Cerca de 20 milhões de britânicos assistiram em directo à coroação do novo monarca do Reino Unido, Carlos III, mas só nos EUA foram 85 milhões os que acompanharam os momentos mais marcantes da cerimónia. E muitos até podem ter notado que o Rei utilizou duas carruagens distintas nos dois percursos que realizou durante o desfile, mas é menos provável que conheçam as diferenças entre elas, bem como os motivos que levam a que uma seja detestada por todos os monarcas que já a utilizaram, enquanto a outra é muito mais apetecida.

A Gold State Coach é a carruagem real mais conhecida e com mais história, tendo sido construída em 1762 e utilizada em todas as coroações desde 1831. Com 7 metros de comprimento e uns generosos 3,7 metros de altura, esta carruagem é extremamente pesada, rondando as 4 toneladas. Isto torna impossível, mesmo se puxada por oito garbosos cavalos, ultrapassar a velocidade de um homem a passo.

A Gold State Coach, que é o principal veículo tradicional da coroa puxado por cavalos, tendo sido estreada por Jorge III em Novembro de 1762, foi a escolhida para trazer Carlos III de regresso a Buckingham, já coroado Rei. E só não foi igualmente utilizada na primeira fase do trajecto por se tratar de uma carruagem extremamente desconfortável.

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Isabel II, mãe de Carlos III, acusou o mais belo e valioso veículo histórico da coroa – que terá custado cerca de 2,5 milhões de euros a construir, valores corrigidos à data – de ser “horrivelmente” desconfortável. Todos os seus antecessores torceram o nariz em relação à possibilidade de utilizar a carruagem, tendo existido mesmo alguns que não hesitaram em deixar claro a sua opinião em relação ao conforto proporcionado. A Rainha Vitória queixou-se do facto de a Gold State Coach a submeter a “uma angustiosa oscilação” e mesmo o Rei William IV, o primeiro monarca que recorreu à dourada carruagem para a sua coroação em 1831, comparou a deslocação a “uma viagem a bordo de um navio balançando num mar agitado”.

Em vez da “horrível”, uma carruagem com ar condicionado, vidros eléctricos e amortecedores

Se a Gold State Coach foi utilizada no percurso de regresso a Buckingham, no trajecto inicial, aquele que levou Carlos do Palácio de Buckingham à Abadia de Westminster, onde decorreu a cerimónia, o novo monarca deslocou-se numa outra carruagem, igualmente bela, mas com menos dourados e mais pequena (apenas 5,5 metros de comprimento) e substancialmente mais leve, com 2750 kg em vez de 4 toneladas, por recorrer a algumas partes em alumínio.

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Denominada Diamond Jubilee State Coach, esta carruagem é um verdadeiro Bentley quando comparada com a Gold State, construída há 261 anos. Foi concebida e fabricada na Austrália, onde custou 230.000€, a valores de hoje, tendo sido oferecida à Rainha Isabel II em 2014 para o seu jubileu de diamante.

Além de mais pequena e mais leve, a nova carruagem é muito mais sofisticada. Para começar está equipada com amortecedores, vidros eléctricos e sistema de ar condicionado, para manter o interior frio ou quente, consoante a vontade da realeza a bordo. E esta comodidade num país que consegue ser bastante frio durante o Inverno, como o Reino Unido, não é de menosprezar. Isabel II recordou em várias ocasiões que, durante a sua coroação em 1953, o frio dentro da Gold State Coach era tal que se viu obrigada a deslocar-se até Westminster acompanhada de uma botija de água quente debaixo do banco, para a ajudar a combater o frio que se fazia sentir.

Apesar de ser menos glamorosa, exuberante e com menor quantidade de revestimento dourado do que a Gold State Coach, a Diamond Jubilee State Coach é a preferida da realeza para as suas deslocações oficiais, pelo maior conforto que assegura. E a carruagem mais nova continua a ter vantagem em relação à mais antiga mesmo depois do responsável pela manutenção das carruagens reais ter descoberto recentemente que as cintas em couro que prendem a Gold State Coach à estrutura apresentavam dimensões diferentes entre si. Isso incrementava o balancear, o que muito provavelmente acontecia há mais de dois séculos, aumentando o desconforto. Mas mesmo após esta reparação, o conforto a bordo continua a deixar muito a desejar.