Não era algo raro, também não era o mais comum. Entre 2001/02 e 2015/16, o Sporting conseguiu chegar à Final Four da Liga dos Campeões de futsal em quatro ocasiões, alcançando por uma vez o jogo decisivo com uma derrota frente ao Montesilvano em 2011. A partir daí, tudo mudou. O que não era assim tão comum foi passando a regra, a regra tornou-se quase uma obrigatoriedade e, nas últimas sete edições da prova, os leões estiveram em seis ocasiões entre os quatro melhores da Europa, chegando por cinco vezes à decisão com duas vitórias (Kairat Almaty e Barcelona) e três derrotas (duas com o Inter FS, uma com o Barcelona). No entanto, nem tudo era igual nesta edição para o campeão nacional. E havia até mais do que uma diferença.

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Diferença 1: o adversário que teria pela frente. De uma forma ou outra, o Sporting foi encontrando sempre uma das melhores equipas de Espanha ou os campeões do Cazaquistão ou da Rússia (na última temporada o opositor foi o ACCS Paris mas porque entrou no lugar do representante russo devido às sanções da UEFA), tendo agora um Anderlecht que apostou forte no futsal e que conseguiu eliminar o ainda campeão em título Barcelona na fase anterior. Diferença 2: o momento que a equipa atravessava. Além de alguns deslizes que foi tendo no Campeonato, o Sporting, que somou várias competições nacionais consecutivas, caiu nas meias da Taça da Liga com a Quinta dos Lombos e perdeu a final da Taça de Portugal com o Benfica. Agora, as meias da Champions iriam mostrar se tinha sido um período menos conseguido ou algo mais do que isso.

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“Um dos maiores perigos é não olharmos para o Anderlecht como a grande equipa que tem e que ainda não perdeu esta época. O facto de terem uma Liga menos competitiva é apenas um fator de distração para nós e não me parece que seja um fator que vá ser determinante. Determinante é a nossa atitude competitiva, o que conseguimos anular no jogo e nas qualidades do Anderlecht e conseguir colocá-los em dificuldades”, comentara o técnico leonino Nuno Dias na antecâmara da primeira meia-final em Palma de Maiorca.

“Além da qualidade, que é bastante, há jogadores que são como o vinho do Porto. Há casos na nossa equipa também mas olhamos para o Anderlecht e tem jogadores como o Gréllo, o Diogo ou o Edu, com muita experiência e que jogam cada vez melhor. Essa qualidade individual é preocupante para nós. Fazem muitas coisas bem feitas e a estratégia tem coisas parecidas ao que fazemos. Apesar de ser a primeira vez que o clube participa nesta Final Four, os jogadores não, muitos sabem o que isto é”, acrescentara perante um plantel dos belgas que tinha um antigo jogador dos leões (Diogo), dois ex-jogadores do Benfica (o brasileiro Roncaglio e o português Cristiano) e vários outros internacionais por Brasil, Argentina, Azerbaijão ou Sérvia. Contudo, aquilo que se previa equilibrado tornou-se desigual logo nos minutos iniciais e o Sporting chegou com uma tranquilidade bem maior do que se pensava à final, onde terá o Benfica ou o Palma Futsal como adversário, no dia em que o capitão João Matos fez história com o 75.º jogo na Champions e o 18.º em fases finais.

Os primeiros cinco minutos praticamente sentenciaram a partida, com uma entrada que conjugou a melhor versão do Sporting com o pior que o Anderlecht podia ser. A isso juntou-se uma eficácia assinalável, com um desequilíbrio inesperado perante os ataques de nervos de Luca Cragnaz no banco dos belgas: Tomás Paçó acertou no poste numa bola parada (1′); Cavinato inaugurou o marcador numa reposição lateral de Merlim onde se colocou no meio do quadrado defensivo contrário (2′); Tomás Paçó aumentou a vantagem de novo após reposição lateral mas com um remate forte ao segundo poste (3′); Alex Merlim fez o 3-0 numa jogada individual pelo meio com um tiro indefensável (4′); e Edu marcou na própria baliza depois de uma iniciativa de Pany Varela pela esquerda (5′). Grelló, na única oportunidade de perigo do Anderlecht, ainda acertou no poste mas seriam de novo os leões a ameaçar também o golo com Zicky a atirar também ao poste.

Tudo o que fosse bola parada, a partir de faltas ou reposições, era automaticamente uma oportunidade de golo, como voltou a acontecer no 5-0 de Neves, a surgir de forma oportuna ao segundo poste a desviar da melhor forma uma assistência de Pany Varela (7′). Ainda assim, o Sporting “atropelava” o Anderlecht da mesma forma em bola corrida, com a rotatividade de Nuno Dias a encontrar sempre formas de chegar com perigo à baliza de Roncaglio, guarda-redes que evitava que a desvantagem fosse ainda maior até Erick fazer o melhor golo num pontapé de moinho na primeira vez que Guitta subiu para um 5×4 (12′). Depois de uma paragem técnica, que passou a colocar Roncaglio mais vezes em situações 5×4 com bola, a formação belga foi conseguindo equilibrar um pouco mais a partida mas o intervalo chegaria com o 6-0 no marcador.

Como seria de esperar, o segundo tempo teve menos motivos de interesse, apesar das várias oportunidades para os leões aumentarem a vantagem, incluindo mais uma bola na trave de Diogo Santos, antes de Jevlocic reduzir o marcador numa jogada em que Erick não conseguir aliviar a bola nas contas de Tomic (26′). Esse seria apenas um momento a contrariar a lógica, com os leões a “despertarem” e a aproveitarem mais uma reposição lateral de Alex Merlim para fazerem o 7-1 por Neves (29′), que mantinha aquela que era aí a maior vitória verde e branca numa Final Four, superando mesmo o 8-3 ao Dina Moskva na atribuição do terceiro e quarto lugares de 2015 e o 6-1 nas meias-finais de 2018 com os húngaros do Gyor, numa fase em que Bernardo Paçó já tinha entrado, e bem, para a baliza leonina. O Sporting vai agora defrontar o vencedor do jogo desta noite entre o anfitrião Palma Futsal e o Benfica, sendo que existe essa possibilidade de haver pela primeira vez na história uma final da Champions de futsal 100% portuguesa.