O UBS estará a negociar a compra (de parte ou da totalidade) do rival Credit Suisse, que esta semana esteve no centro de um furacão nos mercados financeiros que se alastrou a toda a banca europeia. A notícia é avançada nesta noite de sexta-feira pelo Financial Times que, citando várias fontes próximas do processo, indica que este fim de semana as duas administrações vão reunir-se (em separado) para avaliar a viabilidade desta mega-operação.

A confirmar-se, será, de longe, a maior fusão bancária na Europa desde a crise financeira internacional de 2008. Estas são negociações que estão a ser promovidas pelo banco central – o Banco Nacional Suíço – e a autoridade de supervisão dos mercados mobiliários da Suíça.

Os supervisores estarão a tentar que haja uma solução para a instabilidade em torno do Credit Suisse antes da abertura dos mercados na segunda-feira. Aliás, durante esta tarde foi noticiado que tinha sido pedido a um grande número de funcionários do Credit Suisse para que viessem trabalhar este sábado e domingo.

O cenário de uma fusão entre os dois maiores bancos da Suíça já vinha sendo falada como possibilidade nos últimos dias, embora exista a perceção de que o UBS não estará totalmente seguro de que pode avançar sem incorrer em riscos para si próprio – e será nesse ponto que a intervenção e eventuais garantias dadas pelas autoridades bancárias e financeiras nacionais será decisiva para que exista a possibilidade de o negócio se fazer.

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O Credit Suisse concentrou as atenções nos últimos dias, nos mercados, mas os seus problemas arrastam-se há vários anos – escândalos sucessivos e esforços de reestruturação pouco eficazes levaram o banco a perder cerca de 90% do seu valor bolsista em poucos anos.

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O Credit Suisse está há anos a tentar uma reestruturação que possa ser bem sucedida, até ao momento sem sucesso, depois de uma sucessão de escândalos e problemas cujo mais recente foi revelado esta terça-feira. Foram encontradas “deficiências graves” nos controlos internos de reporte financeiro, relativas aos anos de 2021 e 2021 – “a liderança do banco não concebeu nem manteve processos de avaliação de risco eficazes, capazes de identificar e avaliar o risco de erros no reporte de relatórios financeiros”, reconheceu a gestão do Credit Suisse.

A gota que quase fez transbordar o copo foi que, esta quarta-feira, o presidente do banco nacional saudita (que se tornou o maior acionista do Credit Suisse no final do ano passado, altura em que o banco helvético fez um aumento de capital de cerca de 4 mil milhões de euros) mostrou que não estaria disponível para aumentar a participação na instituição suíça, por exemplo, caso surja a necessidade de fazer um novo aumento de capital na instituição: “A resposta é absolutamente não, por muitas razões além da razão mais simples que é a questão regulatória“, respondeu Ammar Abdul Wahed Al Khudairy.

Essa resposta foi dada, segundo a Bloomberg, a uma pergunta sobre se os sauditas estariam disponíveis para fazer novas injeções no banco caso ele precise de um aumento de capital. Ora, caso essa nova injeção venha a existir, os sauditas teriam de fazer novas entradas de dinheiro simplesmente para que pudessem acompanhar o aumento de capital, ou seja, para não verem a sua posição de 9,9% diluída. Mas a resposta, porém, foi sobre se estariam disponíveis para reforçar essa participação.

Apesar desse eventual mal-entendido, a perceção geral dos investidores em relação ao Credit Suisse é tão negativa, há tanto tempo, que as ações aprofundaram rapidamente as quedas – até porque o acionista saudita referiu na entrevista que havia “muitas razões” para não querer reforçar a aposta no banco, além das obrigações regulatórias que surgiriam se a participação acionista ultrapassasse os 10%. Ammar Abdul Wahed Al Khudairy não terá sido específico sobre que outras razões tem, mas nas últimas semanas a banca suíça tem vivido muito turbulência sobretudo depois de a Suíça ter assumido uma posição na guerra na Ucrânia, aplicando sanções à Rússia.

Na quinta-feira, porém, o Banco Nacional Suíço aliviou um pouco as tensões criando uma linha de cerca de 50 mil milhões de euros em liquidez de emergência para o Credit Suisse – o que levou a algum otimismo mas de pouca duração já que esta sexta-feira toda a banca europeia voltou a ter uma sessão muito negativa.