É o mais recente capítulo da batalha legal do príncipe Harry contra a empresa de média News Group Newspapers (NGN), de Rupert Murdoch. Num testemunho escrito apresentado em tribunal esta terça-feira, o duque de Sussex afirmou que a Rainha Isabel II ameaçou avançar com procedimentos legais contra a NGN sobre o caso de telemóveis pirateados no seio da família real britânica, esforços que terão sido minados pelo então Príncipe Carlos que queria garantir o apoio do jornal tabloide para a sua ascensão a rei ao lado de Camila.

O príncipe Harry revelou, segundo o The Guardian, que em 2017 decidiu obter um pedido de desculpa da parte da empresa de Murdoch pela invasão dos telemóveis, tendo recebido o apoio do irmão e da própria Rainha. “O William foi muito compreensivo, solidário e concordou comigo. Sugeriu que pedisse permissão à ‘avozinha'”, explicou. “Falei com ela pouco depois” e disse algo como: ‘Está satisfeita por eu avançar com isto, tenho a sua permissão?’. Ela respondeu ‘sim'”.

Garantido o apoio da monarca, Harry disse ter pedido aos advogados da família real para escreverem aos executivos de Murdoch (Rebekah Brooks e Robert Thomson) para procurar uma resolução para o caso. “Infelizmente, apesar dos esforços, tanto Robert Thomson e Rebekah Brooks continuaram a ignorar os nossos pedidos”, indicou no testemunho apresentado ao Supremo Tribunal.

Foi perto da data do seu casamento com Megan Markle, em maio de 2018, que foi informado de que nada havia a fazer e que o NGN não estava nessa altura em posição para pedir desculpas à Rainha e aos restantes membros da família real “porque, se o fizessem, teriam de admitir não só que o News of the World estava envolvido nos atos de pirataria, mas também o The Sun”. Isso era algo impensável uma vez que a empresa de Murdoch sempre negou que tivessem ocorrido atividades ilegais neste tabloide britânico, garantindo que se limitaram ao News of The World, agora extinto.

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Segundo Harry, o Rei Carlos, na altura ainda príncipe, acabou por intervir e exigiu que parassem os processos legais contra os jornais britânicos que acabaram por ser arquivados no final de 2019. “Fui convocado ao Palácio de Buckingham e foi-me dito que tinha de abandonar todas as ações legais porque tinham um efeito negativo em toda a família”. O verdadeiro motivo? Garantir que o The Sun, um dos jornais mais lidos do Reino Unido, apoiava a ascensão de Carlos ao trono e o papel de Camila como Rainha consorte, segundo o testemunho divulgado.

“Agora compreendo o porquê dos funcionários da Clarence House [representam Carlos e Camila] não ajudarem e  bloquearem todas as nossas jogadas, uma vez que tinham uma estratégia de longo prazo para manter os média do seu lado, a fim de facilitar o caminho para a minha madrasta ser aceite pelo povo britânico como Rainha consorte quando o momento chegasse”, afirmou. “Tudo o que pudesse perturbar esse resultado deveria ser evitado a todo o custo”.

Príncipe Harry diz que William recebeu “quantia elevada” em acordo com empresa de Murdoch

No testemunho divulgado esta terça-feira, Harry disse ainda que o príncipe William terá recebido uma “elevada soma” de dinheiro do grupo de média britânico de Rupert Murdoch, num acordo secreto para resolver discretamente as acusações de que telemóveis da família real tinham sido pirateados.

Os detalhes deste acordo foram divulgados com base em documentos apresentados em tribunal pela equipa jurídica do irmão, o príncipe Harry.

O duque de Sussex está a processar no Tribunal Supremo de Londres o News Group Newspapers (NGN), de Rupert Murdoch, por alegados atos ilegais cometidos por jornalistas do The Sun e do já extinto News of the World, segundo a agência Reuters.

Harry acusa a família real britânica de colaborar com a imprensa para proteger a sua imagem pública. Numa numa declaração de 31 páginas entregue em tribunal, e citada pela agência Reuters, revelou que o “acordo secreto” envolveu o Palácio de Buckingham e os responsáveis seniores do NGN. Disse ainda que a acusação do irmão que recaía sobre a empresa de Murdoch terá ficado resolvida em 2020 com a receção de uma “elevada quantia monetária sem que o público fosse informado”.

“Isto prova a existência de um acordo secreto entre a instituição e os executivos da NGN”, afirmou, citado pela agência de notícias norte-americana.

Em 2012, o grupo de media de Murdoch emitiu um pedido de desculpas pela invasão generalizada levada a cabo por jornalistas do News of the World, publicação que o empresário acabou por fechar.

O caso contra o NGN surge numa altura em que no documentário “Harry & Meghan”, da Netflix, e no seu livro de memórias, “Spare”, Harry já tinha acusado os tabloides britânicos de atividades ilegais e a própria família de ter colaborado com eles para proteger a reputação.

“Eles mentiram para protegerem o meu irmão”. Harry lança farpas à imprensa britânica em novo trailer do documentário da Netflix