A esmagadora maioria dos elementos da equipa médica do Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina da Reprodução do Hospital de Santa Maria mostrou “preocupações” relativamente ao plano de obras e ao “pré-anunciado encerramento” do serviço a partir de 1 agosto.

Numa carta revelada pelo jornal Público e à qual o Observador teve acesso, 34 dos 37 profissionais de saúde manifestaram ainda o “desagradado” pela forma como a equipa “se sentiu pressionada para assegurar a colaboração com o Hospital de São Francisco Xavier, mesmo antes de se conhecerem as instalações disponíveis”.

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Nos cinco pontos da missiva, os médicos destacam preocupação com “a diminuição da resposta assistencial conjunta na assistência ao parto com a deslocação” dos blocos de partos e das urgências obstétricas do Santa Maria para o São Francisco Xavier devido à existência “de apenas 11 salas de partos (2 a menos do que as necessárias) e 38 camas de Puerpério (16 a menos do que as necessárias)” no último estabelecimento de saúde referido.

“Isto deverá resultar num maior número de períodos de sobrelotação das instalações, reduzindo a resposta conjunta na assistência ao parto em cerca de 25%, o que corresponde a cerca de mil partos anuais”, alertam os médicos na carta que tem como destinatários o diretor clínico do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, a presidente do Conselho de Administração do mesmo centro e o diretor executivo do SNS, Fernando Araújo.

Além das questões técnicas dos hospitais, os médicos referem ainda uma maior “dificuldade do acesso da população” pelo facto de o Hospital São Francisco Xavier não ter linha de metropolitano nas proximidades e de “as alternativas de transporte público entre as duas instituições implicarem, no mínimo, a utilização de dois autocarros, num total de cerca de uma hora de viagem”.

Os profissionais de saúde têm ouvido grávidas no Santa Maria a transmitir “insegurança” quanto às alterações anunciadas e notam até que “várias têm manifestado a sua intenção de procurar outras alternativas para a assistência ao parto”.

Por outro lado, também a “coincidência” da alteração do serviço de urgência de obstetrícia na mesma data do arranque da Jornada Mundial da Juventude gera inquietação, tendo em conta que existe um “acréscimo da necessidade de resposta em saúde esperada durante este evento”.

Os membros que assinaram a carta apontam ainda para a “ausência de propostas concretas para assegurar condições hoteleiras com um mínimo de qualidade no internamento de puerpério (pós-parto) do HSM, aquando da previsível abertura do novo bloco de partos”, realçando que “não é benéfico para a imagem do Hospital Santa Maria nem do Serviço Nacional de Saúde oferecer instalações de excelência num novo bloco de partos, sem oferecer no internamento do puerpério condições minimamente ajustadas às expectativas atuais da população”, nomeadamente “um máximo de duas camas por quarto e uma casa de banho em cada quarto”.

Ainda relativamente à manutenção da atividade do Serviço de Neonatologia no Santa Maria, os médicos dizem que “condiciona a necessidade de permanecer diariamente no hospital uma equipa médica para dar resposta às situações obstétricas em que se antevê a necessidade de suporte neonatal”. “Isto implica uma redução importante no número diário de médicos disponíveis para realizar atividade de urgência no Hospital São Francisco Xavier”, alertam.

“A expansão/remodelação prevista para a Urgência de Obstetrícia e Ginecologia/Bloco de Partos (UOG/BP) do Hospital de Santa Maria (HSM) não requer o encerramento temporário do mesmo, como é claro na proposta de financiamento submetida ao “Programa de Qualificação dos Blocos de Partos”. A utilização deste argumento para justificar a colaboração com o HSFX, por não ser verdadeiro, foi mal recebida pela equipa”, pode ler-se na nota onde é referido que para melhorar “a resposta obstétrica, em quantidade e qualidade, é fundamental a remodelação e expansão do internamento do puerpério, setor por onde passam todas as mães e recém-nascidos”.

8 respostas sobre o plano de verão para os blocos de parto e urgências de Obstetrícia