A determinado momento da segunda parte, podia ter caído para qualquer lado. O Sporting conseguiu chegar ao 2-0 com um golo fabuloso de Zicky Té que correu mundo, o Benfica conseguiu chegar ao 2-2 numa reação que começou com um golo numa reposição lateral direta, tudo esteve em aberto até ao final daquele que seria o tempo regulamentar antes do 3-2 para os leões no prolongamento que carimbou em definitivo a vitória no jogo 3. Apesar do equilíbrio, apesar da recuperação dos encarnados, imperou mais uma vez o fator casa que tem ditado leis na decisão do Campeonato de futsal. Com isso, o conjunto verde e branco ficava a um triunfo do terceiro título consecutivo, o quinto nos últimos seis anos e o oitava na derradeira década. De novo com essa nuance, neste caso na ótica dos encarnados: um triunfo na Luz levaria tudo para a “negra”.

Se há obstáculos, Zicky faz túneis: Sporting bate Benfica com golo para a história

“As equipas conhecem-se mas o manancial de opções que cada uma tem é tão grande que podem mudar em todos os momentos do jogo, a cada três dias. Ou seja, podemos ter um Sporting substancialmente diferente, tal como sucede connosco. É o jogo do gato e do rato e temos de jogá-lo da melhor forma, sabendo que as equipas têm muito pouco tempo para treinar. Nesse aspeto, o Sporting tem alguma vantagem, porque tem um processo mais consolidado. O que eu tento passar sempre é que os jogos têm igual importância, independentemente do que conseguimos atingir com a vitória neste dérbi. Sabemos que a única equipa que pode ser campeã no próximo jogo é o Sporting mas não vivemos com essa responsabilidade nas costas, queremos resolver este Campeonato no Pavilhão João Rocha sabendo as dificuldades que vamos ter em casa neste encontro”, comentara Mário Silva, técnico que assumiu o comando do Benfica a meio da época, à BTV.

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“Os jogos são sempre diferentes e este é porque nos dá a possibilidade de sermos campeões já. Até por isso é diferente dos anteriores. Vamos fazer de tudo para terminar já a época. Ser campeões é o nosso grande objetivo imediato. Acredito que vai ser um jogo equilibrado, como foram todos, inclusive o primeiro, apesar de o resultado ter disparado para números com um volume diferente do habitual nos dérbis. Vai haver momentos em que vai estar por cima o Benfica, noutros o Sporting, e essa foi a grande diferença no jogo 2: quando o Benfica esteve por cima, conseguiu marcar. Temos de saber sofrer, na luta e na superação, para não sofrermos golos nesses momentos. Depois, vamos ter de ser eficazes na hora de finalizar. Não há tempo para rotinar as mudanças que se podem fazer, só há tempo para afinar e fazer um ou outro ajuste. É isso que vamos fazer”, explicava Nuno Dias, treinador há mais de uma década do Sporting, ao canal do clube.

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Se um dos pontos que mais surpreendeu no jogo 3 foi o nulo ao intervalo, agora o filme repetiu-se. Aliás, até nas faltas houve quase um empate técnico, com as dez faltas geridas ao longo dos 20 minutos sem passar a fronteira de acesso aos livres diretos. Afonso Jesus deixou o primeiro aviso logo aos 11 segundos depois de um canto, Guitta ameaçou de seguida numa das várias subidas que ambos os guarda-redes foram tendo em situações de 5×4, Zicky Té criou perigo entre a luta titânica que foi tendo com Arthur ou Chishkala, Alex Merlim acertou no poste num lance que nasceu de um remate prensado de Sokolov, Carlinhos atirou a rasar o poste, Jacaré teve uma das melhores oportunidades quando Bernardo Paçó estava na baliza verde e branca mas permitiu a defesa ao jovem guardião quando estava isolado. Tudo continuava na mesma.

Não se pode dizer propriamente dizer que era aquele encontro em que as equipas estavam mais preocupadas em sofrer do que com vontade em marcar mas dentro das ações ofensivas notava-se o especial cuidado em evitar situações em que o adversário saísse com vantagem numérica, algo que aconteceu em raras ocasiões. Seria assim, numa jogada iniciada em Léo Gugiel, que o Benfica chegou à vantagem por Afonso, num lance em que Sokolov ficou para trás na marcação e o internacional atirou de primeira após assistência de Diego Nunes para o 1-0 (23′). Foi uma explosão na Luz, o jogo teve mesmo de parar, os encarnados tinham um pássaro na mão pelo avanço no marcador mas o mesmo voou em menos de um minuto, com Zicky Té a encostar ao segundo poste depois de um passe fantástico de Erick (24′) antes de nova interrupção.

Olhava-se para o relógio, fazia-se as contas e pensava-se que os excessos nas comemorações podiam fazer com que o jogo 4 da final só acabasse no dia seguinte caso fosse a prolongamento e desempate nas grandes penalidades. No entanto, e logo nos dois minutos seguintes, foi o Sporting a ligar mais rápido ao jogo, com Pany Varela a atirar ao lado isolado e Léo Gugiel a conseguir a seguir ganhar o duelo direto a Zicky Té que voltou a aparecer sozinho descaído sobre a esquerda antes da reação do Benfica que teve Chishkala a levar Guitta a nova grande intervenção para canto. Os dez minutos finais chegavam com o empate e tudo em aberto num encontro disputado num contexto frenético, de forma intensa e várias vezes nos limites.

Um golo poderia fazer toda a diferença, sendo que as quatro faltas dos leões pesavam também na forma de defender do Sporting que afundava um pouco mais na quadra. Léo Gugiel e Guitta faziam a diferença, não só quando subiam em situações 5×4 mas quando tinham de manter a baliza fechada, e os minutos passavam sem que a igualdade se alterasse quase que voltando à toada do primeiro tempo em que havia cuidados redobrados para não ser apanhado em situações de desvantagem numérica nas saídas rápidas, como numa jogada em que Diogo Neves atirou ao poste e uns segundos depois Guitta tirou o golo a Jacaré. Sobravam os nervos, os protestos (dos encarnados por uma possível falta de Tomás Paçó sobre Afonso na área, dos leões num lance em que Erick surgiu no chão com o sobrolho aberto) e um 1-1 que se mantinha aos 40 minutos.

Pela segunda vez nesta final havia prolongamento, pela segunda vez houve também Pauleta: num dos raros erros de Léo Gugiel em situações de 5×4, o guarda-redes rematou forte para defesa de Guitta, não conseguiu evitar uma saída rápida com a reposição do brasileiro e o internacional português voltou a marcar em mais um jogo desta final (tivera pelo menos um golo nos três anteriores), colocando pela primeira vez o Sporting em vantagem no jogo 4 (44′). O Benfica teria de arriscar mais, com Mário Silva a lançar Rocha em campo ainda antes do segundo tempo do prolongamento para apostar depois no 5×4 com Bruno Coelho na posição de guarda-redes avançado, colocando o jogo no meio-campo verde e branco até final sem resultados.

Depois da vitória em 2018/19 do Benfica que impediu o primeiro tetracampeonato nacional do Sporting, os leões somam agora novo ‘tri’, somando o sexto título em sete anos e o oitavo na última década, passando a somar o 18.º título de campeão contra oito do rival Benfica, que quebrou em 2022/23 o jejum de títulos que durava há três anos com a Taça de Portugal e a Taça da Liga. E se Pauleta fica como um MVP da final pelos golos decisivos que marcou nos jogos 3 e 4, Guitta, que voltou a ser fundamental ao longo do encontro e até no golo que fechou a final, mostrou que ter o melhor guarda-redes é meio caminho andado para a vitória.