Passaram apenas dois anos e meio, parece quase uma eternidade. Quando chegou ao Palmeiras após deixar os gregos do PAOK, numa mudança ponderada que levou a que estivesse antes a estudar a história do clube, os jogadores que teria à disposição e a capacidade que teria para um projeto a médio prazo como nem sempre é normal no Brasil, Abel Ferreira era praticamente um desconhecido. Treinara no futebol sénior o Sp. Braga e os helénicos, só tinha títulos como jogador (quatro no Sporting), arrancava quase com um “peso” de ser um treinador português na terra onde Jorge Jesus chegou, viu e venceu no Flamengo. Hoje, não passo ao lado de nada nem de ninguém, a ponto de ter sido por mais do que uma vez apontado para a seleção brasileira. E era por isso também que todas as atenções estavam este domingo centradas no Allianz Parque.

Uma final de loucos com o vencedor normal do costume: Abel vence Vítor Pereira na Supertaça e soma sétimo título no Palmeiras

Depois de ter começado a temporada com a conquista da Supertaça do Brasil frente ao Flamengo de Vítor Pereira, naquele que foi o sétimo título no Verdão entre duas Taças dos Libertadores, um Brasileirão, uma Taça, uma Supertaça, uma Supertaça Sul-Americana e um Campeonato Paulista, o Palmeiras surgia como um dos principais favoritos à revalidação do título estadual e ainda mais ficou com esse estatuto a partir dos quartos, quando o São Paulo caiu nos penáltis com o Água Santa e o Corinthians perdeu também nas grandes penalidades com o Ituano. No entanto, a “zebra” da prova, o modesto Água Santa, prometia não concluir por aí o sonho e ganhou vantagem na primeira mão da final com uma vitória por 2-1.

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Dois anos, seis títulos, mais história: Palmeiras volta a ser campeão quatro épocas depois e Abel Ferreira ganha o troféu que faltava

“Merecemos perder. Agora temos o jogo em casa para poder dar a volta ou vamos passar uma grande vergonha. Do passado vivem os museus. Nós vivemos de atitude competitiva, de vontade, de continuar com a fome de ganhar títulos. Isso é que temos de demonstrar, uma atitude diferente. Da primeira mão só levamos de bom a oportunidade… Eu defendo a final em um só jogo mas não sou eu que decido isso. Agora temos a oportunidade de levar a decisão para casa e para os nossos adeptos nos ajudarem a reverter este resultado”, comentara Abel após a derrota na Arena Barueri que redobrou a esperança do Água Santa.

Depois disso, as coisas também não melhoraram para o campeão brasileiro, que começou a fase de grupos da Taça dos Libertadores com um desaire fora frente ao Bolívar, num encontro onde o treinador português não contava com um “terceiro adversário”. “Estava no hotel e um hóspede perguntou-me como era possível irmos jogar a esta altitude, se eu não achava que era sofrimento a mais. Não sou eu que organizo: se podemos jogar aqui, é porque podemos sofrer todos dentro de campo. Infelizmente, a Conmebol só lançou o calendário uma semana antes e nós tivemos de organizar esta viagem aos três pontapés…”, lamentou Abel, que adiantou ainda o pedido para que o primeiro jogo da final do Campeonato Paulista fosse mais cedo devido à viagem para a Bolívia, algo que acabaria recusado pelos compromissos televisivos que estavam assumidos.

Era neste contexto que surgia a decisão do segundo título de uma temporada que será ainda longa, tendo em conta que as 38 jornadas do Campeonato Brasileiro (que terão pelo meio a Taça dos Libertadores e a Taça do Brasil) arrancam apenas a meio de abril e irão terminar já em dezembro. E para não haver dúvidas nem deixar para mais tarde o que se poderia fazer logo, bastaram 20 minutos a todo o gás do Palmeiras para “engolir” a grande revelação da prova e garantir a revalidação do título, naquele que foi o segundo troféu da temporada para o Verdão e o oitavo em dois anos e meio com Abel no comando agora com mais um dos jovens que lançou e trabalho, Gabriel Menino, a fazer a diferença para a vitória final.

Apesar de uma entrada onde ainda conseguiu dividir a partida e manter a bola longe da sua baliza, o Água Santa acabou por ser “atropelado” na primeira parte por um Palmeiras que nunca deixou de carregar no acelerador nem mesmo em vantagem: Gabriel Menino inaugurou o marcador na sequência de um livre direto que bateu primeiro na barreira mas foi depois para golo na segunda bola com um remate colocado e sem hipóteses (16′), o mesmo Menino bisou após um trabalho fabuloso de Dudu (que se livrou de uma expulsão antes do intervalo até mesmo após revisão do VAR…) na direita e fez o 2-0 (27′) e Endrick fez pouco depois mais um golo numa recarga após remate de Rony que foi assistido por Gabriel Menino (34′). Acabou por três, podiam ser mais e o Água Santa tinha sido engolido por completo pelo Allianz Parque em delírio, que ainda festejou mais um golo para a festa de José Manuel López de pé esquerdo na área (73′).