Neste aspeto, Portugal foi uma das poucas exceções entre os países da OCDE: enquanto na maioria, os lucros aumentaram mais do que os custos laborais, a organização calcula que o mesmo não tenha acontecido por cá. Ou seja: “a maioria das empresas não tentou (ou não conseguiu) tirar partido da conjuntura inflacionista para aumentar as suas margens de lucro”, explica a OCDE ao Observador.

No relatório anual sobre emprego (“Employment Outlook”), divulgado esta terça-feira, a OCDE escreve que em “muitos” países da OCDE, “os lucros cresceram mais do que os salários”, contribuindo de forma invulgarmente importante para as pressões sobre os preços e reduzindo o peso do fator trabalho” no PIB.

Portugal é dos poucos países em que, entre o último trimestre de 2019 e o primeiro trimestre de 2023, o custo por unidade de trabalho (que se obtém dividindo a remuneração dos trabalhadores pelo PIB real) subiu mais do que o lucro por unidade produzida (que se calcula dividindo o lucro operacional bruto pelo PIB real). Na média da OCDE, o contrário foi a norma.

Com a conjugação destes dois fatores, Portugal foi o país estudado em que o indicador dos custos reais do trabalho por unidade produzida — que indica o peso dos salários no PIB —, mais subiu.

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Fonte: OCDE

“Os custos reais por unidade de trabalho produzida diminuíram em 18 dos 29 países com dados disponíveis. Entre os restantes países, os maiores aumentos tiveram lugar em Portugal, no Reino Unido e na Lituânia”, escreve a OCDE.

O próprio primeiro-ministro, António Costa, tem apontado os “lucros extraordinários” como o que “tem contribuído mais” para a inflação, em vez das subidas salariais. Foi isso que disse aos jornalistas, em Bruxelas, no final de junho, após o Fórum do Banco Central Europeu, em Sintra, em que Christine Lagarde pediu às empresas que sacrifiquem as margens de lucro para a inflação baixar, acomodando as subidas salariais.

Lagarde atira às empresas: têm de sacrificar margens de lucro para inflação baixar. Os “recados” que a líder do BCE quis dar em Sintra

“Hoje é mais ou menos claro que sobretudo o aumento dos lucros extraordinários têm contribuído mais para a manutenção da inflação do que as subidas salariais”, disse António Costa. Mas os dados da OCDE mostram que a generalidade das empresas em Portugal não terá tentado aproveitar a conjuntura para aumentar as suas margens de lucro.

Questionada pelo Observador sobre se as empresas em Portugal transmitiram os lucros aos trabalhadores na forma de aumentos salariais, a OCDE faz outra leitura: “A expressão correta é, antes, a de que as empresas não repercutiram todos os aumentos de custos em preços mais elevados. Na prática, em Portugal, a maioria das empresas não tentou (ou não conseguiu) tirar partido da conjuntura inflacionista para aumentar as suas margens de lucro, ao contrário do que vemos em muitos outros países”, respondeu a OCDE.