Tectos abatidos ou em risco de colapso, problemas de humidade que deixam as paredes negras, remendos periclitantes. O cenário de “condições degradadas” e de salas em “estado deteriorado, superlotado e insalubre” na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa levou os alunos a juntarem-se para divulgar um abaixo-assinado em que revelam o seu “descontentamento” e pressionam a direção e a tutela a resolver o assunto.

Segundo o relato dos estudantes, só na segunda quinzena de fevereiro desabaram pelo menos dois tectos. Outro exemplo concreto dado no texto é o de uma sala do último piso onde caiu “uma pilha de dejetos e esqueletos de animais”, soterrando e danificando o trabalho de dois alunos, que “durante uma semana partilharam o seu espaço de trabalho com uma família de pombos”.

Os estragos são visíveis nas fotografias disponibilizadas ao Observador, que mostram os buracos em tectos, problemas causados por infiltrações e humidade e até um pombo bebé que terá caído com um dos tectos para dentro de uma sala de aula. Condições “aviltantes” que “não respeitam o direito dos alunos a um ensino superior de qualidade”, reclamam.

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No abaixo-assinado, os estudantes dizem já ter tentado “inúmeras” vezes comunicar com a direção sobre este assunto, conversas das quais só resultou um “remendo periclitante de uma placa colocada sobre um buraco, sem qualquer compromisso sério de uma intervenção de restauro apropriada”. O Observador tentou contactar o departamento de comunicação da faculdade. Ao Público, o presidente, Fernando António Batista Pereira, disse que “todas as pequenas anomalias” foram resolvidas entretanto “internamente”, garantindo que as aulas decorrem “com toda a normalidade”, estando a faculdade e tentar acelerar obras em novos espaços para aulas.

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Entretanto, os alunos apontam como consequência das más condições a “evidente falta de espaços de trabalho”, que não acomoda o número “excedente” de estudantes, e que dizem ser resultado de “indiferença, negligência e má gestão” dos  recursos e instalações da faculdade, assim como da desresponsaibilização do Estado e da “escassez orçamental”.

Além disso, prosseguem, se a falta de verbas tem sido argumento para “silenciar e asfixiar” os apelos dos alunos sobre a reparação de salas em “condições críticas”, ao mesmo tempo estão a ser apresentados projetos de “apropriação e transformação” do último piso para passar a ser um restaurante de luxo. Os estudantes também se queixam da instalação de novas câmaras de vigilância que “invadem a privacidade” dos alunos e do subaluguer dos espaços da faculdade para lojas e outros fins.

“O espaço de ensino não está à venda”, rematam, exigindo a “conservação e reabilitação dos espaços”, que dizem estar a ser sacrificada por um financiamento curto e pela prioridade dada à “especulação de investimentos e interesses privados”.

No texto divulgado pelos alunos apontam-se ainda algumas reivindicações específicas, entre elas a reparação das salas cujos tectos caíram e de outros espaços “criticamente degradados”; um levantamento de todos os espaços que têm problemas de estrutura ou acabamento, seguido de um plano de intervenção; uma maior pressão sobre a tutela para um aumento do financiamento; e a remoção de uma das câmaras de vigilância.

Para já, revelou a organização ao Observador, o abaixo-assinado conta com cerca de 300 assinaturas, sendo que continuarão a ser recolhidas até à próxima semana.