Sevilha está no sul de Espanha e no centro dos segredos melhor guardados. O Estádio Ramón Sánchez-Pizjuán é para a equipa que faz dele casa um lugar diferente quando os jogadores que nele se defrontam usam as insígnias da Liga Europa nas camisolas, porque no sítio onde os sonhos dos sevilhistas se mantém de pé, os adversários escorregam. O clube andaluz conquistou um bilhete para entrar de novo na história. “A Juventus vai saber o que é um manicómio no meio do inferno”, escreveu o grupo ultra do Sevilha, Biris Norte, em comunicado. “Temos que conseguir que os italianos, desde o momento em que subirem ao relvado, se arrependam de terem escolhido ser futebolistas e que lhes tremam as pernas cada vez que tiverem que controlar a bola o fazer um passe”.

As bancadas emanavam a energia que o Sevilha precisava para esquecer o golo sofrido praticamente quando estava no limite das forças que a equipa tinha disponível para a primeira mão das meias-finais da Liga Europa frente à Juventus. Praticamente no último lance do jogo, a equipa italiana anulou a vantagem que os espanhóis já estavam a contar em levar para o segundo jogo. Federico Gatti empatou a partida (1-1) nos momentos finais, nivelando o marcador face ao domínio inicial dos sevilhistas.

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O Sevilha começava de novo em vantagem. Não na eliminatória propriamente dita, mas porque o ambiente era favorável. Os adeptos a torcer e não só. O contexto ajudava. Não deixava de ser uma oportunidade para atingir uma final que podia salvar uma temporada que, a nível interno, não foi boa. Ao mesmo tempo, uma vez garantido o acesso à partida, o Sevilha jogava com o facto de nunca ter perdido uma final da Liga Europa (e da Taça UEFA) das seis em que participou. “Ninguém a quer como nós”, dizia a coreografia dos adeptos, referindo-se ao troféu que tão bem conhecem. Mal sabiam que no final iam perceber que a distância entre o “querer” e o “poder” não é assim tanta.

“Espero que os rapazes me ofereçam uma ida a Budapeste [onde se disputa a final], nunca estive lá. Mas como se diz em Itália, o futebol foi inventado pelo diabo”, projetou Massimiliano Allegri, treinador da Juventus. “Isto é uma oportunidade. O Sevilha é uma boa equipa e em Turim jogou muito bem. Começámos bem, sofremos uma golo que podíamos ter evitado, mas estivemos melhor na segunda parte. O Sevilha vai ter o empurrão dos seus adeptos, mas estamos prontos, sabendo que o duelo pode durar 120 minutos”.

Do lado do Sevilha, o técnico José Luis Mendilibar, comentou o melhor momento da equipa esta temporada no qual em 11 jogos perdeu apenas um. “Isto não é carregar numa tecla. Isso seria fácil. Tocas em todas e acertas em algumas”, começou por dizer. “O que exigimos aos jogadores não são raízes quadradas, são somas e subtrações. Se o fazes bem, tem muito a ganhar. Os jogadores viram que a simplicidade também dá resultados. Às vezes, eles querem fazer coisas difíceis e lembras-lhes como estavam antes”.

Na primeira mão, a cadência do jogo mudou a favor da Juventus assim que Allegri lançou Samuel Iling-Junior no encontro. Desta vez, o treinador da Vecchia Signora não esperou 45 minutos para o fazer, escolhendo o extremo para o onze inicial naquela que foi uma das cinco alterações que operou face à primeira partida. Por seu lado, Mendilibar não fez qualquer mudança.

O raciocínio de Sevilha e Juventus, mesmo no meio de tanta emoção, começou por ser um jogo sem pés, mas com cabeça. Gatti bem tentou voltar a marcar, só que Bono aprendeu a lição e, desta vez, conseguiu defender o remate que, a julgar pela força que levava, tinha as rugas da testa do central italiano marcada na bola. Respondeu de forma semelhante Ocampos. Mergulhou na relva para que o guarda-redes da Juve, Szczesny, fizesse de barragem e os esférico não transbordasse para lá da linha de golo onde o polaco a travou.

O Sánchez-Pizjuán passou a ser uma garrafa com o líquido a meio que, quando a entortam, o conteúdo no seu interior balança de uma ponta à outra. De um lado, Di María tentou o chapéu que daria o golo à Juventus, do outro, Acuña foi menos refinado e experimentou uma bomba. Depois, Kean acertou no poste e Ocampos enfrentou de novo Szczesny.

Nenhuma das duas equipas conseguia ter um jogador que servisse de tampão e evitasse as constantes transições. Um dos que o podia fazer do lado da Juventus, Fagioli, saiu inclusivamente lesionado. Na ressaca, da substituição que trouxe Paredes a jogo nos bianconeri, Rabiot marcou, mas o lance foi anulado por fora de jogo. No ping pong de acontecimentos relevantes, na outra área, Cuadrado cometeu uma falta garrafal sobre Óliver Torres. O árbitro, Danny Makkelie, viu, ouviu o VAR e decidiu não assinalar grande penalidade, provavelmente por ter considerado que o contacto se deu fora de área mesmo que a proximidade com a linha tenha deixado dúvidas.

Depois do intervalo, o ‘jogo-espelho’ continuou. Até a desfazerem-se em cascata as equipas se assemelharam. Com o decorrer dos minutos, os treinadores começaram a fazer mudanças. A Juventus lançou Vlahovic e o Sevilha lançou Suso. Pois bem, foram os jogadores vindos do banco que deixaram marca d’água nos golos. O sérvio usou os primeiros dois minutos dentro do campo para fazer um remate picado por cima de Bono que acabou no fundo das redes (65′). Os bianconeri colocaram-se em vantagem após remates perigosos de Rabiot e Bremer. O empate chegou logo depois com um remate forte de fora de área do espanhol (72′) que era impossível passar pelos pingos da chuva tamanha a monumentalidade.

Bryan Gil e En-Nesyri foram os que mais tentaram evitar 30 minutos extra de futebol. Os defesas da Juventus cumpriram o seu papel e Szczesny superou-se. O polaco agarrou-se ao 1-1 com que terminou o tempo regulamentar. Teria bastado que Lamela (94′) tivesse feito o que fez de cabeça assim que se abriu a torneira do prolongamento e não era preciso jogar para lá da hora. Concretizada a reviravolta, o Sevilha tem encontrou marcado na final de Budapeste com AS Roma de José Mourinho para tentar a conquista da sétima Liga Europa, onde não vai poder contra com Acuña que acabou a meia-final expulso.