Às vezes nem se trata tanto das medalhas mas do percurso dos judocas na procura dessas medalhas. Portugal tem um histórico positivo recente em Campeonatos do Mundo, que teve prolongamento no ano passado com o bronze de Bárbara Timo após a vitória de Jorge Fonseca e do bronze de Anri Egutidze em 2021 e do ouro de Jorge Fonseca e da prata de Bárbara Timo em 2019, mas costuma sobretudo apresentar um leque de atletas capazes de ir passando rondas na fase preliminar até chegar ao quadro de discussão de pódios. Este ano, e até agora, tudo estava a ser ao contrário. Catarina Costa foi afastada no primeiro combate, Telma Monteiro caiu no primeiro combate, Bárbara Timo tinha todas as condições para ir longe mas perdeu no segundo combate e Raquel Brito acabou por ser a melhor surpresa em -48kg ainda que longe das medalhas. Também por isso, e com Jorge Fonseca afastado por lesão, era em Patrícia Sampaio que se centravam as atenções.

O coração estava quente, a cabeça não ficou fria: Telma Monteiro cai no primeiro combate dos Mundiais

Depois de um ano de 2022 frustrante com algumas lesões e o problema com gravidade contraído nas meias do Campeonato da Europa, a judoca da Sociedade Filarmónica Gualdim Pais teve um arranque de 2023 com os melhores resultados possíveis: vitória no Grande Prémio de Portugal, celebrada com muita emoção por ter sido um triunfo com família e amigos por perto; quinto lugar no Grand Slam de Paris; medalha de bronze no Grand Slam de Telavive; medalha de bronze no Grand Slam de Tashkent; e medalha de bronze no Grand Slam de Antalya. Em dois meses, quatro pódios e uma garantia clara de que poderia ter condições para ganhar a qualquer adversária, incluindo a alemã Anna-Maria Wagner, antiga vice-líder do ranking de -78kg que eliminou a portuguesa naquela que foi a sua primeira participação nos Jogos Olímpicos em Tóquio.

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Não foi aos 11 segundos, foi um minuto depois: Patrícia Sampaio ganha bronze em Antalya e conquista quarta medalha em dois meses

“Os meus objetivos para este ano passam por ter uma medalha no Campeonato da Europa, chegar ao top 10 do ranking mundial e lutar por uma medalha no Mundial. São objetivos que tenho a noção que consigo alcançar”, destacara na antecâmara da competição em Doha a judoca de 23 anos que foi também convidada do programa “Nem tudo o que vai à rede é bola” da Rádio Observador. Contas feitas, os resultado permitiram que subisse ao 11.º lugar do ranking e que fosse a portuguesa com melhor ranking de qualificação olímpica, onde está na sexta posição. Seguia-se a luta por aquele que poderia ser o primeiro pódio num Campeonato do Mundo de seniores no penúltimo dia de provas, após ter sido por campeã europeia no escalão de Sub-23.

[Ouça aqui a entrevista a Patrícia Sampaio no “Nem tudo o que vai à rede é bola” da Rádio Observador]

“Ainda sofremos represálias mas já vemos a luz”: entrevista à judoca Patrícia Sampaio

Nesse caminho, Patrícia Sampaio sabia que, em condições normais, poderia cruzar com a líder da categoria de -78kg, a italiana Alice Bellandi. Antes, Emma Reid, britânica que ocupa o 20.º lugar do ranking, seria a primeira adversária depois de ambas ficarem isentas na primeira ronda. O combate demorou menos de dois minutos mas desde início que se percebera a vontade com a portuguesa entrou no tatami, chegando de forma natural ao ippon que lhe valeu a passagem à ronda seguinte frente a Yunseon Lee, 72.ª do ranking que vencera à norte-americana Nicole Stout (67.ª). No entanto, o duelo com a sul-coreana foi diferente, com a portuguesa a sentir dificuldades em impor o seu judo até perder por castigos após oito minutos de combate.