho”. Para lhe dar alegrias, o homem do leme minhoto lançou Pizzi pela primeira vez no onze inicial e logo contra a equipa onde passou oito temporadas. Do lado da equipa da Luz, tudo igual na escolhas iniciais face ao jogo anterior com o Casa Pia, voltando a ser Chiquinho o escolhido para jogar ao lado de Florentino.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O Benfica chegou aos quartos de final após deixar pelo caminho o Caldas (1-1, 5-3, nas grandes penalidades), o Estoril (1-0) e o Varzim (2-0). Já o Sp. Braga deitou por terra o sonho do Jamor a Felgueiras (2-1), Moreirense (2-1) e Vitória SC (3-2), de Guimarães.

As águias tentavam dar pedalas em diante e, em ritmo de contra-relógio, entrou com um bom andamento para não voltar a dar um trambolhão. O Benfica bateu um canto curto. Neres combinou com Aursnes. O brasileiro tirou um cabeceamento ao segundo poste. Pelo facto de a bola ir demasiado bombeada, não era expectável que a defesa do Sp. Braga não conseguisse cortar. Gonçalo Guedes (15′) saltou tanto quanto acreditou e cabeceou para o fundo das redes do guarda-redes Matheus.

O Benfica controlava a posse de bola com o Sp. Braga organizado em 4x4x2. De bola corrida, a equipa da Luz tentava, mas encontrava oposição à altura para o futebol rendilhado que aplicava no último terço. A expectativa dos guerreiros originou uma hipótese para saírem em ataque rápido. Bah travou Pizzi, que se posicionava ao lado de Abel Ruiz na frente, e fugiu ao controlo da defesa encarnada. A pisadela do dinamarquês foi ríspida. Inicialmente, o árbitro do encontro, Tiago Martins, deu cartão amarelo, mas o VAR considerou que havia motivo para expulsão. As imagens mostraram ao juiz da AF Lisboa que o lateral devia ser expulso (31′).

Apesar do mérito do golo, Guedes acabou preterido em nome do equilíbrio. Gilberto foi a jogo para fechar o lado direito da defesa, mas o Sp. Braga rompeu os remendos. André Horta bateu um canto desviado em direção a Al Musrati (36′) que apareceu ao segundo poste para igualar o resultado.

Os minhotos, mesmo com mais um elemento, não abdicaram da postura “de esperar para ver”. Nada mudou até ao final dos primeiros 45 minutos. Ao intervalo, ambos os treinadores mexeram. Schmidt fez regressar Gonçalo Ramos após lesão e lançou também Morato. Desta forma, o Benfica apresentou uma nova nuance tática, jogando com uma linha de cinco atrás. Artur Jorge trocou um reforço de inverno por outro. Saiu Pizzi e entrou Bruma numa clara intenção de dotar a equipa de velocidade para as transições ofensivas.

Outro regresso, este do lado do Sp. Braga, foi o de Ricardo Horta que se restabeleceu da lesão muscular que o afastou das últimas três partidas. E foi ele, em conjunto com o irmão, André Horta, que, através de remates de fora de área, assustaram a baliza de Odysseas, mas o guarda-redes grego segurou o empate. Para o Benfica, Aursnes foi a única ameaça ao desfazer da igualdade.

Ficha de Jogo

Mostrar Esconder

Sp. Braga-Benfica, 1-1 (5-4, após grandes penalidades)

Quartos de final – Taça de Portugal

Estádio Municipal de Braga

Árbitro: Tiago Martins (AF Lisboa)

Sp. Braga: Matheus Magalhães, Victor Gómez, Niakaté (Paulo Oliveira 101′), Tormena, Sequeira, Al Musrati, Racic (Banza 60′), André Horta (Castro 85′), Iuri Medeiros (Ricardo Horta 67′), Pizzi (Bruma 45′) e Abel Ruiz (Álvaro Djaló 85′)

Suplentes não utilizados: Tiago Sá, Borja e Joe Mendes

Treinador: Artur Jorge

Benfica: Odysseas, Alexnnder Bah, António Silva, Otamendi, Grimaldo, Florentino (Morato 45′), Chiquinho (Lucas Veríssimo 120+1′), Aursnes, João Mário, David Neres (Gonçalo Ramos 45′; Rafa 91′) e Gonçalo Guedes (Gilberto 33′)

Suplentes não utilizados: Samuel Soares, João Neves, Musa e Draxler

Treinador: Roger Schmidt

Golos: Gonçalo Guedes (15′) e Al Musrati (36′)

Ação disciplinar: cartões amarelos a Racic (55′), Otamendi (83′), Víctor Gómez (88′), Niakaté (92′), Tormena (100′), Paulo Oliveira (106′), Odysseas (111′), Banza (112′) e Morato (116′ e 120′); cartão vermelho a Bah (31′) e Morato (120′)

A segunda parte em nada equivaleu à primeira em termos de emoção. No entanto, Banza teve o último lance de perigo do tempo regulamentar que levou os adeptos presentes no estádio a susterem a respiração até terem a confirmação de que o remate de calcanhar do avançado francês passou ao lado.

O prolongamento não trouxe mais do que uma série de cartões amarelos que a falta de capacidade física para chegar atempadamente aos lances pode justificar. Roger Schmidt ainda lançou Rafa para tirar partido do desgaste dos adversários, mas a alteração não teve o efeito desejado. A alguns segundos do fim do prolongamento, Morato viu o segundo amarelo e foi expulso, fazendo com que o Benfica terminasse com nove.

Nos penáltis, o único a errar foi Aursnes que permitiu a defesa a Matheus. Al Musrati, já protagonista no jogo, marcou o quinto penálti do Sp. Braga que carimbou a passagem às meias-finais, onde os minhotos vão defrontar o Nacional da Madeira.