As taxas de juro elevadas não irão ser a regra nos próximos anos, acredita o Fundo Monetário Internacional (FMI). Assim que as pressões inflacionistas forem controladas, o mais provável é que os juros voltem para “perto” dos níveis baixos que existiam antes da pandemia, afirma o FMI num relatório divulgado na segunda-feira.

Os economistas Jean-Marc Natal e Philip Barrett, autores do estudo, dizem que quão “perto” desses níveis baixos anteriores à pandemia dependerá da “persistência” das situações de endividamento público elevado, da forma como forem financiadas as políticas de combate às alterações climáticas e, também, a forma como evoluir a chamada “desglobalização”.

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As taxas de juro estavam em níveis baixos – incluindo negativos, na zona euro – antes da pandemia, com as principais economias a tentarem estimular a procura económica e combater o risco de deflação. Com o início da pandemia, as taxas de juro foram reduzidas ainda mais, ao mesmo tempo que foram lançados (ou reforçados) programas de estímulo monetário e compra de dívida pública por parte dos bancos centrais.

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Menos de metade da inflação foi culpa da guerra na Ucrânia, calculam os economistas

Na fase seguinte, à saída da pandemia e até mesmo antes da guerra na Ucrânia, surgiu um surto inflacionista que os bancos centrais estão a combater através do maior aumento das taxas de juro das últimas décadas. Mas, de acordo com os economistas do FMI, este episódio não será mais do que um solavanco na história, a longo prazo, já que “desde a década de 1980 as taxas de juro reais em todas as maturidades e na maior parte das economias avançadas têm vindo a baixar de forma constante“.

“Esta evolução de longo prazo nas taxas de juro reais provavelmente reflete um declínio das taxas de juro naturais, que são as taxas de juro reais que são necessárias para manter a inflação no objetivo e a economia a operar em pleno emprego – sem que a política monetária seja contracionária nem expansionista”, explica o FMI.

É neste contexto que o FMI acredita que “os recentes aumentos nas taxas de juro serão, provavelmente, temporários”. “Uma vez que seja possível controlar a inflação, os bancos centrais das economias avançadas devem, provavelmente, voltar a suavizar a política monetária e a trazer as taxas de juro reais novamente para perto dos níveis anteriores à pandemia”.

Esta não é uma visão consensual entre os economistas, já que alguns têm avisado que a pandemia gerou uma pressão inflacionista que será duradoura e os acontecimentos geopolíticos também irão contribuir para uma “desglobalização” que irá, acreditam, inverter as pressões deflacionistas que a globalização criou nas últimas décadas. Outro fator apontado pelos economistas céticos da inflação baixa está ligado às metas ambientais e os grandes investimentos e alterações económicas que esse movimento irá provocar, encarecendo o custo de vida de forma duradoura em alguns setores de atividade.