Pedro Santana Lopes não rejeita uma candidatura à Presidência da República e considera que, no espaço de centro-direita, é difícil haver alguém com um melhor currículo. Ainda assim, admite que Marcelo Rebelo de Sousa é “irrepetível” e que o próximo chefe de Estado terá de enfrentar um “tempo novo”.

“Não vejo ninguém com maior ou melhor currículo do que eu no espaço do centro-direita [para ser Presidente da República], mas não estou para aí virado”, disse durante o programa Grande Entrevista da RTP3. Para logo a seguir se contradizer quando questionado se pode mudar de ideias: “Posso estar” ou, mais à frente, “não sou hipócrita, admito que sim”.

Numa avaliação a si próprio, justificou a afirmação com o facto de não ter nada que o impeça e até brincou, notando que “ajudam os cabelos brancos” e o facto de “já não ter 30 anos” — garantiu ainda que na rua o abordam sobre o tema.

E, apesar de sublinhar que não se pode ser “presunçoso” e que “nunca são favas contadas”, Santana Lopes recordou que “quase todos os Presidentes da República tiveram momentos difíceis”, uma referência ao facto de ter sido primeiro-ministro de um governo que acabou dissolvido por Jorge Sampaio.

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O presidente da câmara de Figueira da Foz afirmou igualmente que, “para o ano”, devem começar a ser conhecidos candidatos às presidenciais e disse até que “já andam aí a pôr a cabeça de fora, uns com mais timidez, outros com menos”.

Ainda que não coloque o desafio de parte, também reconheceu que será preciso um “balanço profundíssimo” quanto à era de Marcelo Rebelo de Sousa. “O próximo Presidente da República vai ter uma grande dificuldade pelo o estilo único e incomparável… é irrepetível (…) dá a sua opinião sobre tudo”, frisou, realçando que tem uma “popularidade enormíssima e que no segundo mandato assumiu que tem de fazer frente à maioria absoluta”.

Durante a entrevista, Santana Lopes disse ainda que “é evidente” que Santos Silva “está a trabalhar” para ser candidato a Belém e aponta a Leonor Beleza por ser um “nome excelente”. “Há pessoas com grande currículo internacional ou na alta finança, o meu currículo é feito em Portugal e junto dos portugueses, o que é uma grande vantagem”, sublinhou, frisando que é “preciso pensar com antecedência”.

“Prefiro governo do PS do que governo com o Chega”

Pedro Santana Lopes considera que “quem tem dado força ao Chega é o PS” e afirma que preferia a continuidade de uma governação socialista do que um governo com o partido de André Ventura — mas olha para um cenário de apoio parlamentar com outros olhos.

“Um governo do PSD com um partido como a IL é o mais natural, com o Chega é uma questão mais complexa que na altura se verá”, começou por dizer o ex-primeiro-ministro, frisando que é “bom que o PS diga se viabiliza, se não quer um governo com o Chega, um governo minoritário do PSD”.

E acrescentou: “Prefiro que governem os partidos em que me revejo mais na sua ideologia, no pensamento político. Prefiro um governo do PS mesmo com erros do que um governo [do PSD] com o Chega, apoiado pelo Chega é diferente.”

Ainda assim, Santana Lopes tinha olhado pouco antes para a geringonça, sublinhando que “o PCP e o Bloco fizeram um percurso de inclusão democrática”: “Diz-se que o PSD pode fazer governo, mas não aceitar as políticas do Chega. Então, o PS fazer um governo com o PCP e com o BE que são contra a NATO, a UE não é mau? Eles disseram que não iam falar do tema, se André Ventura disser que não fala mais sobre nenhuma etnia, não defende posições… o problema de André Ventura são os parceiros (…) foi do PSD, nunca o vi defender uma ditadura”.

“Irrita-me que a esquerda em Portugal tenha direito a coisas que a direita não tem. (…) Não gosto que a esquerda fale do alto de um púlpito da moralidade”, insistiu.