Não há propriamente muitas coisas em que possamos olhar para o currículo de Telma Monteiro e digamos “olha, falta isto”. Na verdade, a melhor judoca nacional de todos os tempos ganhou praticamente tudo e até mesmo essa “obsessão” com uma medalha olímpica foi cumprida com o bronze conseguido nos Jogos do Rio de Janeiro em 2016. No entanto, e entre dezenas e dezenas de vitórias nacionais, europeias e mundiais, ainda havia uma margem para conseguir um bocadinho mais, mesmo que isso fosse desafiar uma fronteira entre o muito difícil e o quase impossível. E uma dessas oportunidades chegava agora em Doha.
Depois de ter falhado os últimos Mundiais no Usbequistão por lesão, Telma Monteiro, que ponderou e muito a continuidade na modalidade após a eliminação na fase preliminar dos Jogos Olímpicos de Tóquio antes de decidir dar uma nova hipótese a si mesmo em Paris-2024, apresentava-se no Qatar como uma outsider pelas medalhas na categoria de -57kg pelos resultados alcançados até ao momento e pela fase que algumas das principais adversárias atravessavam. Passando a fase preliminar, que poderia ser o mais complicado, essa possibilidade de medalhas estava em aberto. Até o ouro, um dos poucos pódios que ainda não tinha na carreira depois de quatro pratas em 2007, 2009, 2010 e 2014 e um bronze em 2005.
“Cabeça fria, coração quente”, escrevia a atleta de 37 anos do Benfica na antecâmara da estreia naquele que era o terceiro dia dos Mundiais de judo que até aqui não tinham corrido da melhor forma a Portugal a não ser pela estreia positiva na prova de Raquel Brito que foi aos oitavos dos -48kg. E eram muitos os elogios à judoca nacional pelos próprios comentadores que iam fazendo a transmissão, que já não conseguiam somar o número de medalhas em Europeus (15, seis de ouro) e diziam que era uma das judocas mais experientes da categoria que já tinha também um pódio olímpico. Contudo, o sonho de Telma terminou cedo.
Catarina Costa e Rodrigo Lopes ‘caem’ nos combates de estreia dos Mundiais de judo
Isenta da primeira ronda, a judoca nacional, atual 11.ª do ranking mundial, poderia ter pela frente a polaca Julia Kowalczyk, 26.ª da hierarquia que ganhara no duelo entre ambas nos últimos Jogos de Tóquio. Ao invés, acabou por cruzar com a eslovena Kaja Kajzer, 21.ª do ranking, e foi com ela que caiu em menos de dois minutos: numa fase em que a adversária parecia acusar uma lesão no pé esquerdo, e com um shido para cada lado, Kajzer conseguiu bater a portuguesa por ippon, terminando o sonho de Telma Monteiro que tem agora como principal objetivo chegar da melhor forma aos seus últimos Jogos Olímpicos em Paris.